Eu já sabia que ia ouvir isto um dia, mas só esperava lá mais para os dezasseis, ou, se precoce na rebeldia, pelos menos aos catorze...
Mas não.
Do alto dos seus dois anos e meio a L disse, com a clareza de palavras que lhe assiste e que muito nos orgulha: Não quero ir para casa, quero fugir de casa!
Contextualizemos: a opção era ficar dentro do carro, à porta de casa, a acabar de ouvir o CD da carochinha lá pelas 20h30, ainda sem banho e jantar... Era mesmo teimosia, vincada por aquelas palavras que ela ouviu sei lá onde (estou sempre a ficar surpreendida) mas devo dizer que, passada a enorme gargalhada que dei, espontaneamente, tudo aquilo me pareceu muito mal...
As ‘mmás’ são um espaço e um tempo para experimentação não isolada. Uma forma de sair do armário da maternidade, com liberdade para que mães, mulheres anónimas, se exponham, se interiorizem, se lembrem, se banalizem, se encontrem, se distanciem, se analisem, se ilibem ou o que bem entenderem.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
Primeira Vez
Confirma-se. Estou a ficar piegas. Sim, eu sei que a MB faz seis anos este ano (como é que é possível, se nasceu ontem?), mas quando ontem vi que tinha MESMO um dente a abanar e que NÃO, não era fita... dio mio... foi uma emoção que sei lá (como é que é possível, se ainda ontem lhe nasceu o primeiro dente?). E que estupidez é esta de ficar tão emocionada só porque um estúpido dente está a abanar? Abanem-me por favor!
(Pelo meio, olhei de esguelha para a ML, cara de amuo como quem diz "pois, quando é comigo já não ligam nenhuma")
Já repararam que a maternidade multiplica as hipóteses de voltarmos a sentir a emoção da primeira vez?
(Pelo meio, olhei de esguelha para a ML, cara de amuo como quem diz "pois, quando é comigo já não ligam nenhuma")
Já repararam que a maternidade multiplica as hipóteses de voltarmos a sentir a emoção da primeira vez?
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
I.V.G.
Faz hoje uma semana que recebi a notícia da morte de uma tia muito querida. Morreu de enfarte aos 63 anos, deixando, como é natural, todos os familiares em choque. Pelo inesperado fim, pela imensa saudade, pela injustiça que nos parece ser, ficar sem o seu carinho. Porque essa era a pedra basilar que a definia. O carinho que distribuía gratuitamente a quem se abeirava dela.
A vida pouco lhe sorriu. Foi mãe aos 14 anos, fruto de violação. Acabou por casar com outro homem, por conveniência, com quem viveu até ao fim, até ao último sopro.
Aos 33 já tinha 4 filhos e uma vida de trabalho na casa de um dos Sirs que começaram a colonizar o Algarve há uns 40 anos. Essa primeira moradia, construída perto de Lagos, tem court de ténis, piscina, vinha, e muitos metros quadrados de jardim. Uma das salas é maior que o meu T3 e a casa de banho “dos senhores” (como a eles nos referíamos) tem cerca de 30 metros quadrados com uma vista soberba sobre a Meia-Praia. Além dos 4 ou 5 quartos na moradia principal ainda contempla mais 3 alojamentos, um para o filho único, onde fica quando vem de Inglaterra, sozinho ou com os amigos e outros 2 para os criados (a minha tia viveu sempre num deles: sala, cozinha, WC e 2 quartos).
Muitas vezes, e eu era pequena nessa altura, assisti aos preparativos dos jantares que davam, com direito a usar faqueiros de prata e tudo! Para terem uma ideia, a família real passava lá férias. Não sei se ainda assim é.
Curiosamente, na casa da minha tia a comida nem sempre chegava para todos. Digamos que os patrões não eram muito “mãos largas” ao final do mês. Diria mesmo que eram “mãos de vaca”!
Mas voltando ao início...
As imagens que em catadupa nos enchem a memória nestas alturas, e num exercício colectivo com os meus primos, ninguém se lembra de vê-la a carpir-se do que lhe saiu em sorte.Talvez lhe tenha valido um espírito muito infantil que soube conservar e muita fé. Para não questionar o porquê das coisas. E acreditem que esta nada tem a ver com aquelas situações em que depois das pessoas morrerem só nos lembramos das coisas boas e tendemos a esquecer as más. A gargalhada dela era mesmo presente!
Pela fé dela, pelo amor que todos lhe temos, juntámo-nos novamente ontem, pela missa de 7º dia, numa igreja de Lagos.
Reencontrei todos desfeitos ainda. A missa até foi leve, com o coro de jovens a dar um ar mais animado à coisa. No sermão, o padre lá faz referência ao aborto e toca de ler Jeremias e mais a consagração de Jesus ainda no ventre da mãe, para dizer que temos que votar “Não” em Fevereiro, porque a concepção do homem já é obra e vontade de Deus. “Ok” - pensei eu – “Segue em frente...” Apesar da ‘politiquice’, não é novidade que os padres façam referência ao tema, apesar de não concordar com a atitude.
A missa continuou e os temas mudaram para o amor, para a caridade. Mais uns cânticos e aqueles 60 minutos iam chegando ao fim. Foram referidos os nomes das pessoas que tinham morrido, o da minha tia foi o primeiro a ser invocado, com a nossa natural comoção. Para crentes e não crentes, o certo é que todos nos sentimos mais reconfortados e próximos, uns dos outros e da tia/mãe/avó/bisavó que já não temos por perto para receber um colinho.
Eis senão quando, no “ide em paz” o padre anuncia que vai falar uma pessoa, pertencente a um Movimento pelo Não à despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez!
Fiquei em estado de choque. Da terceira fila tive que levar com o senhor, a falar a partir do púlpito sagrado, sobre a aberração que seria, o Estado financiar com o dinheiro dos contribuintes a solução “asséptica” do aborto. Que esta não é a solução “para ajudar as mães que querem ter os seus filhos” – e estou a citar! E que para fazer a campanha pelo Não, o Movimento ia realizar um jantar nessa noite para a angariação de fundos. Nós fomos brindados com o convite na primeira pessoa!
Pensaria ele que na esfera do "a vida continua" eu iria ao jantar nessa noite? E lá por estar na casa de Deus, todos sobem ao púlpito para 'formar' opiniões e pedir esmola? É que eu já tinha ouvido o inevitável sermão e dado o meu contributo para os tradicionais cestinhos que fazem a ronda pelos presentes. Mas este (novo?) modelo, para mim, é, no mínimo, chocante!
Pelo direito à indignação. Pelo choque. Pela morte da minha tia. Tive que digerir todo este episódio com as MMÁS que me estiverem a ler... ainda!
A vida pouco lhe sorriu. Foi mãe aos 14 anos, fruto de violação. Acabou por casar com outro homem, por conveniência, com quem viveu até ao fim, até ao último sopro.
Aos 33 já tinha 4 filhos e uma vida de trabalho na casa de um dos Sirs que começaram a colonizar o Algarve há uns 40 anos. Essa primeira moradia, construída perto de Lagos, tem court de ténis, piscina, vinha, e muitos metros quadrados de jardim. Uma das salas é maior que o meu T3 e a casa de banho “dos senhores” (como a eles nos referíamos) tem cerca de 30 metros quadrados com uma vista soberba sobre a Meia-Praia. Além dos 4 ou 5 quartos na moradia principal ainda contempla mais 3 alojamentos, um para o filho único, onde fica quando vem de Inglaterra, sozinho ou com os amigos e outros 2 para os criados (a minha tia viveu sempre num deles: sala, cozinha, WC e 2 quartos).
Muitas vezes, e eu era pequena nessa altura, assisti aos preparativos dos jantares que davam, com direito a usar faqueiros de prata e tudo! Para terem uma ideia, a família real passava lá férias. Não sei se ainda assim é.
Curiosamente, na casa da minha tia a comida nem sempre chegava para todos. Digamos que os patrões não eram muito “mãos largas” ao final do mês. Diria mesmo que eram “mãos de vaca”!
Mas voltando ao início...
As imagens que em catadupa nos enchem a memória nestas alturas, e num exercício colectivo com os meus primos, ninguém se lembra de vê-la a carpir-se do que lhe saiu em sorte.Talvez lhe tenha valido um espírito muito infantil que soube conservar e muita fé. Para não questionar o porquê das coisas. E acreditem que esta nada tem a ver com aquelas situações em que depois das pessoas morrerem só nos lembramos das coisas boas e tendemos a esquecer as más. A gargalhada dela era mesmo presente!
Pela fé dela, pelo amor que todos lhe temos, juntámo-nos novamente ontem, pela missa de 7º dia, numa igreja de Lagos.
Reencontrei todos desfeitos ainda. A missa até foi leve, com o coro de jovens a dar um ar mais animado à coisa. No sermão, o padre lá faz referência ao aborto e toca de ler Jeremias e mais a consagração de Jesus ainda no ventre da mãe, para dizer que temos que votar “Não” em Fevereiro, porque a concepção do homem já é obra e vontade de Deus. “Ok” - pensei eu – “Segue em frente...” Apesar da ‘politiquice’, não é novidade que os padres façam referência ao tema, apesar de não concordar com a atitude.
A missa continuou e os temas mudaram para o amor, para a caridade. Mais uns cânticos e aqueles 60 minutos iam chegando ao fim. Foram referidos os nomes das pessoas que tinham morrido, o da minha tia foi o primeiro a ser invocado, com a nossa natural comoção. Para crentes e não crentes, o certo é que todos nos sentimos mais reconfortados e próximos, uns dos outros e da tia/mãe/avó/bisavó que já não temos por perto para receber um colinho.
Eis senão quando, no “ide em paz” o padre anuncia que vai falar uma pessoa, pertencente a um Movimento pelo Não à despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez!
Fiquei em estado de choque. Da terceira fila tive que levar com o senhor, a falar a partir do púlpito sagrado, sobre a aberração que seria, o Estado financiar com o dinheiro dos contribuintes a solução “asséptica” do aborto. Que esta não é a solução “para ajudar as mães que querem ter os seus filhos” – e estou a citar! E que para fazer a campanha pelo Não, o Movimento ia realizar um jantar nessa noite para a angariação de fundos. Nós fomos brindados com o convite na primeira pessoa!
Pensaria ele que na esfera do "a vida continua" eu iria ao jantar nessa noite? E lá por estar na casa de Deus, todos sobem ao púlpito para 'formar' opiniões e pedir esmola? É que eu já tinha ouvido o inevitável sermão e dado o meu contributo para os tradicionais cestinhos que fazem a ronda pelos presentes. Mas este (novo?) modelo, para mim, é, no mínimo, chocante!
Pelo direito à indignação. Pelo choque. Pela morte da minha tia. Tive que digerir todo este episódio com as MMÁS que me estiverem a ler... ainda!
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
Nunca mais...
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
Foi num domingo à tarde...
Are you talking to me?
Are you talking to me? Aquela imagem do De Niro em frente ao espelho ficou-me cravada à primeira. Depois descobri porquê. É que a cena repete-se vezes sem conta na vida real.
Voltei a vê-la esta sexta-feira, na ocasião mais insuspeita do mundo: na aula de ballet das minhas filhas!
OK, eu explico. Mudei de casa e, por arrasto, as crianças mudaram de escola de ballet. Estão há já mais de um mês numa associação desportiva mesmo ao lado da nossa casa. Normalmente é o pai que as leva. Ou seja, entrega-as e vai buscá-las. Desta vez fui eu e pedi para assistir à aula. Eu própria fiz ballet e queria controlar (é mesmo essa a palavra, controlar) a técnica da professora. Ela lá acedeu, depois de uma tentativa falhada para me convencer que faria uma apresentação para os pais.
Sentei-me e fiquei a observar as 12 miúdas, umas mais cor-de-rosa do que outras. Reparei imediatamente na cumplicidade de um grupinho alargado - eram as miúdas do bairro, obviamente amigas desde o berço. Ar de rufias e com a histeria própria da idade. De fora do grupo ficavam apenas as minhas filhas, uma aluna nova e uma outra linda de morrer. Cabelo preto, olhos claros, pele muito branca, cara de boneca.
A aula estava a correr bem - a professora insistia muito na postura ("barrigas para dentro, costas direitas"), coisa em que insisto eu também. Às tantas, propõe um exercício em frente ao espelho. E enquanto está a colocar as alunas de forma a que todas se vejam, reparo numa desinquietante cena. Na primeira fila, a rufia-mor provoca a cara de boneca. "Estás olhar para mim? Estou a falar contigo! Estás a olhar para mim?". O tom era cada vez mais agressivo. A cara de boneca estava com o olhar vidrado, sem se mexer, sem responder à provocação, tentando olhar para sítio nenhum. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. A cena acabou com o regresso da professora à primeira fila.
Fiquei realmente parva com aquilo. Estava eu preocupada com a competência da professora e afinal o perigo escondia-se noutro lado. Quem diria que aquela nuvem cor-de-rosa albergava um bando de miúdas maldosas? Durante o resto da aula, a Jessica (assim se chama a chefe do bando) foi ameaçada umas 10 vezes pela professora: "olha que desta vez estou a falar a sério, Jessica! É hoje que te ponho na rua!". Incrível! Numa aula de ballet? Extraordinário!
No final, comentei o caso com a professora, que se desculpou dizendo que as miúdas se estavam a exibir porque havia uma mãe a assistir. Insisti: a tal Jessica esteve a aula inteira a gozar e maltratar a pobre da cara de boneca. E as outras a funcionar como coro. Atenção, pedi.
Cá fora estava o pai da cara de boneca à espera. Sorridente, bem vestido, bom aspecto, sotaque francês. Ignorava em absoluto o que se tinha passado lá dentro. Senti-me mal. O pai a pensar que estava a oferecer aulas de ballet à filha, quando na verdade lhe estava oferecer 3/4 de hora de bullying. Então sorri muito à miúda, apresentei-lhe as minhas filhas, disse-lhe que era muito bonita e que dançava muito bem. Ela sorriu, de sorriso aberto. Ufff! Alívio. As minhas filhas ajudaram e começaram a falar com ela. Já vestidas, despediram-se como se fossem grandes amigas. Fiquei com a esperança de que ali se estivesse a formar novo grupo que conseguisse combater o ódio do grupinho já formado onde intrusas são mal recebidas.
Num plano paralelo, a professora dizia à avó de Jessica: "olhe que ela voltou a portar-se muito mal". Como resposta recebeu um risinho da avó e um "a minha Jessica é uma malandra".
A caminho de casa, insidiosamente, insisti que a Luísa (era esse o nome da cara de boneca) era linda, linda e que dançava muito bem, e que a Jessica era muito chata e pirosa, não fossem as minhas filhas querer juntar-se ao bando de malfeitoras cor-de-rosa.
Estou a ficar sentimental, ou hippie, ou qualquer coisa do género. De repente acredito que o ódio se combate com amor.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
TODOS À CASA
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
Pop
"(...)
Não sei o que fazer aqui,
Não sei o que será de mim,
Estou preso neste elevador!
(...)"
Isto é uma posta de uma música de uma banda portuguesa de quem muito gosto, e que me surgiu assim de repente na cabeça. Não é nenhuma mensagem de ano novo, descansem. Mas hoje, primeiro dia de 2007, estive basicamente sem paciência nenhuma para uma série de coisas, nomeadamente, para o facto de aquele refrão lá de cima bater um tanto certo. Nunca se sabe se não invento uma Pensão em Sagres e me faço à falésia. A Pensão da Vagina!
O meu horóscopo para 2007 é promissor (disse-me a minha mãe que é uma mulher de muita confiança) .
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