quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Pó Caralho, suas merdosas!

A minha vizinha do 5º está grávida!
Há meia hora gritava enloquecida, levava porrada do companheiro.
A minha vizinha do 5º é brasileira, partia a mobília, ou partiam-lha em cima, há coisa de meia horita.
Levantei-me assustada. Abri a porta. Chamei a Polícia.
Fui à janela. E lá estavam as cabeças femininas do 3º, do 2º, do 1º, com os seus cabelos desgrenhados, as suas rugas mal lavadas, indignadas, com tanto barulho. "Isto não se aguenta, nunca tivemos disto, agora é que vamos ter?".
-Suas cabras! Racistas! Pó caralho! Vão mas é dormir, na cama é que estão bem! - tive vontade de praguejar.
A vizinha desceu no elevador, a soluçar, antes da Polícia chegar. Não chegou ainda nem uma nem outra.

Estes costumes brandos cheiram mal que se fartam!

8 comentários:

Cristina disse...

O meu vizinho do lado tb morava com uma brasileira que berrava muito. Nunca me apercebi de ela ter levado porrada mas instigava-o a isso!
Entretanto foi substituida por outra brasileira de quem eu gosto muito mais: não berra, não bate com as portas e arruma a cozinha mais cedo. (É que de minha casa ouve-se tudo isso.)

Anónimo disse...

Eu acho impressionante que as pessoas consigam ser indiferentes a um crime bem nojento. Acho impressionante que mulheres não se solidarizem com uma vítima que também é mulher, e que está grávida. Acho mais impressionante ainda que essa indiferença se tranforme em desprezo porque a vítima é brasileira. Neste país, ser brasileira é ser puta. Como é possível?

Anónimo disse...

A questão que vou colocar não é feita com cinismo, é real e é pura ignorância minha (e ainda bem): uma mulher grávida que leva porrada durante meia hora está a permiti-lo (pelas razões psicológicas que são costumeiras apresentar-se) ou é porque efectivamente não consegue fugir?
Falo, consciente da minha ignorância no assunto, mas acho que se o meu marido (que é um querido e jamais me levantaria a mão) me tentasse bater GRÁVIDA, eu não responderia por mim!
Eu não sei o que EU lhe faria!

mmás, a reunião deste fim de semana bem podia ser na fil, não?
mas depois o "anonimato" deixava de fazer sentido, certo?

Beijinhos

ah! vagina: são "as pistas da blue"! não da bu!

Anónimo disse...

Adorei o post e concordo 500% com tudo escrito.
Penso que quando uma pessoa agredida grita, é por que quer ajuda e não recriminações, embora muitas xs não consiga sair da relação doentia em que está envolvida. Até pode ser "culpada" por agir mal, provocar ou lá o que for... mas nada justifique que lhe batam. E por mais que a tal pessoa não nos mereça muita simpatia, deveríamos tentar com que a violência doméstica chegue a quem de direito - à polícia. No mínimo!!!
Lembro-me há uns anos de uma série de reportagens que davam na altura do telejornal. Eram histórias horríveis, difíceis de perceber como podiam acontecer nos dias de hoje. Comentei no trabalho, tanto aquilo havia me impressionado. Não é q vim a saber de um caso célebre no pequeno município onde trabalhava - uma verdadeira história de horror (posso dizer que o marido até a orelha cortou à senhora entre outras enormidades). E, hoje, depois de décadas de tortura, aquela senhora apresenta problemas mentais, não se sociabiliza). Tudo isto num meio pequeno, perante a indignação de toda a comunidade (a senhora não tinha "culpa" daquilo que lhe acontecia)e, no entanto, ninguém foi capaz de pôr um ponto final naquilo!??!!!
Outro caso: na aldeia dos meus sogros também há um senhor da idade dos meus sogros que bate na mulher. Ela também já está com problemas mentais depois destes anos todos. A minha sogra fica com lágrimas nos olhos sempre q se fala da tal senhora com quem conviveu em jovem. O filho, há uns tempos, lembrou-se de bater na mulher. Ela resolveu logo a situação, conseguiu com que os irmãos lhe dessem um enxerto de porrada. No final disse-lhe, não penses que sou igual a tua mãe!
Se fosse comigo, com uma filha ou irmã ou mãe, juro que arranjava quem lhe desse um enxerto de porrada se a coisa não se resolvesse antes na polícia.

péssima disse...

Qualquer tipo de violência é nojento. E há muitas.
Felizmente nunca me vi confrontada com a necessidade de telefonar à polícia por esse motivo declarado. E não sei se ouvisse apenas gritos e mobílias o faria, honestamente.
Nada tem a ver com raças ou indiferença. Não. Não.
Lembro-me que uma vez intervim numa luta de miúdos. A acção parecia-me simples, conhecia o garoto, que na altura teria uns dez anos, da rua. Passaram duas miúdas da mesma idade por mim, ia eu, o meu filho mais velho, na altura com 3 anos, e o meu marido. Dirigiram-se ao puto que eu conhecia e desataram a bater-lhe. Impulsivamente larguei o meu filho e meti-me no meio da bulha. Depois de uns arranhões lá se separaram e elas fugiram. A questão é que o garoto que defendi tinha roubado e batido numa delas, na escola, e elas decidiram fazer justiça pelas próprias mãos.
Lembro-me de outra vez, estava eu grávida de sete meses do meu filho mais novo, me ter visto numa situação em que eu era a agressora. E digo-vos que, se não fosse a minha consciência ser mais forte que a vontade, tinha desfeito a cara de um pulha que trabalhou para mim.
No meio de uma discussão de irmãos o mais velho desatou a berrar como se tivesse sido trespassado por qualquer coisa. Quando cheguei ao quarto, ele contorcia-se no meio do chão, chorava, berrava e convulsava-se como se esvaísse. O mais novo estava petrificado, afinal só lhe tinha dado um murro no braço. Acredito que os vizinhos do andar de baixo pensem que as agressões cá em casa são vulgares.
Isto apenas para tentar explicar que a minha hipotética não intervenção nada tem a ver com indiferença ou racismo. Apenas nunca me vi na situação de chamar a polícia, como já disse (mas já a chamei por outras situações, como tentativas de assalto e carros, ou pessoas, estranhos ao lugar em que vivo).
Apesar de entender que muitas destas situações se dão por haver dependência (monetária, física, mental, o que seja) da parte mais fraca, concordo, em parte, com a AB. Deve existir um facilitismo inicial para que se chegue a este estado. Tal como as crianças nós continuamos em perpétuas experimentações de limite. Alguns tendem para a violência, felizmente não são a maioria.

péssima disse...

:)
Olho por olho.
A resolução consequente é por si só, também, um acto de violência.

Mas eu confesso: em situação de crise extrema prevejo-me violenta.

Anónimo disse...

há uns anos, lembro-me de ir na rua com um grupo de amigos. nós eramos uns 10, entre rapazes e raparigas. do outro lado da rua damo-nos conta de um namorado a bater na namorada. dei algum tempo para perceber se era real ou não. era. o meu impulso imediato foi atravessar a estrada. quando ia a meio do caminho, o moço larga a moça e ela vai atrás dele. dou-me conta que fui a única a atravessar a estrada à excepção de outra amiga que vinha atrás de mim...
esta situação deixou-me muito confusa...
quer pelo casal, quer pelos amigos que me acompanhavam...

Isabel Freire disse...

Ab, obrigada pela correcção. Habituei-me a ouvir aquilo como a minha filha, e pronto, ficou BU.
;)
Eu lembro-me de ler algures os números de mortes por violência doméstica em Espanha, e era assim uma coisa assustadora. Sempre que tenho fortes indícios de que está a acontecer uma situação do tipo (naquele dia era indubitável, os gritos eram desesperados, parecia que o prédio vinha abaixo, com tanta coisa a partir-se), chamo a polícia. Nunca se sabe se naquele dia aquela discussão não poderia acabar realmente mal. Não é que me sinta justiceira, mas como ver o problema como um caso de justiça, chamo quem possa intervir. Não consigo ouvir nem ver, impávida e serena, duas pessoas a agredirem-se.
O meu primeiro namorado era um briguento extraordinário. Mesmo quando achava que não tinha razão para partir para a violência (quase todas as vezes), nunca consegui virar as costas, e muitas vezes levei uns sopapos perdidos.
Não sou propriamente pacifista, atenção, e não consigo prever omniscientemente todas as minhas reacções. De qualquer modo, se alguma vez perder a cabeça, espero que alguém me mande um balde de água fria para cima, no mínimo.