Pus-me aqui a pensar nas conversas que foram trocadas nas MMÁs e de facto nunca falámos mal dos maridos (mesmo que todas tenhamos vontade de o fazer às vezes, como é saudável, e obviamente recíproco, mas não só entre casados, também entre irmãos, amigos, vizinhos, colegas). Acho que uma vez falámos sobre a culpa, mas foi assim uma coisa meio a correr, e cheia de bocas e graçolas pelo meio. De angústia tivemos pouco ou nada (lembrem-me,... se me esqueci de alguma). E na verdade, apesar de não fazermos tapetes de Arraiolos quando nos encontramos, a ideia da geometria temporal de duas horas, da leveza de uma sala sem móveis, da distracção que pode passar apenas pelo facto do não-facto, partilhado, enfim, já me perdi um pouco. Estava eu a falar, a querer dizer que nas MMÁs, sem qualquer combinação ou pacto, e eu juro que não faltei dia nenhum, nunca ouvi um lamento, daqueles que se atiram assim gratuitamente para cima do outro (neste caso a outra), nenhum toma lá a minha angústia que eu já não posso com ela. Pelo contrário. E ainda bem. Porque é essa a ideia. Quando fomos contactadas pela Ana Cristina Gomes, a primeira reacção foi dizer que o projecto ainda nem sequer se tinha estreado e que estávamos a tentar perceber como se construiria. Acerca da dificuldade de se ser mãe, acerca da dificuldade de se ser mãe e mulher, acerca da dificuldade de se ser mãe e mulher e profissional, acerca da dificuldade de se ser mãe, mulher, profissional, amiga, cidadã, vizinha, eleitora e mais que a casa gaste, sim, o assunto era reportável do ponto de vista jornalístico e pertinente, mas que as MMÁs teriam eventualmente sentido para uma pequena caixa, no global do artigo, explicando o objectivos e pouco mais. Perante alguma insistência e confiança nas boas intenções da jornalista, que não estão em causa, acabámos por dizer que sim, telefone, falamos, venha, apareça, mas veja lá como trata o tema, não se esqueça que é a nossa intimidade que está em cima da mesa, a nossa vida muito muito pessoal. Hoje, vejo o título e fiquei logo sem vontade de comprar o jornal, juro. E eu agradeço o desespero que me oferece o texto, mas devolvo, porque não é meu. Donas de Casa Desesperadas, tenha ou não alguma coisa a ver com séries televisivas, não é mesmo o meu filme. Afinal as questões que estiveram na origem de uma vontade de ir ao Domingo jogar à macaca com mais umas mulheres que levam os filhos atracados ou não, e conversar ao som de gritaria infantil e um Funk-Blues-Jazz-Kizomba-Bossa-ou-venha-o-diabo-e-escolha, o que acontece é que esses motivos, esses mesmíssimos motivos que devem ser transversais e variar muito, e pouco, entre os lares doces lares, o que acontece dizia eu, onde é que eu ia? O que acontece (estou a tentar ganhar tempo...sempre o mesmo desespero :-) é que a peça da GR estraçalha o bicho em cima da banca, tira-lhe as vísceras e o efeito dos motivos, a coisa propriamente que todos esperavam ler, o projecto... a opção pela leveza, o investimento na partilha, a descontracção no colectivo, o bom humor, a esperança... onde estão?
Bom, nunca mais me calo. Próxima sessão: terapia de grupo (hard core). Tema: como não desesperar quando o desespero que nos desespere ou não, se torna público? Tragam drinks!
4 comentários:
Mas não venham de carro!
óoooooooo, e perder a oportunidade de ser autuada por um policia jeitoso?
Tenho de pensar melhor, não sei, é uma grande decisão.
Péssima, adoro as tuas onomatopeias!
Olá, conheci-vos pela reportagem da GR. Foi bom saber que não sou a única a adorar os meus filhos e no entanto pensar que ninguém me tinha avisado que ia ser assim.
Sou do Porto e muito preguiçosa, senão também iria às reuniões. E não, não achei que iam lá só para despejar a raiva, as frustrações e o desespero, mas sim para terem um tempo só vosso, a fazer coisas diferentes. No fundo, acho que o que mais nos faz falta é tempo para sermos pessoas, e não apenas mães, aos olhos de quem nos rodeia.
Enviar um comentário