sexta-feira, 31 de março de 2006

BLOG

E assim já toda a gente vê tudo a que tem direito?

quinta-feira, 30 de março de 2006

BVG


É a melhor empresa de transportes que conheço. Proporcionou-me os episódios mais insólitos que vivi em Berlim. Lá dentro, nos corredores cegos do U-Bahn comecei a perceber melhor em que planeta a minha nave espacial tinha aterrado. Mas também nos bancos de autocarros modernos, com a sensação de estar num berço, compreendi as regras sem excepção, as caras sem emoção, os pensamentos em alemão. Adoro as estações de metro da Berlim velha DDR. Os túneis de comunismo póstumo, cheiro a Imbiss e salsicha, os punks como em casa, os cães atrelados, os carrinhos de bebé com vias de bus, as bicicletas acartadas às costas (eu levava todos os dias a minha de mãos dadas durante 40 minutos na linha 7, direcção Rudow, para depois lá em cima passear-me um bocadinho pelos canais). Foi numa destas viagens de U-Bahn, a caminho da casa de uma amiga especialíssima, foi há 10 anos, acho que a saída era Mierendorfplatz, na mesma linha azul. Foi, foi. Eu sentadinha na minha cadeira, com aquele nariz de quem lamenta que se possa viver assim sem sol por dentro e por fora, apanhei a mochila e esgueirei-me quando a cobra apeou. Reparei que atrás vinha um rapaz da minha idade, cabelos pelo ombro, castanhos, olhos verdes, bonito, e com ar de quem gosta de coisas doces. Um tipo açucarado. Era noite, umas 22h00 para aí. A carruagem partiu com menos três ou quatro passageiros. Os outros dois enfiaram-se por outros buracos, eu e ele ouvimos os passos um do outro, os meus pacificados, os dele ligeiramente nervosos. Percebi. Liguei as antenas. Mantive a serenidade. Porra, aquela cidade era provinciana à brava. Tirando alguns lugares a Este, desaconselháveis para morenas (a uma amiga italiana cuspiram-lhe na cara), 'tá-se muito bem. O tipo abordou-me assim que apanhámos com o frio no focinho. Delicado, em alemão, começou por pedir-me o entschuldigung do costume, perguntou-me se falava a língua, eu disse a verdade: muito pouco. Mas começou a licitar. Queria que lhe ‘batesse na pila’, vulva / vulgo punheta. Eu respondi que não estava interessada e prossegui. Na rua só as árvores mortas, os carros parados, as janelas com luz a escorrer pelas paredes como o chocolate daquele bolo que a minha irmã faz tão bem. Não tive medo. A casa da menina S era mesmo ali a cinco minutos, eu tinha uma força qualquer no coração rígido do frio, e o gajo parecia um menino de coro. Caminhou atrás, esperou uns segundos, voltou a aproximar-se e fez uma oferta de 40 marcos. Eu voltei-lhe as nádegas com um nein e sotaque. Segui. Ele seguiu-me, dois passos on the back, e eu ouvia-o miar em marcos, e actos. O preço foi baixando, mas o serviço também. A certa altura, na esquina em que viro para a rua da minha amiga, a conversa já era, ‘Nur gucken, nur gucken’, por 20 marcos – o câmbio não me apetece fazer, mas a tradução é simples. Eu só tinha que olhar, quem batia o punhal era ele. Continuei abanando a cabeça, com o gatilho da mochila entre dedos, contente por a porta do prédio estar ali. Toquei a campainha, ele plantou-se a poucos metros, a minha amiga levou uma eternidade a atender, quando me virei de esguelha, a calça aberta e ele a punhetar à borla. Eu entrei finalmente, fechei a porta, fumei cigarros com a menina S, ouvimos Sérgio Godinho, e na janela da frente, sem cortinas, os vizinhos faziam amor gratuitamente. Não sei se lhe mandaram uns marcos por correio. Também não era caso para tanto.

Foto: Lisa Whiteman

Consultório MMAS

Secção: As cores têm significados que nem o significado percebe mas subentende.


Sendo cada uma de nós cor em puro estado vibratório eu sou o preto, quanto a isso não tenho grandes dúvidas. E sinto-me nua se não tiver preto a rodear-me, mesmo sabendo o que significa, sou preto e nada há a fazer quanto a isso. Mas isto é como eu me vejo, que nada tem a ver como as pessoas me vêem. Da mesma forma vejo as outras pessoas com cores que nem sempre traduzem o que são, segundo os chakras.
Que se dane. As cores têm piada e é assim que eu vos vejo, tendo em conta a luz, o riso, as opiniões, as vontades, as forças e sei lá eu que mais:
Vaginawoof: Amarelo sol com laivos de vermelho.
Mai Xinti: Incolor, pela ausência, claro, ainda não consegui conviver contigo.
WakedWoman: Cor-de-rosa, é engraçado mas toda tu és cor-de-rosa cândido.
Mmádona: Branco quente.
Mimi: Vermelho sangue
Putafina: Creme e tons caqui
Mazinha: Verde pistáchio e laranja.

29 de Março

Trabalho por turnos. Ontem, ao passar para a agenda os horários de Abril, reparo que há uma semana em que pura e simplesmente não iria estar com as minhas crianças. Três dias a sair à uma da manhã, dois a sair às 8 da noite. Conversa irritada com a chefe. Relembro-lhe que o acordo de empresa especifica que os horários devem ter em conta a mítica conciliação entre família e trabalho. Diz-me que não tem meios para assegurar os turnos de outra forma. Digo-lhe que nenhum emprego pode funcionar à custa da vida familiar dos trabalhadores. Discussão. Estou cansada de tanta luta laboral. Chega.
Saí irritada, atrasada e despenteada. Não me lembrava onde tinha estacionado o carro. Voei até ao infantário. Trânsito infernal e o tipo da frente que não anda. Stress. E nem sequer tenho cigarros para passar o tempo. Estaciono o carro com quatro piscas em frente à escola. O lugar reservado está ocupado. Rodas em cima do separador central, meio carro no meio da estrada. Entro e tenho uma conversa com a educadora - peço-lhe que não diga verdades absolutas aos miúdos, porque depois tenho que a desmentir em casa. Até na ciência as verdades são provisórias e todos os dias a MB chega a casa cheia de preconceitos e aterrorizada com a ideia de ser diferente. Somos todos diferentes uns dos outros, MB. E não me apetece ter conversas de adultos com crianças. A educadora compreende e promete refrear os seus ensinamentos classe média.
A esta altura sou um isqueiro e só penso em esfumaçar. Pego nas manas e atravesso a rua em direcção ao café. Compro um maço de tabaco para mim e não compro nem chupas, nem smarties, nem bolo, nem kinders. Não, também não compro a revista das bruxas, já disse, não sejam chatas e não, não adianta fazer birra. Seguimos pelo passeio em direcção a casa. Berreiro e a mãe é má. Não é má, é Péssima. A ML pisa cocó de cão. Praguejo contra os canídeos e os seus donos.
Agora acho que mereço vir à net descontrair. Venho aqui, vou ao Substrato. O M. chega a casa cedo e de cabelo cortado. Fico contente por vê-lo. Dou-lhe um beijo. Pergunta-me se tenho alguma coisa pensada para o jantar. Digo-lhe que não. Ele vai até à cozinha e volta. Apetece-lhe um frango de churrasco. Acho óptimo. As manas entram em guerra. Pedem intervenção da mãe. Ignoro e organizo papelada. O frango chega da rua a cheirar a brasas. O M. põe a mesa e chama-nos. Conto a discussão laboral e digo-lhe que temos que redistribuir tarefas. Que isto de ir buscar e levar as miúdas todos os dias me corta os movimentos e que é absolutamente incompatível com a minha profissão. Dá-me o stress doméstico e queixo-me do excesso de trabalho. Que faço isto e que faço aquilo e que tenho que pensar em tudo e que ele cada vez faz menos. Ele diz que não lhe apetece discutir o assunto e atalha a conversa com "uma surpresa para as crianças".
Vem da cozinha com um bolo de chocolate e nozes. As miúdas rejubilam. O pai diz que ainda tem outra surpresa. Faz suspense. Anuncia que aquele é um bolo d'anos. O pai faz anos... Quarenta. Quarenta anos. Fico pior do que estragada. Mortifico-me. Esqueci-me mais uma vez dos anos dele e ainda escolhi este dia para o chagar com as lides domésticas. Tento consertar a situação. Ele diz que não faz mal, que não liga aos anos e que só comprou o bolo por causa das crianças. Desencanto uma vela e cantamos os parabéns. Arranjo baby-sitting e convenco-o a ir dar uma volta.
Tento pôr-me um bocadinho mais bonita, mas as olheiras não perdoam. Saímos. Cinco minutos na rua à procura do carro. Fosga-se. Esqueci-me do carro com os quatro piscas ligados em frente à escola. Caminhamos rua fora e eu rezo para que ninguém tenha chamado o reboque. Não chamaram. Está um homem a fazer manobras para conseguir esgueirar-se pelo buraco que lhe deixei para passar.
Bebemos uma sangria no Noobai. No espaço reservado para as crianças, os brinquedos dormem. A esplanada está cheia de casalinhos despreocupados. Ali, em frente ao rio, a vida parece ter outro ritmo. Relaxamos. Estamos cansados, mas ainda nos apetece estar na rua. Na Bicaense, um bom concerto de jazz. São todos óptimos, mas é o tipo do contrabaixo que me agarra. Na rua do elevador, copofónicos com penteados da moda divertem-se. A noite está divinal. Há amigos nossos por ali. Não têm filhos, não trabalham de manhã. Cedemos ao peso das pernas e das pálpebras e voltamos para casa. Parabéns, meu quarentinho. Happy Ending.
After all, tomorrow is another day...

quarta-feira, 29 de março de 2006

Opando o Substrato















are you sure?

Batista*


E pronto.
A mania alastrou-se que nem pólvora. Para além desta vestimenta já conta com mais um fato de inverno, uns calções, dois chapéus, uma máscara, umas sapatilhas e alinhavado está o smoking (estes meus filhos têm com cada uma!), uma toalha de banho, um fato de wrestling e uma tatuagem.
Foi uma noite divertida, a de ontem.
Para além do mais estava sozinha com os putos. Ao fim de quase 18 anos de casamento consigo que o meu marido saía, à noite, sem mim, tipo PHA. Hoje chegou eram quase oito da manhã com uma disposição cambaleante divertidíssima. E hoje, desde que me lembro, fechei a porta do quarto por preservação do ambiente. Será que a fermentação alastra às paredes e vou ficar com este cheiro entranhado no quarto?
– Sabes, dizia-me ele muito compenetrado, daqui a nada tenho de ir comprar bilhetes para ir a Barcelona!
– Está bem, mas agora vai dormir.
– Temos de falar disso devagar….
– Falamos depois vai deitar-te. Divertiste-te?
– Ahhh! Chiuuuu! Não te posso dizer!
– Xô para a cama!
– É complicado, tenho de ir ao computador. Tu estás a dormir?! (isto com os olhos muito abertos)
– Não, não estou.
– Humm. Controlas tudo?
– Controlo.
E enquanto o meu bicho das castanhas me pergunta o que é o que o pai tem, em tom divertido, ouvimos um estrondo no quarto. Por pouco não partiu a parede com a cabeça, ou por pouco não partiu a cabeça na parede. Ainda estou para ver do que é que se lembra quando acordar. Ehehehehe

*Um dos heróis actuais dos meus filhos, dizem-no parecido ao tio. Eu cá acho mais piada ao Undertaker.

terça-feira, 28 de março de 2006

Papéis





Lembrei-me que, quando pequena, gostava destas bonecas.
Foi num instante que comecei a desenhar as minhas personagens, as minhas roupas, os meus acessórios. Depois passei para as casas, ainda cheguei a fazer duas de madeira, com a ajuda do meu pai. Depois… depois entrei na adolescência e tudo mudou :)
De vez em quando faço casas em plano, para os meus piolhos pintarem e montarem, mas não me tinha ocorrido fazer roupas para os heróis do wrestling.
Vou por esta ideia em prática e prometo mostrar os resultados.

Para já fica este brinquedo para as mmas:



E claro, alguns lugares para ver:
Paper dolls 1
Paper dolls 2
Paper dolls 3

Manas



por Mimi

OVO


Olá R.
Bom dia MMÁ precoce.
Did someone told you today... you are beautifull?

segunda-feira, 27 de março de 2006

Divirtam-se...



...a fazer tiras de BDs.
(para as catraias e catraios, é só CLICAR)

Sol

Caríssimas MMAs:
O sol chegou. Está na altura de sair do armário e recarregar baterias. Proponho para a próxima sessão a nossa primeira manif lúdica.
Com cartazes e tudo (ground's control to Major Péssima).

Ó que Strada! - 'Triplettos' de Almada


Saímos das mmás às 19h30 - me and Fox.
Estacionámos na Mouraria.
Encontrámos Comédia na Ginginha do Rossio.
Comemos uma sopa na adega dos qualquer coisa.
Fomos ao TDMII (Teatro Dona Maria II) - ver os 'Ó que Strada' - eram 21h30.
Miss raposa dançou, apaludiu e curtiu mil.
Instrumentos para desinstrumentar (uma bateria com dois pratos sobre as costas de uma cadeira, e tocada com dois piaçááááás, uma 'coisa' que é apenas um balde virado ao contrário, ligado por uma corda a um cabo de vassoura, uma guitarra portuguesa capaz de esquecer que é melancólica, uma mulher linda, um espírito mágico).
Ainda bem que nem tudo é quadrado neste país rectangular.
Voltámos para casa às 23h00, com uma coisa boa na alma e duas frases do concerto (another word... ma petit file):
-"Esta música é para todos os homens no país e todas as mulheres na sala [sorriso]"
-"De manhã, não tenho pachorra para ti. Mas acho que te amo, Hoje"
Hear it girls! São as margens do Tejo no seu melhor.

sexta-feira, 24 de março de 2006

MMA



demora um pouco a carregar, mas vale a pena.

Fun, love and crime

Camarim. A palavra por si só já o indica, mas nunca tinha pensado nisso realmente. Trata-se de uma história verdadeira, transmissível até certo ponto. E prometo que vou esticar os limites ao máximo. Recuemos então uns… quê? Cinco anos? Sim, acho que não estarei longe da conta. Entremos na sala de concerto “Paradise Garage”, ali com o vermelho férreo a fazer de palmeira e o rom-rom da velha ponte Oliveira Salazar de perna aberta em cima do rio. “Fun Lovin’ Criminals” em cartaz. Eu estava sozinha lá à frente, mais perto era impossível. Toquei nos dedos do gajo que se roçava em palavras e sons ali para cima de um público entusiasmado, ondulante. O motivo nem vem ao caso, mas foi esse acaso que me fez descer ao ground zero e anos depois contar esta slow story em rewind.
Queria descer ao camarim, dar uma palavrinha àquele troque de mãos - nem sempre me sai, mas quando sai, não gosto de entupi-la. Depois dos encores, plantei-me frente ao Pitt Bull que tapava a portinhola para a cave, como quem guarda uma Lady D em missão especial na Ásia. Logo depois de mim caíram da galáxia cinco miúdas, miúdas pitas, pintinhas, a mandar bocas ao hot dog. “Vá lá, vá lá…”. A minha retórica era um pouco mais erudita, mas pouco, confesso. Àquela hora já os dicionários e silogismos estavam de rastos, afundados em 'extro-álcool-versão' inconsequente. Acho que o vá lá vá lá durou 60 minutos, mas com o bar ali ao lado, passou depressa. As miúdas não tinham mais de 16 anos, mas atenção que podiam entrar em qualquer vídeo-clip “Candy Shop”, por muito mais que 50 cents. Eu nunca tinha visto aquilo assim tão de parto ('perto', perdão). Decotes, maquilhagem, saltos paridinhos em noite bem alta, cabelos longos e cuidadíssimos, styling a 280 km/h, e um savoir fair ardiloso. Só face to face percebias que aquilo eram mesmo reais, e menores de idade. Quando as portas finalmente se abriram para entrarmos nas catacumbas – o Pitt Bull derretia-se por dentro, mostrando que era afinal um pote de natas mal batidas - eu percebi que me tinha saído a lotaria de um filme a preto e branco. Abri bem os olhos vidrados e disse para mim baixinho: “Vê lá mas é se vês tudinho”. Descemos as escadas fundas em direcção ao Camarim. Eu e a mais guapa do grupo (vou-lhe chamar Carmim), mano a mano, ambas à frente – o meu papel ali estava por definir, mas tinha chegado primeiro, e tinha tanta vontade de entrar quanto elas. A meio da escadaria, Carmim olhou-me por segundos: “Boa Sorte” - nos olhos, e sentido. Eu? Não disse palavra, ponho as mãos no fogo. Abanei-lhe o queixo e fiz zoom. No fundo da escadaria que parecia escadarona,... a sala onde os so called ‘criminosos’ estavam. Sentados em relax, junto a uma mesa com muita garrafa, casacos suados, tempo sem pressa. Pareciam acabados de acender uma fogueira num chalé suíço com muita neve lá fora. Carmim atacou o vocalista com uma garra e um chicote. Como se não o visse há dois anos e fosse sua amante há três. Sentou-se ao seu colo, beijou-o de imediato, viajou por ali fora sem nunca pôr o pé no travão. Ele, sentado no lugar do morto, desapareceu naquela cor de sangue quente. Saudade matadora. Duas das outras pitas seguiram a performance carmim, em profile low, mas escola feitinha. Eu fazia de conta que era eu. Apenas. Servi-me de um copo, relaxei, troquei umas palavras comigo, observei o romance. Carmim e seu Romeu, fuck it, passaram a outra sala, ali ao lado, os outros pares actuavam e eu dei o shot, votei para cima, agradeci o que tinha a agradecer e nunca mais vou esquecer.
Desde então, os Camarins, só se valerem mesmo a pena.

quinta-feira, 23 de março de 2006

UR and the luxury of fight

Gostava de dedicar esta música a todas as mulheres que trabalham que nem umas lobas, dormem que nem morcegos, acreditam que nem feras, amam os filhos mesmo à distância ou com neuroses disfarçadas e ainda continuam pró-activas! Só põe o boné quem tem cabeça!

Foto: Créditos para Cristina Sampaio, uma linda de morrer!

quarta-feira, 22 de março de 2006

Sinto-me com sorte



Depois de responder ao post de Lady imim, abri uma página do google e enfiei a palavra striptease.

O azar tem destas sortes, ou a sorte tem destes azares...

Et voilá: encontrei o que me parece um workshop muito in, próprio para uma sessão de MMÁs.

Perguntas do Dia



Qual será a probabilidade de se ter duas chaves de um carro, perder uma, não fazer cópia e partir a que resta ao tentar abrir a porta?

Imaginando que isto possa ser possível, qual será a probabilidade de acontecer num dia de chuva, à hora de ir buscar as crianças ao infantário?

Ainda num plano imaginário, qual seria a probabilidade de termos à partida apenas meia hora para buscar e depositar as crianças (em casa da avó), por causa de um compromisso profissional?

Caso alguém tome esta história por verdadeira, é provável que pense também que as energias de VW possam estar relacionadas com o estranho caso.
_____________________________

Na imagem, a demoníaca VW envergando um dos seus modelitos mais discretos.

terça-feira, 21 de março de 2006

Entrada Livre

Casamento

“Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe.”
Perfeitamente.
Sempre cumpri o que assinei.
Portanto estrangulei-a e fui-me embora.

Mário-Henrique Leiria

Assim se prova
o casamento
é surreal

Visualização do blog

Para quem não consegue ver o blog por inteiro propomos a mudança do browser :

Mozilla Firefox
ou
Netscape

Isto deve corrigir os problemas de visualização.

segunda-feira, 20 de março de 2006

Agonia

A floresta era densa, mas confortável. Não haveria lugar melhor que aquele para constituir a família já esperada há muito. Nunca tinha ligado muito à pressão dos pais e irmãos mas até já os amigos o questionavam sobre a capacidade de reprodução. Chegou a hora, pensou, este é um bom lugar. Sentou-se numa lasca, olhou à volta, ali vai ser a sala, ali a cozinha, os quartos, tudo encaixava na perfeição. Algum tempo passou até ter tudo preparado para receber uma fêmea reprodutora, como o lugar, aquela fêmea escolhida era perfeita.
Os descendentes multiplicavam-se de forma feliz e sadia. É claro que de vez em quando apareciam aquelas bátegas seguidas de uma ventania quente e áspera, o lugar às vezes também tremia, mas nada que justificasse uma mudança. Aquela floresta era boa, dali não sairia.
Estava sentado na soleira da porta a ver as crias brincar em correrias escondidas. Hoje elas corriam mais que nunca, subiam e desciam aos troncos com uma facilidade invejável. Riam em plenos pulmões quando o lugar estremeceu. Pararam um momento a entreolharem-se mas rapidamente voltaram à alegria. RCHUM rash rash. Desta vez for a mais forte que o normal, quase continuo. Por segurança, antevendo a água e a ventania chamou-os para lugar protegido.
Regressavam num semi-assustado quando aquela amálgama os separou. Era uma substância espessa, ácida, envolvente. Medo. O pânico. A separação.
Acalmou ao sentir as torrentes de água mas estava demasiado tonto para gritar pelos filhos, pela mulher, pelo quer que fosse. Sentiu as agulhas como grades a empurrar tudo, a casa já meia destruída, os filhos, tudo se resumia a uma linha de fronteira arrancada à espátula.
Imaginou, ao longe, a ventania que tornaria tudo normal...

– Ó mãe quando é que paras?
– Está quase, só mais um pedacinho, tem paciência
– Mas estás a arrancar-me o cabelo…
– Não filho, apenas te estou a arrancar os piolhos.

sábado, 18 de março de 2006

Daddy


"Oh father don't cry... this song is for all the fathers in the world:
Thank you father for the nine months you’ve been carrying me through! All those pain and suffering. No one knows the pressure you been, just only you. I give you all my love, oh ye!
Father I will never let you down, and never go away, I’ll always be around. [...] "

Adaptação, variação, distorção de Thank You Mama, de Sizzla

Contos com Música






A não perder, no S.Luiz

Última sessão amanhã, às 17h30. Com a ajuda de dois bons narradores em palco, a Orquestra Metropolitana de Lisboa e o maestro Cesário Costa oferecem-nos O Violino Cigano (conto tradicional musicado por Pedro Faria Gomes) e três Contos Fantásticos, de Terry Jones (com música de Luís Tinoco).

Aplauso especial para Tinoco.

sexta-feira, 17 de março de 2006

Play it again...

«SAMM»
:)

[ops... a URL estava mal]

Inimigos Púbicos

Plano de Vacinação contra pandemia da gripe das Aves

Cavaco e Sócrates fora da lista de cem mil portugueses fundamentais para manter país a funcionar



Trabalho das cientistas é menos reconhecido

As mulheres enfrentam ainda a desconfiança dos colegas do sexo masculino e demoram mais tempo a subir na carreira académica

Para ganhar um prémio Nobel da Ciência é preciso ser esperto, sortudo e homem. Foi nestes termos irónicos que a física Cecília Jarlskog, membro do comité Nobel para a Física entre 1989 e 2000, descreveu ontem as "condições necessárias" para se ser galardoado. "As mulheres não são descriminadas. São simplesmente ignoradas", considerou.

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Excertos de dois artigos de João Pedro Pereira e de Patrícia Castanheira/ Mário Botequilha. Descubra qual deles saiu n'O Inimigo Público e qual veio publicado no suplemento sério do jornal.

quinta-feira, 16 de março de 2006

Something ghostly not quite there

Este é um post egoísta e egocêntrico. Há coincidências que, de tão extraordinárias, demonstram sem ruído que o teatro de Beckett é tudo menos absurdo. A menos que a vida real seja absurda. Silêncio.

Adamastor e amiga divertem-se com a esganiçada M.
Rui Manuel Amaral ouve a voz de M.
Um post acima, C. pede silêncio para o Ouvido de Maxwell.

Mimi é um fantasma nesta história. Absurdo? Qual absurdo? Tudo isto faz sentido. It's just real simple life. Mimi não é M. O M não é de Maxwell.
Shhhhhhhhhh...

Coisas com significado in’próprio


Esta foi a imagem que me levou a uma busca modesta. Com pena minha não consegui descobrir de quem é a obra. Apenas sei que esteve em exposição no Museu de Israel (acredito que tenha sido sob o tema “Lights”).

Entretanto:



Ron Mueck
Born 1958, Melbourne, Australia.



Glenys Barton
Born 1944, Stoke-on-Trent, England.



Robert Polidori
Born 1951, Montreal, Canada.

Botequim online II











A Defesa do Poeta

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível
um lápis de armazenado espanto
e por fim com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes


Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que puseste
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças
que salvo do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além


Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

Da Natália, claro

quarta-feira, 15 de março de 2006

Castelos, dragões, mundos e nuvens




O meu piolho, hoje, pediu-me ajuda na construção de um castelo.
Com aquele ar condescendente de tipo ‘gandasseca’ lá fui eu até ao quarto para o ajudar na tal construção. Arrepiei-me primeiro, mas depois alinhei. Porque não?! Deviam estar uns 30 livros no chão do quarto. Comecei a empilhar, mas ele já tinha o projecto arquitectónico bem estudado: “tás a ver aqueles castelos com cartas de jogar?!”
Assim fizemos um castelo com oito pisos, mas ao nono caiu.
Depois deliciei-me a folhear alguns deles como se da primeira vez se tratasse.
Bem fadado castelo em ruínas :)

nas fotos: O mundo maravilhoso de Kate Petty e Jennie Maizels da Girassol edições


As pedras


As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabel
uma história que não calam.

Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?

As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.

Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como as aves
e nem mais tarde regressam.

Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.

Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.

As pedras falam? pois falam.
Só as entede quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.

Maria Alberta Menéres

Botequim online

Estado Civil: casada sem condescendências com o enfadonho espírito da conjugalidade.

Se as aparências iludissem as crianças seriam adoráveis.

Dois ditos de Natália Correia, destacados hoje na versão em papel deste artigo do DN.

terça-feira, 14 de março de 2006

Elogio do prazer


Depois deste bocejo, e contrariando uma vontade de me enfiar na gruta dos 40 ladrões, fechadinha à chave em estado de hibernação por dois dias [segundo bocejo] mantenho a espinha sentada na cadeira e aproveito para dizer a alguém que me ligou hoje com muitas estrias (não é gralha, são mesmo estrias) no lombo, que a vitamina é boa e o slogan do ditador alemão também: Kraft durch Freude – KdF [Força a partir do prazer, do divertimento, do bem-estar]. Conheci melhor o moribundo projecto fascista há dois anos quando fomos para o Algarve germânico de férias: a ilha de Ruegen (antiga RDA), onde a gripe dos piu-pius já deu à costa. Na altura era Agosto, chovia só às vezes, e ficámos alojados na estância de Osteseebad Binz, vilarejo com um pontão gracioso em cima de um mar sem ondas, sem cor, e mais mosquitos por metro quadrado do que fios dentais em Copacabana. Foi uma experiência de veraneio genial, sobretudo porque a floresta entra pela praia adentro e com um pouco de sorte ainda se vê uma rena de óculos escuros e Pina colada à pata. Exactamente ali, bem,… a poucos quilómetros de distância [em comprimento, obviamente], Hitler ergueu um ‘quartel-general’ (*) para sopas e descanso das famílias que lhe estendiam o pulso em sentido e agradeciam a utopia de conseguir engolir o mundo de uma garfada, sem se engasgarem uma só vez – se observarmos a fúria lusitana em vencer campeonatos de futebol, quase me aventuro a dizer que aquilo de sermos todos 'papados' por uma nação se baseava no mesmo princípio de alienação. Voltando ao edifício, parecia uma colmeia, brutal, cinzento, com vista para aquelas águas mortas onde é preciso lutar com kilometer lang de algas a mordiscar os tornozelos até se conseguir molhar a cintura. In deed, Hitler tinha visão, não há força sem prazer. Percebo claramente que uma das mmás batalhas diárias tem de ser essa. Conseguir ‘inputar’ espanto, novidade, prazer e lazer aos dias rotineiros, ao desgaste de correr incessantemente atrás de um par de pernitas rechonchudas em plena actividade, correr incautamente ao lado de um trabalho que normalmente tira mais do couro do que dá ao louro, 'sprintar' à frente de um minuto para ‘egoistar’ de papo para o ar.
Ali Babá! Precisamos organizar uma festa!

(*) Conhecida por “KdF-Seebad der Zwanzigtausend” [Estância balnear do século vinte] foi construída entre 1936 e 1939, com capacidade para 20 mil pessoas se libertarem das rotinas e se refortalecerem. Parece-me desnecessário sublinhar que não tenho qualquer apreço pelo fascismo em geral ou particular, muito pelo contrário, e que aquela casa mete medo ao susto. Tenho muita pena, mas depois de centenas de páginas no Google, não encontrei um único postal de Binz com uma gaja boa e nua.

Bleargh, não como isso?














Eu não digo, porque acho patética a comparação. Ridícula e demagógica. Mas qual de vós nunca ouviu a brilhante frase "come tudo, que há meninos a morrer à fome"? A minha avó dizia-me isto.
Qualquer miúdo com dois dedos de testa responde "então porque é que não lhes mandamos comida?" E depois pergunta porque é que há fome. E depois de muito perguntar não come nada à mesma porque não tem fome.

Bitch


"You Say I'm a Bitch Like It's a Bad Thing" é o nome de um bloco de notas que uma amiga me trouxe de Nova Iorque. Os autores são Ed Polsh e Darren Wotz.
Aqui ficam algumas mensagens que acompanhadas pela imagem têm muito mais graça, mas que não deixam de se ler com prazer a seco:
-Why do I have to get married? I didn't do anything wrong.
-Who are these kids and why are they calling me MOM?
-A clean house is a sign of a wasted life.
-Mommy, when I grow up I want to be a total bitch just like you.
-Amazingly enough, I don't give a shit.
-The first 40 years of parenthood are always the hardest.
-"Stressed" is "desserts" spelled backward.
-Oh shit, I turned into my mother.
-I you want breakfast in bed, sleep in the kitchen.
-Easy there, Mr. Testosterone - you can be replaced by a zucchini.
-Housework is Evil. It must be stopped.
-Just because you can reproduce doesn't mean you should.
-I haven't had my coffee yet, don't make me kill you.
-So much to do,... so few people to do it for me.
-It's been lovely but I have to scream now.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Só porque sim


A imagem do bule a fugir à sua razão de existir chamou-me a atenção. É bom saber dizer “não”. É bom estar indisponível, nem que seja só de quando em vez, só porque sim! Para quem estiver “disponível” e receptiva, as ilustrações mostram-se na Bedeteca de Lisboa. A partir de 5ª Feira e até 13 de Abril. São de João Vaz de Carvalho.


João Vaz de Carvalho tem lá em casa o 1º Prémio Ilustrarte 2005, Bienal Internacional de Ilustração para a Infância. Eu não me importava nada de pendurar esta na minha. Ia muito bem no quarto do filhote!

Thank you for the living chat.

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domingo, 12 de março de 2006

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Sonho Z

No universo das Mulheres da minha vida incluo a minha filha, as minhas avós (a doçura de um lado e a guerreira do outro), a minha mãe, a minha irmã e, de há 38 dias para cá, a minha sobrinha. Somo mais uma prima e um par de amigas.
Por um ou outro motivo são todas muito especiais e, com elas, aprendo, aprendo, aprendo.
Há outra que também tive o sublime prazer de conhecer. Sinto-o como prazer e como honra. Há pessoas assim, de quem se sente honra em conversar, honra de ter feito também parte do seu dia-a-dia.
Pode parecer redundante dizer isto assim, tratando-se de uma Mulher, mas ela era símbolo de Feminino, de Maternidade, de Amiga, de Gaja porreira.
Altamente sedutora, era sinónimo de liberdade, de boa disposição, de ‘descontra’, de Amor, de Fortaleza.
Foi assim apetrechada que viveu esta viagem e se ‘abalançou’ na passagem que a obrigaram a fazer para o outro lado, com ganas de gente de carne e osso, com garra de Mulher.
Com ela ainda aprendo, aprendo, aprendo.
Hoje entrou nos meus SONHOS.
O meu despertar foi doce,
Obrigado Z.

A minha lista é melhor do que a tua


A propósito deste post, lembrei-me deste filme. Ainda não era mãe quando o vi, mas lembro-me de sofrer como se fosse. Coisa rara: nunca me deixei impressionar pela ficção e os instintos maternais só se revelaram já o meu útero crescia. A Sofia é dada a hipótese de salvar um dos filhos, mas só pode escolher um. Ou escolhe um, ou morrem os dois. O que fazer?
Na vida real, houve quem tivesse este drama, de facto, durante o Tsunami. Uns decidiram agarrar o mais pequeno, por achar que o mais forte poderia safar-se sozinho. Outros escolheram o mais velho, pensando que nunca o mais fraco sobreviveria à força das águas. Lembro-me até de um caso em que uma mãe pegou no mais novo, na esperança de que o mais velho conseguisse agarrar-se a qualquer coisa. Acontece que o mais velhor sobreviveu mesmo. Foi a melhor, a escolha desta mãe? O mais velho não percebeu por que é que a mãe o tinha deixado para trás. Por que é que tinha escolhido o irmão e não ele. Quando li esta notícia, o miúdo recusava o reencontro. É realmente impossível escolher entre dois filhos.
Mas, em ambos os casos, sendo ficção ou realidade, a dramática decisão foi tomada em segundos, no momento, sem tempo sequer para grandes reflexões. Pergunto agora quem são os 100 mil portugueses "fundamentais". Fundamentais para quem e para quê? Esta foi uma escolha PONDERADA. E decidiu-se que as pessoas são fundamentais pelos cargos que ocupam. O que é isto? Imagino que estejam também na lista dos fundamentais todos os tachos e ex-tachos do país. Mal posso acreditar. Uma Fátima Felgueiras ou um Alberto João Jardim estarão, segundo este brilhante critério, na lista dos fundamentais.
Estou há quatro dias de folga, sem consultar a Lusa. Mas tenho ouvido a TSF e lido o Público. E isto passar-me-ia ao lado caso não fosse parar a este post via Caiê. Afinal ainda não perdi a capacidade de me espantar. "É proibida a entrada a quem não estiver espantado de existir", escreveu José Gomes Ferreira. A nós e aos nossos é-nos proibida a entrada na lista por não sermos fundamentais. Pouco poético, nada justo. Nonsense puro. Difícil de comentar. Difícil de parar de comentar. Será só uma questão semântica? Estará este meu espanto na força da palavra fundamentais?
Ainda não me preocupa a gripe das aves. Mas preocupa-me, espanta-me, o facto de haver por aí uma gentalha que acha mesmo que pode decidir quem é ou não fundamental. E que tal a câmara de gás para os restantes ranhosos dispensáveis?

sábado, 11 de março de 2006

Princípio fecundante

Alternativa ao Boxe


Ursula Rucker no Lux, próxima quinta-feira.
O que dizem?