domingo, 5 de março de 2006

A Rapariga de Olhos Fixos


Conheci uma miúda
que se punha a olhar fixamente
para tudo o que via à frente;
era-lhe indiferente.

olhava para o chão,
olhava para o alto,
olhava para ti longamente
se te apanhasse incauto.

mas depois de ter ganho o concurso local de olhar fixamente,
levou os olhos a banhos
para descansarem finalmente.

in A Morte Melancólica do Rapaz Ostra e Outras Estórias, de Tim Burton, Editora Errata
+
Paula Rego, obviamente.

10 comentários:

Mimi disse...

Boas leituras, ã? ;)
Gosto desse livro e gosto dessa editora. Já agora, aplauso para a tradução. A Paula Rego é que não me convence...

péssima disse...

Um exercício bem difícil, o olhar fixamente.
Tem sido um dos meus últimos exercícios, mas ainda estou muito limitada. Um dia chegarei lá.

Marts disse...

às vezes distraio-me de propósito ou a despropósito porque quando olho fixamente desfoco o que vejo e parece-me deixar de ver os contornos das coisas

péssima disse...

e quando isso acontece consegues vislumbrar a essência das coisas.
: )

Isabel Freire disse...

O q é a essência das coisas, pergunto eu?
Qual a essência de um prato, de um orgasmo, de um pesadelo, de uma jante, de uma lâmpada, de um sorriso, de uma gritaria, de um vai-te embora, de um fica aqui, de um copo de água, de uma pinga de mijo, de uma meia suja, de um quadro acabado, de um livro sem sucesso, de um filho abortado, de um toiro toureado, de um presidente faustoso, de uma mulher cornuda (com chapéu de viking), de uma toupeira cega, de uma lapa que perdeu a rocha?

Mimi disse...

VW: como é que consigo arrancar-te de casa para irmos beber um copo e filosofar sobre a essência das coisas? Diz quando. Também me ofereço para baby-sitting com dormida incluída. Dou conta do recaddo.

Isabel Freire disse...

MM: segundas e domingos, das 20h00 às qualquer coisa e um quarto - sempre sujeito a confirmação.
:)
Nos outros dias da semana há sempre a cozinha minúscula para desbundar horas semi-mortas. A propósito de cozinhas e essência das coisas, transcrevo aqui uma frase que encontrei num velhinho diário de faculdade onde anotei verborreia de professores com potencial interesse para o futuro (foi a raposa que deu com o livro, não há nada como ter uma criança em casa para nos achar o que desapareceu).
O episódio foi contado pelo Professor Nuno Ferro:
"Um lógico americano, génio incontestado, aos 4 anos perguntou à mãe:
-Deus está em todo o lado?
-Sim, filho!
-Então quando entro na cozinha, ele sai um bocado para fora, não é?"

Nota do comentador: a 'cozinha' era a 'sala' na versão original.
Se fizermos uma reunião de mmás na minha [cozinha], será com toda a certeza sem a presença de Deus [risinhos meus].
E um pszinho: Há uma lei-seca que proibe leitura de livros de filosofia cá em casa há uma década, mas não invalida ejaculações à priori ou posteriori sobre o sentido do raio-que-nos-pariu.

Quanto ao baby-sitting,... agradeço-te buéééés, só preciso domesticar a fera primeiro.
:)

Mimi disse...

o manel domestica, está descansada...

Isabel Freire disse...

o manel é fixe!

Mimi disse...

muito fixe! manel à presidência!