sexta-feira, 24 de março de 2006

Fun, love and crime

Camarim. A palavra por si só já o indica, mas nunca tinha pensado nisso realmente. Trata-se de uma história verdadeira, transmissível até certo ponto. E prometo que vou esticar os limites ao máximo. Recuemos então uns… quê? Cinco anos? Sim, acho que não estarei longe da conta. Entremos na sala de concerto “Paradise Garage”, ali com o vermelho férreo a fazer de palmeira e o rom-rom da velha ponte Oliveira Salazar de perna aberta em cima do rio. “Fun Lovin’ Criminals” em cartaz. Eu estava sozinha lá à frente, mais perto era impossível. Toquei nos dedos do gajo que se roçava em palavras e sons ali para cima de um público entusiasmado, ondulante. O motivo nem vem ao caso, mas foi esse acaso que me fez descer ao ground zero e anos depois contar esta slow story em rewind.
Queria descer ao camarim, dar uma palavrinha àquele troque de mãos - nem sempre me sai, mas quando sai, não gosto de entupi-la. Depois dos encores, plantei-me frente ao Pitt Bull que tapava a portinhola para a cave, como quem guarda uma Lady D em missão especial na Ásia. Logo depois de mim caíram da galáxia cinco miúdas, miúdas pitas, pintinhas, a mandar bocas ao hot dog. “Vá lá, vá lá…”. A minha retórica era um pouco mais erudita, mas pouco, confesso. Àquela hora já os dicionários e silogismos estavam de rastos, afundados em 'extro-álcool-versão' inconsequente. Acho que o vá lá vá lá durou 60 minutos, mas com o bar ali ao lado, passou depressa. As miúdas não tinham mais de 16 anos, mas atenção que podiam entrar em qualquer vídeo-clip “Candy Shop”, por muito mais que 50 cents. Eu nunca tinha visto aquilo assim tão de parto ('perto', perdão). Decotes, maquilhagem, saltos paridinhos em noite bem alta, cabelos longos e cuidadíssimos, styling a 280 km/h, e um savoir fair ardiloso. Só face to face percebias que aquilo eram mesmo reais, e menores de idade. Quando as portas finalmente se abriram para entrarmos nas catacumbas – o Pitt Bull derretia-se por dentro, mostrando que era afinal um pote de natas mal batidas - eu percebi que me tinha saído a lotaria de um filme a preto e branco. Abri bem os olhos vidrados e disse para mim baixinho: “Vê lá mas é se vês tudinho”. Descemos as escadas fundas em direcção ao Camarim. Eu e a mais guapa do grupo (vou-lhe chamar Carmim), mano a mano, ambas à frente – o meu papel ali estava por definir, mas tinha chegado primeiro, e tinha tanta vontade de entrar quanto elas. A meio da escadaria, Carmim olhou-me por segundos: “Boa Sorte” - nos olhos, e sentido. Eu? Não disse palavra, ponho as mãos no fogo. Abanei-lhe o queixo e fiz zoom. No fundo da escadaria que parecia escadarona,... a sala onde os so called ‘criminosos’ estavam. Sentados em relax, junto a uma mesa com muita garrafa, casacos suados, tempo sem pressa. Pareciam acabados de acender uma fogueira num chalé suíço com muita neve lá fora. Carmim atacou o vocalista com uma garra e um chicote. Como se não o visse há dois anos e fosse sua amante há três. Sentou-se ao seu colo, beijou-o de imediato, viajou por ali fora sem nunca pôr o pé no travão. Ele, sentado no lugar do morto, desapareceu naquela cor de sangue quente. Saudade matadora. Duas das outras pitas seguiram a performance carmim, em profile low, mas escola feitinha. Eu fazia de conta que era eu. Apenas. Servi-me de um copo, relaxei, troquei umas palavras comigo, observei o romance. Carmim e seu Romeu, fuck it, passaram a outra sala, ali ao lado, os outros pares actuavam e eu dei o shot, votei para cima, agradeci o que tinha a agradecer e nunca mais vou esquecer.
Desde então, os Camarins, só se valerem mesmo a pena.

10 comentários:

Anónimo disse...

E ainda por cima escreve bem... :-p

Isabel Freire disse...

Caro Adamastor, props idem.
:)

Mimi disse...

Bela história, agarra-nos até ao fim! E a protagonista deslocada está... muac!

péssima disse...

eheheheh, pois bem se via o brilho nos olhinhos sempre que dali desaparecia.

Gaja, rabiscas baril cmócaraças!!!
:)

Mimi disse...

Bem, como consigo ler os últimos comentários no Sinto-me com Sorte, mas não consigo comentar lá porque não me aparece a página nem com mil refrescos, aqui vai:

também eu fiquei aliviadíssima por deixar de dar de mamar aos 5 meses de cada uma, principalmente porque deixei de estar presa à hora da mamada.

mas adorei a experiência e nunca tive grandes dores ou problemas. também não vi nada de sensual ou erótico nas mamadas - muito pelo contrário. não há nada de sensual numa rodela branca cheia de líquido amarelo. Nem nos caroços, nem nas gretas nos mamilos.

Via sim uma coisa animal, que me enchia de um inexplicável orgulho. Além disso era mesmo aquele tempo em que eu e bebé nos fundíamos e não havia nada nem ninguém por perto. Um luxo. Amei dar de mamar. Tenho saudades, até.

Em relação à tipa que secou o leite para não estragar as mamas: eu não sou do género de atirar pedras, mas isto de não dar de mamar para não estragar umas mamas que mais cedo ou mais tarde vão ceder às leis da gravidade acho bastante imbecil.

As minhas não resistiram assim lá muito bem. Talvez tenha sido dos dois partos seguidos - murcharam um bocadinho. Eram duras e empinadas, agora são moles. Bah! Não me importo mesmo nada. São mamas de quem deu de mamar e não mamas de adolescente de 15 anos.

Isabel Freire disse...

:) Reeefrescos! Reeefrescos! Reeefrescos!
OK, anuncio publicamente que acabei de definir o conceito do fim-de-semana: R++++++++!!!
É mesmo disso que estou a precisar,... litros de água colorida com docinho a qualquer sabor. Agora bebia um litro ou tomava um banho nuns milhões de milhões de litros dela azul.
Quanto a mamas,... a minha medida sempre foi a inversamente proporcional à que a MM me 'vendeu' mais abaixo. 32, portanto, com possibilidade de um tamanho acima, dependendo do modelo. Sobrevivi bem aos 6 meses de mamadice, e à tua semelhança, também gostei de me sentir mamífera, mas com prazo limitado.
De resto, conhecer a Ursula teria sido efectivamente uma óptima ideia. Eu acredito que as coisas têm os seus tempos, fica para mais tarde.

JFC disse...

paraagradecer-te o link e a visita, obrigada, jinhos

JFC disse...

agora (depois de ter lido o post) é para elogiar: q cena fixe, q relato, q prazer q foi ler esta cena do camarim!!!! jinhos mil!

JFC disse...

a virginia (in her own style) n teria feito melhor!!

Isabel Freire disse...

Obrigada pela leitura, passarinha, e pelo 'feed front'. Entre mim e a Virgínia, só mesmo a loba e a vagina.
:)