As ‘mmás’ são um espaço e um tempo para experimentação não isolada. Uma forma de sair do armário da maternidade, com liberdade para que mães, mulheres anónimas, se exponham, se interiorizem, se lembrem, se banalizem, se encontrem, se distanciem, se analisem, se ilibem ou o que bem entenderem.
terça-feira, 18 de abril de 2006
red nails
Quem me conhece sabe que não tenho o hábito feminino de me meter dentro de um cabeleireiro regularmente. Na realidade não sou muito do género de me preocupar com o aspecto físico… bem, está bem, não me preocupo verdadeiramente com quase nada. Não gosto de ir às compras, por isso, quando gosto de uma peça qualquer compro logo duas ou três iguais para não me chatear com outras escolhas e depois uso-as até se romperem.
Mas tudo muda, tudo, pelo menos, durante um breve período de tempo em que me prometo que a partir de agora vou ser diferente, assim tipo a primeira hora de um ano novo. Nestes repentes de vontades decido uma data de coisas que quase nunca cumpro mas que entretanto me sabe bem imaginar que talvez.
Hoje tive um momento desses.
Fico sempre feita papa cada vez que aquele homem me mete as mãos à cabeça. Pronto cá estou eu, aqui me tens, faz de mim o que te apetecer. Entretanto surge uma japonesa que nunca tinha visto por ali (os meus garotos é que são os habituais do sítio). Pequenina, com um ‘soliso de olelha a olelha’ pergunta se um objecto que eu tinha deixado num dos lugares me pertencia “ó, que distraída, obrigada, sim é meu”. Deu meia volta mas voltou-se de seguida com um “não quele alanjále as mãos?”, “??? Anh? Eu? Mãos? Não, não!”, Não?! – pensei eu cá para comigo enquanto me lembrava da história da amiga de uma amiga que sobrevivia à custa de mãos embelezadas: “Quero, afinal quero”. E ali fiquei uns bons dez minutos a saborear massagens no couro cabeludo e nas mãos. É bom, assumi eu esquecendo tudo o que sou quase contra. O costume, perguntou-me o F, o costume, acedi.
Zás-zás-truchque-zás enquanto a menina tratava das minhas mãos. Eu nunca sei o que vai ser o costume, é um código que temos, ele detém os direitos sobre a minha cabeça, faz dela o que bem lhe apetecer no momento, excepto pintar. Confesso que uma vez experimentei e não gostei mesmo nada. Gosto dos ainda poucos cabelos brancos que tenho, são eles que me lembram que existo desta forma e porquê.
De que cole? Vermelho, sim, esse berrante que aí tem.
E pronto, lá saí eu para a rua com menos 20 cm de cabelo e as unhas pintadas de vermelho escarlate. Em piada o F diz-me sempre um ‘até para o ano’ e eu sorrio cá para dentro um ‘até daqui a uns dias’ que nunca cumpro a não ser como acompanhante.
Um destes dias visto um saia-casaco e calço uns sapatos de salto alto envernizados…
Imagem: FRANKLIN BURKE
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5 comentários:
eu hoje vou cortar as minhas.
Eu não preciso, acabei de reparar que lhes tratei da saúde, sem me dar conta.
:(
O Famoso F- do corte anual...no domingo vamos ver resultados....eu continuo na mesma! F....
Aprendi com as crianças que são uma arma. arma boa.
Não dispenso. Posso não fazer mais nada (do tipo pintar olhos boca etc) mas unhas vermelhas ... têm de ser, para me sentir viva, quanto mais não seja!!
As crianças adoram ou pelo menos fixam. Em regra gostam muito.Ainda bem :)
Fui educada por elas, desde pequena e isso tambem foi bom. E ainda é. A minha avó, quero eu dizer...
Durante alguns anos esqueci-me dessa receita miraculosa de sobrevivencia fisica e mental, mas quando dei por mim a trabalhar N horas por dia em frente a um computador percebi no quão estupida a minha vida estava à beira de se tornar e de mim, só via as mãos a digitarem letras e comandos arquitectados de forma automática. Ao que parece, chama-se crescer a esta triste disilusão de darmos por nós a fazer o que tem de ser em vez do que realmente queremos....
Depois de muitas lágrimas lembrei-me do vermelho das unhas da minha avó ... e várias coisas mudaram: as minhas unhas, o meu humor, a capacidade de auto-alegrar com o que faço ... enfim... a auto-estima!!
As unhas vermelhas são uma boa arma.
Ás vezes até acho que são a minha fonte de credibilidade - podem não me levar muito a sério ... mas nas minhas unhas ... todos acreditam!!!
Recomento !!!
E existem pelo menos mais dois pormenores:
... enquanto estão a olhar para as unhas ... não olham para onde não devem ...
... pintá-las (2xsemana, pelo menos)é equivalente a duas meias horas minhas só minhas. Pura Yoga com direito a cigarreta!!!
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