sábado, 31 de dezembro de 2005

Happy New Year

Desejo um ano cheio de estilo, empreendedor e com mil sucessos para todas as MMas e não MMas.
Ando sem palavras por isso o melhor mesmo é esperar que o novo ano me traga algumas...deve ter sido a dor de garganta e a gripe que só agora começa a passar que as levaram para conserto...
Bom Ano a todas(os) e até para o ano!!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Rolling stone!

Queria fazer uma mão cheia de agradecimentos, antes do ano terminar:

-Ao JPSimões pela forma como canta “Inquietação”, uma música que terei ouvido em 2005 tantas vezes quantos dias o ano teve (no mínimo).
-À minha vizinha de baixo, tolerante, pela vezes em que lhe deixámos cair umas caixas de lego na cabeça, ao sábado de manhã.
-Ao Tejo que nunca me deixou sozinha à noite, nem à raposa.
-Ao barulho dos navios que algumas vezes me sobressaltaram dos pesadelos em que estou numa ilha deserta e só tenho duas tâmaras no frigorífico.
-Ao homem com quem troquei cinco minutos de conversa ao balcão de uma loja de discos, em Lisboa, por qualquer coisa indefinida que me deu (desconfio que era um anjo de guarda).
-Aos operadores de telemarketing da Portugal Telecom que me ligaram quase todos os dias à hora de jantar a tentar vender tarifas, por se terem rido das minhas piadas e nalguns casos, aturado o meu non sense.
-Às velhinhas do bairro por continuarem vivas.
-Aos taxistas que me conseguiram fazer chegar a tempo quando estava atrasada.
-À mulher que me ouviu 10 horas (uma por semana), numa sala despida, com dois sofás, um armário com coisitas de primeiros socorros e onde percebi que estava a correr, parada.
-Àquele banho, naquela praia em Tavira, onde ondulei como alforreca.
-A todas as pessoas que me confiaram segredos. Sem eles acho que teria definhado.
-Ao meu corpo, por ter aguentado as refeições que passei, as noites que rebolei.
-A todas as mães solteiras e sozinhas por esse mundo fora, por tudo e por nada.
-A todas as mmás que escreveram/leram este blog e pisaram a Casa dos Dias d’ Água, pela sintonia, o carinho, a partilha, a iniciativa.
-A essa casa por ser tão bonita.
-Aos meus amigos, alguns em particular, todos sabem bem porquê.
-À minha família, com negrito, sublinhado e itálico.
-Ao meu companheiro por acreditar sempre em mim, mesmo quando eu própria desconfiei.
-À minha filha por me existir.
-Ao meu coração por bater.

PS: Ao cão que ladra no quintal do lado. Às vezes era como se fizesse dele as minhas palavras.
2006 só nos pode ser fantástico!

Yours,
VW

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

:)


Cá estou eu de volta, ainda com os olhos listados de tanta barra natalícia mas já com os dizeres preparados para o ano que há-de vir.
Tenho de dar os parabéns às MMAs activas. Sim senhora, 701 visitas, nada mau para dois meses de actividade.
Agora vou bisbilhotar, que nem vizinha do lado, os posts e comentários.


Nestas alturas só flores e chocolates e em grande quantidade!
Para uma vagina MMA!!!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Desabafo

Aqui está um post que acabei de censurar há dois minutos. Como se fizesse sentido!!!

Acho que o verbo foi muito bem inventado. Desabafar. Tirar a tampa, deixar entrar o ar. É isso que me apetece. Abrir as janelas. Sair à rua. Escarranchar a boca. Soltar o nó.
Por que raio é que criaram as casas inteligentes? Os relógios que se regulam por satélite (temos um cá em casa, que não é português, e acordo todos os dias - ilusoriamente - uma hora mais tarde)! As terceiras gerações de tudo e mais qualquer coisita! Até as latas de conserva fáceis de abrir, e ninguém pensou em condomínios abertos, mother/father friendly – não estou a falar de casas com elevador, mas de verdadeiras comunas, com um sistema de organização a funcionar e facilitar? Why? Ninguém pensou em cinemas onde se pudesse levar os meninos, os carrinhos de bebé, lambuzar as cadeiras de iogurte, atirar bolas ao ecrã gigante! A que propósito todos (tirando um caso ou dois) se esqueceram de pôr um espaço infanto-recreativo nos restaurantes? Como é que só fazem concertos a que me apetece ir depois das 23h00? Aquela coisa de adoptar um bicho do zoo... eu acho que se podia fazer o mesmo com os casais ou singulares que estão sozinhos, aqui ao nosso lado, no nosso bairro! Ter um avô e uma avó mais pertinho, dava-me uma grande ajuda. Por que é que o dia só tem 24 horas? Como diminuir o défice das finanças domésticas? Por que é que não tenho um trabalho certo, fixo, rotineiro? Hoje, definitivamente, não me apetecia estar em casa. Why, why, do you work everyday night?
Às vezes, apesar de pensar que a minha vida é um mar de rosas, sinto-me abafada.

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Abetarda do Diabo

Não resisto a transcrever-vos uma receita (nº 2121) que encontrei na minha prenda de Natal, O Livro de Pantagruel. A obra tem 1900 páginas e foi a primeira que encontrei ainda agora, depois de pôr a raposa a dormir. Parece-me muito interessante sob vários pontos de vista. Super prática para quem chega a casa tarde e mmás horas, depois de um dia de trabalho intenso e com uma criança faminta. Já para não falar do risco de sermos visitadas por uma organização de defesa da vida animal. Aqui está ela:

"Abetarda do Diabo – 1
Marinada (ver entrada nº 232)
Court-bouillon, (ver entrada nº 56)
Molho do Diabo, (ver entrada nº 148)
Azeitonas pretas descaroçadas, 100 g
Acompanhamento: batatinhas estufadas, (ver entrada nº 2626-2)"

"Decorridos 4 dias de mortificação, depena-se, esvazia-se, lava-se e enxuga-se a ave [uma nota prévia explica: "a Abetarda, praticamente extinta na maioria dos países da Europa (também conhecida por Batarda) existe miraculosamente entre nós com relativa abundância nas planuras sul-alentejanas. Desconfiadíssima, mal pressente a aproximação do homem bate as asas e dispara em correria até conseguir levantar voo." O livro é fantástico! Uma verdadeira enciclopédia com dicas para caçar e pescar. Tempo e vontade não me faltam! OK, continuando...] "Mergulha-se na marinada e mete-se no frigorífico, dando-lhe voltas de tempos a tempos. Cinco dias depois [só????..], escorre-se e coze-se no court-buillon até ficar tenra, o que leva bastante tempo. Retira-se, trincha-se e dispõem-se os pedaços num prato aquecido em redor das batatinhas em monte, regando-se com o molho do diabo bem quente [não me sinto com forças para ir ver o diabo do molho, mas deve ser mais fácil de apanhar], ao qual se incorporaram no último instante as azeitonas em pedaços".

Acho que preciso de um retiro espiritual para conseguir fazer o meu primeiro prato receitado!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

“É sempre o mesmo homem”

É natural de S. Tomé e Príncipe, tem 35 anos, cinco filhos, e vive em Portugal há mais de uma década.

-Que idade tem o teu filho mais velho?
-18 e o mais novo tem 9.

- És casada?
- Não, solteira.

- Nunca casaste?
- Não, não quero, gosto só de viver junta.

-Porquê?
- Casando ou não casando é a mesma coisa. Quando portam-se bem e amam um ao outro é um bom casamento também.

- Em S. Tomé as miúdas começam a ter filhos com que idade?
- 12, 11 anos, por aí,...

- Como é que foi contigo?
- Por amor, foi! Queria ter o filho.

- E fala-se sobre sexo na família?
- Não, em S. Tomé não.

- Tu falas com os teus filhos?
- Olha, eu com os meus filhos não falo, mas elas falam comigo. Fazem-me perguntas.

- O que é que perguntam?
- Tudo.

- Tens miúdas novas?
- Uma com 13.

- Não tens medo que lhe aconteça o mesmo?
- Não. Elas estudam na escola, dão matéria disto. Agora elas sabem tudo, propriamente mais do que nós que já temos montes de filhos. A minha filha começa a dar-me explicação de isso e isso. Elas falam-me de tudo.

- Sabes o que é a sida?
- Eu não sei, mas já ouvi falar.

- Tens preocupações em usar preservativo?
- Não, nem por isso. Só vivi com o meu marido, não sei nada disso. É sempre o mesmo homem, é por isso. Eu não vivo com ele. Ele arranjou outra mulher. ‘Tou sozinha com as minhas crianças, mas ele vem a casa ver os filhos.

- E não queres outro namorado?
- Não, não quero.

- Porquê?
- Não, só o meu marido já me chegou.

- Não ficas muito sozinha?
- Não, ele vem a casa sempre que quiser, vem a casa...

- Mas vocês têm relações?
- Não, convivemos normalmente.

- Como se fossem marido e mulher?
- Sim, ele nunca me deixou, eu é que reparti assim até ele tomar um pouco de juízo. Mas depois pode voltar a casa. Tem outra mulher, tivemos assim um pouquinho de confusão. Ele não queria ir, eu é que disse a ele para ir.

- Tens esperança que volte para ti?
- Tenho, tenho muita fé.

- E tens paciência para esperar?
- Ah, muita paciência. São 21 anos e tal a viver juntos.

- E não tens ciúmes?
- Não tenho, por acaso não tenho.

-E em S. Tomé?
- Olha, em S. Tomé o meu marido teve outras mulheres, e eu nunca vivi isso aí. Nós convivemos muito bem. Não teve problema nenhum.

- Mas tu sabias que ele tinha outras mulheres?
- Ele falava comigo. Nunca me escondeu nada.

- E tu não te importavas?
- Não, por acaso não.

- E se tu tivesses outros homens?
- Ah, isso tenho a certeza que ele se importava [ri-se]. Eles podem, a gente não.

- A geração das tuas filhas vai mudar isso?
- Não sei, depende delas. Conforme eu aturei o meu marido, tenho a certeza que elas não aturam isso. Não têm a paciência que eu tenho. Elas não toleram o que eu tolero, eu aguento tudo.

- Que futuro queres dar aos teus filhos?
- O que eles escolherem ‘tá bom.


- Como é que é S. Tomé?
- É uma terra linda, é um país pequeno mas é muito bom.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

As Mutantes

O comité central das mmás deseja a todas as camaradas obreiras e parideiras uma consoada cheia de pratos para lavar e deixa um interessante enigma para resolver com a família depois do bacalhau desfiado:
Suponhamos que um astronauta chega a um planeta onde só existem 3 classes de seres:
Os verídicos (dizem sempre a verdade), os mutantes (ora falam verdade, ora falam mentira), e os mentirosos (que mentem sempre).
O austronauta pergunta a um deles:
-Já mentiu alguma vez?
-Sim.

De que classe se trata?

;)

mais um!

Esta coisa do Natal é difícil de entender...

Este Natal é particularmente estranho: sem avós já, os presentes comprados à pressão, as tradições que teimamos em cumprir mesmo que isso nos custe horas de sono e mãos de estivador, já nada parece fazer grande sentido.

Não faz mal - é mais um e vou render-me mais uma vez... FELIZ NATAL

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Feliz Natal!

Feliz Natal!!!!
Há um ano comecei a minha vida de mãe, perdi quase simultâneamente a minha avó materna, a última, dos avós, a deixar-me à sorte de ser a 2ª geração na escala de hierarquia familiar. Senti que ela esperou por conhecer o bisneto para sair de mansinho, como ela gostava, sem grande alarido. Lembro-me todos os dias dela, cada vez que olho o meu filho porque foi ela que ajudou os meus pais comigo e com o meu irmão até aos quatro anos. O meu avô estava por casa, já reformado na altura e ajudava muito, brincando connosco e ela era "dona de casa". Nunca desesperou connosco nem com o meu primo que também fazia parte da turma - lembro-me de uma postura serena de uma mulher muito bonita fã da Greta Garbo que ía ver ao cinema quando adolescente. Esta minha avó tocava piano e falava inglês, tinha um humor genial e também sabia fazer uns rissóis de camarão como eu nunca mais comi iguais, entre outras iguarias. Como é possível? Lembro-me de uma avó que parecia uma actriz de cinema, a cozinhar e a ensinar-me a descascar batatas e outras vezes sentada ao piano a tocar Chopin e eu de olhos postos nas teclas e nas suas mãos, tentando aprender alguma coisa. Lembro-me deste glamour numa vida simples, de dona de casa, e chego à conclusão que a imaginação pode fazer milagres. Saudosos anos 20 do século passado que ensinaram esta coisa fabulosa de que a vida pode ser uma festa!!! De que estamos à espera????
Feliz Natal!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

AnteSpassados

A trisavó era enfermeira, e vestia fato e gravata, nos fabulosos anos 20, em Berlim. Uma mulher corajosa, que escondeu judeus na sua casa. Há umas fotografias gastas nos álbuns de família. A bisavó conhece bem a biografia, e conta-a com um rigor e humor cortantes, duas características que estende sobre a mesa, ao lado dos ovos soviéticos orgulhosamente preparados. Hoje tem 75 anos, fuma cigarros contra a vontade do médico e lê livros de espionagem na sala da sua casa na capital alemã (ex-Leste). Economista, apaixonada pelo ideal de um hemisfério germânico de esquerda, na última vez que estivemos juntas, há um ano, pelo Natal, em Tavira, cravou-me um 'Camel' no varandim da casa alugada com vista para o azul. “Já não fumava um destes há mais de meio século. Depois da guerra compravam-se a preço do petróleo no mercado negro”. Este é um gomo da ascendência da minha raposa. Outro: a trisavó portuguesa era a curandeira da aldeia, perdida no meio de uma serra cheia de figuras místicas. Batiam-lhe à porta as mães dos meninos doentes a quem ‘virava o bucho’ perto da fogueira. Não existem retratos. Só as impressões que as duas gerações seguintes transmitiram de boca em boca. Laura, a bisavó, não seguiu as pegadas da mãe. De canela ao léu, em pleno Inverno chuvoso, subia às oliveiras do quintal, já com 80 anos nos calos. Tinha uma memória de elefante. Sem saber ler nem escrever, deu lições de vida, pela força, inteligência e sátira incomparáveis, até bem perto de fechar a porta e ir-se embora. Tenho muitas saudades daquele escárnio atípico. Chorava e ria ao mesmo tempo, quando se lembrava do que tinha passado na vida. E isto é uma coisa que nunca observei em rigorosamente mais ninguém. Os dois universos, estes dois mundos, assim cruzados, parecem absolutamente alienígenas.
Às vezes imagino como seria pô-las às quatro na mesma casa a passar um fim-de-semana. Outras vezes penso sobre as rotinas dos meus dias, e pergunto-me como entrarei nesta escada de ser em devir?

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

My Mother / My Self

“Somewhere in the middle of your book [My Mother / My Self, de Nancy Friday] I did have to get some sleep and during that night came the following dream:
I was traveling by train. My mother was with me and we were sitting at a little table by the window. We both had the same little red handbags – almost like purses. My mother wanted something from her handbag and took the wrong one from the table. She opened it and saw it was mine.
‘Mom, you have my bag’.
‘Oh, do I, well never mind, they are similar anyway.’
‘But I have all my things in there.’
‘Oh, well, if you are being so childish about it…’
And there, as she absentmindedly gave me my way, she wrote her name in may bag! I couldn’t utter one word in astonishment. Case closed.
Hours later I realized in a shock what those intriguing red purses meant – she had stolen my sexuality and my person with it. She stole them so easily as if they meant nothing at all. And I just sat there and let her do it. (In Dutch * there is an old fashioned word for purse that is also used for vagina in slang.)”

In Women on Top, Nancy Friday

Ops, abri o livro ao acaso e a primeira coisa que li foi isto...

* E não disse que a carta enviada à autora vinha de uma mulher holandesa.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Eu sou MMa
Mesmo MMa
e Vcs todos vão ver
Como é
Ser Mulher
e Mãmã ao mesmo tempo
Trabalhar, Não falhar
Não poder adoecer
e ter de
responder
ao desafio, sem desvio,
que é o
de vencer
o cansaço, a rotina
essa traquina
que nos faz esmorecer e
deixar de pensar, de ler e comunicar
Mas a MMa, se é MMa
luta por fazer viver
o coração e a imaginação
com humor e muito amor
Acredita que pode ser
mãmã e mulher sem perder
pitada da cor da vida.

RECEITAS PRECISAM-SE

Mães bravas, corajosas e experientes, ajudem-me!!!
Que fazer quando se esteve a cozinhar para a família toda e toda a família resolve boicotar o jantar?

Prenda?!?

A criação da mulher:
Deus pegou na leveza da folha e o rabo do gamo,
A alegria dos raios de sol e as lágrimas do orvalho,
A inconstância do vento e a timidez da lebre,
A vaidade do pavão e a maciez das penas da andorinha.
Somou a dureza do diamante, o doce sabor do mel, a crueldade do tigre, o calor do fogo e a frieza da neve.
Fundiu tudo e formou uma mulher. Então ele fez dela um presente para o homem.
[do original sânscrito, antigo idioma da Índia]

Ó, valha-nos deus!

Física quântica

A pita da vizinha é melhor que a minha

Correm rumores sobre estudos de alteração genética no físico feminino. A concretizar-se, esta descoberta permitirá que os tomates do foro psicológico ganhem volumetria concreta. Aguardamos mais desenvolvimentos.

domingo, 18 de dezembro de 2005

Consultório MMAs

Lavamos as culpas na casa dos dias da água

Secção: Mariazinhas estais à janela

Pergunta:
Eu vou beber umas bejecas, depois de ir ao futebol libertar a minha síndrome de tourette, enquanto o meu companheiro fica a passar a ferro e preparar o jantar. Quando chego tenho de o ouvir em verbalizações impróprias. Que fazer?

Pergunta:
Em tempos fui petiza, que sou eu agora?

Secção: A pita da vizinha é melhor que a minha

Dúvidas verdadeiramente existenciais:
Quando coço os tomates não deixo a ganga russa. Será apenas uma questão física?

Pergunta:
O meu companheiro tem um caso com o comando da TV, na nossa própria casa, no sofá onde me sento todos os dias… será indicativo de homossexualidade? Como podem as MMAs ajudar-me?

Secção: A rata roeu a rolha e não deixou vestígios (workshops)

Objectivo:
Updates para varinhas mágicas (de fadas do lar)
Pré-programação para sopa bem passada e sopa com gorgulhos. Ligação à internet para actualizações mensais.

Objectivo:
Como pintar as unhas sem gastar 25 euros.

desAspiro

Eu digo o que é desespero:
Ter um marido que insiste vigorosamente na manipulação constante de electrodomésticos, tipo aspirador sempre que encontra um cisco destacado na brancura do chão.
dois pontos espaço parêntesis.

‘Des(en)graçadinhas’

Pus-me aqui a pensar nas conversas que foram trocadas nas MMÁs e de facto nunca falámos mal dos maridos (mesmo que todas tenhamos vontade de o fazer às vezes, como é saudável, e obviamente recíproco, mas não só entre casados, também entre irmãos, amigos, vizinhos, colegas). Acho que uma vez falámos sobre a culpa, mas foi assim uma coisa meio a correr, e cheia de bocas e graçolas pelo meio. De angústia tivemos pouco ou nada (lembrem-me,... se me esqueci de alguma). E na verdade, apesar de não fazermos tapetes de Arraiolos quando nos encontramos, a ideia da geometria temporal de duas horas, da leveza de uma sala sem móveis, da distracção que pode passar apenas pelo facto do não-facto, partilhado, enfim, já me perdi um pouco. Estava eu a falar, a querer dizer que nas MMÁs, sem qualquer combinação ou pacto, e eu juro que não faltei dia nenhum, nunca ouvi um lamento, daqueles que se atiram assim gratuitamente para cima do outro (neste caso a outra), nenhum toma lá a minha angústia que eu já não posso com ela. Pelo contrário. E ainda bem. Porque é essa a ideia. Quando fomos contactadas pela Ana Cristina Gomes, a primeira reacção foi dizer que o projecto ainda nem sequer se tinha estreado e que estávamos a tentar perceber como se construiria. Acerca da dificuldade de se ser mãe, acerca da dificuldade de se ser mãe e mulher, acerca da dificuldade de se ser mãe e mulher e profissional, acerca da dificuldade de se ser mãe, mulher, profissional, amiga, cidadã, vizinha, eleitora e mais que a casa gaste, sim, o assunto era reportável do ponto de vista jornalístico e pertinente, mas que as MMÁs teriam eventualmente sentido para uma pequena caixa, no global do artigo, explicando o objectivos e pouco mais. Perante alguma insistência e confiança nas boas intenções da jornalista, que não estão em causa, acabámos por dizer que sim, telefone, falamos, venha, apareça, mas veja lá como trata o tema, não se esqueça que é a nossa intimidade que está em cima da mesa, a nossa vida muito muito pessoal. Hoje, vejo o título e fiquei logo sem vontade de comprar o jornal, juro. E eu agradeço o desespero que me oferece o texto, mas devolvo, porque não é meu. Donas de Casa Desesperadas, tenha ou não alguma coisa a ver com séries televisivas, não é mesmo o meu filme. Afinal as questões que estiveram na origem de uma vontade de ir ao Domingo jogar à macaca com mais umas mulheres que levam os filhos atracados ou não, e conversar ao som de gritaria infantil e um Funk-Blues-Jazz-Kizomba-Bossa-ou-venha-o-diabo-e-escolha, o que acontece é que esses motivos, esses mesmíssimos motivos que devem ser transversais e variar muito, e pouco, entre os lares doces lares, o que acontece dizia eu, onde é que eu ia? O que acontece (estou a tentar ganhar tempo...sempre o mesmo desespero :-) é que a peça da GR estraçalha o bicho em cima da banca, tira-lhe as vísceras e o efeito dos motivos, a coisa propriamente que todos esperavam ler, o projecto... a opção pela leveza, o investimento na partilha, a descontracção no colectivo, o bom humor, a esperança... onde estão?
Bom, nunca mais me calo. Próxima sessão: terapia de grupo (hard core). Tema: como não desesperar quando o desespero que nos desespere ou não, se torna público? Tragam drinks!

sábado, 17 de dezembro de 2005

....

Li o artigo na Grande Reportagm e deseperada fiquei depois de perceber o sentido que deram à coisa. Com foto a condizer e tudo. Felizmente o desespero que senti quando o meu filho nasceu passou porque conseguimos equilibrar a nossa família agora com mais um elemento. Tem sido um percurso complicado com avanços e recuos mas o amor que existe entre mim e o pai do meu bébé nunca esteve em xeque e magoou-me muito, e muito mais ao meu companheirão, perceber que isso não se entende ao longo da reportagem. Eu acho que é importante que se diga que felizmente estamos todas sãs, mentalmente falando, ou não teríamos acordado "dar a cara" e isso deve-se muito ao apoio que temos tido da família, amigos e da nossa entreajuda, pelo menos falo por mim. Talvez tenha sido ingenuidade minha não precisar este ponto ou talvez tenha sido teimosia puxar o sentido das MMas para as "Donas de Casa Deseperadas" que eu acho absolutamente descontextualizado. Sinto-me obrigada a pedir desculpas porque tenho um marido doce e sensível que não merece de maneira nehuma ser retratado publicamente de uma forma tão redutora - se queriam levar o sentido da reportagem para aí muito mais havia a dizer e certamente o que diria é que este filho nasceu de um grande amor e está a ser criado com muito amor. Arrependo-me de ter aceite as fotos porque agora percebo o poder das palavras e das interpretações que delas se fazem.

Do nade casades esperada!

Dona, só do meu nariz! E mesmo assim ele prega-me partidas viscosas.
De Casa desarrumada, sempre. E quando arrumada não é por minha iniciativa.
Desesperada nunca! Uso o sistema de ditadura matriarcal.

"Dona de casa desesperada"

Não, não sou, obrigada. Eventualmente, (e)leitora desesperada.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

"Ser o Quinto"

É o título de um livro que a minha filha ganhou de presente há um ano. Trouxe-o um amigo alemão que veio passar em nossa casa o delirirum tremens de uma relação que acabou em fiasco, e ele em fanico. Esteve cá uma semana a destilar. Levávamos os dois a raposa à creche e pelo caminho ele falava alto, recapitulava, reinterpretava as nódoas negras, as saudades, o desejo, tudo isto numa cadeia de explosões realistas, como tremoços.
Funfter sein é o retrato de três coisas: a extraordinária inteligência e sensibilidade deste amigo, a importância de haver histórias sem grande acção, mas sobre um mundo com espírito, que não seja apenas a natureza morta que 70 por cento dos livros infantis nos impingem aos meninos e, finalmente, a relação incestuosa entre a espera e o medo. Voltando à segunda - mais pacífica - aos dicionários e enciclopédias que publicam para leitores a partir dos 3 meses (antes são meio ceguetas), voltando ao ovo, à tartaruga, ao comboio, à batedeira, ao sapato, à minhoca, ao computador, à saia, ao anel, ao que é isto, e isto, e aquilo... também os tenho cá em casa, também os comprei, mas estou farta de os ver.
Funfter Sein – em português, Ser o Quinto – é uma coisa simples (mas cada vez que o leio, encontro um sentido diferente). A história de um compasso de espera. Cinco bichos-brinquedos, daqueles a que se dá corda com uma chavinha metálica, esperam numa sala. A porta abre-se e entra um no consultório. A porta fecha-se e os restantes esperam. A porta abre-se, o primeiro sai e lá vai outro. A porta fecha-se e restam três. Assim, repetidamente, até ao último, que finalmente vê a cara do médico, um clínico de brinquedos, com ar simpático.
Acho que uma das palavras que mais digo à minha filha é “espera”. Curiosamente, um dos verbos que mais me custa conjugar actualmente. “Espera miúda”, que já está quase. “Espera, tens que aprender a esperar um bocadinho”.
Fuck it, quem espera desespera. Over.

MÉÉÉÉ.......

Devo confessar-vos que ando numa fase menos mmá...deve ser isto do espírito de Natal que combina muitíssimo bem com filhotes e bébés....Hoje foi a festa de Natal do Meu e ainda estou a segurar o queixo e a apanhar a baba com a mão....o bébé foi um mémé na festinha!!!! e estava LINDOOOOOO de morrer com guizinhos e tudo....
Ontem foi ele que me deu jantar - 1/4 de carcaça e 2 bolachas Maria - fiquei muito bem :)
Ando um bocadinho deslumbrada com isto tudo - parece que de repente tenho mais um amigo - o meu filho!!! Havemos de combinar mais festinhas com filhotes para os mais velhinhos ensinarem os mais pequeninos - DJ Raposinha a bombar!!!! Péssima: tabm recebi postalinhos feitos pelo bébé - fantásticos.
Amanhã vou e venho ao Algarve por isso vou aproveitar estas horas para dormir até ao biberão da meia-noite.
Durmam bem.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Regalos

Ah, nada como a época natalícia.
Os miúdos chegam a casa felizes com as prendas lúdico-educativas.
Ora vejam:
Em simultâneo com um cartão de Feliz Natal 2005, manufacturado pelas próprias crianças (bem engraçado, com uma estrela feita em barro) o meu filho mais novo empunhava satisfeito um jogo que o Pai Natal, daqui do concelho, lhe tinha oferecido.
É bom ver o primeiro brilho natalício naqueles olhos que me derretem. Mas fiquei ainda mais derretida com o cuidado, com a preocupação genuína de quem decidiu a prenda propriamente dita:
Jogo “Ludo”, tabuleiro com 10X10 cm, dado com 4mm de aresta, peças (tipo damas) com 2,5 mm de diâmetro e explicação do jogo nas línguas espanhola, alemã, francesa e holandesa.
Então não é bonito?
Eu acho. E concordo com estes dirigentes do meu concelho, há normas que devem ser ultrapassadas e reinterpretadas. Assim, acredito que a intenção de proporcionar uma aprendizagem de manuseio minucioso esteve presente na escolha deste jogo com peças tão pequenas. E quanto à ausência das regras do jogo na língua portuguesa, tem uma explicação subtil, mas ambiciosa: desenvolvimento do pensamento de globalização e preparação para integração em ambientes europeus de mentes brilhantes.
Ainda falam mal dos nossos governantes!
Força Oeiras, tu marcas o ritmo.

Talvez.

Aprendem-no antes mesmo do tão esperado papá ou mamã.
Fatídico, o 'não' pré-consciente das crianças, e uma vez dito, nunca mais cessará de nos moldar, sempre à vontades delas.
Partimos para o caminho da educação do sim:
– Come a sopa
– Não
– Sim.
– Come a salada
– Não
– Sim, insistimos até ao desespero.
Quando crescem um palmo apercebemo-nos do uso da magia da pré-negação:
– Não faças isso – tentamos.
– Faço.
– Não comas isso – dizemos felizes, no tom da segurança de quem sabe o resultado.
– Como.
Uma conquista aparente, pois rapidamente se ultrapassam e aprendem a chantagem:
– Mãe quero aquilo.
– Não.
– Se não compras então eu…
Ou em forma requintada:
– Mãe gosto tanto de ti…
– …
E eles usam os momentos da nossa ‘cegueira babosa’ para pedir seja o que for, quando nos tornamos conscientes é tarde demais.

E assim vamos crescendo com elas, em ensaios de apalpações diversas.
É neste processo que acabamos por nos esquecer dos nossos ‘não’.
Quando damos por isso já não os sabemos usar, e aplicamo-lo nas situações erradas, como se fossem meras concordâncias.
Quantas de nós ainda fazem birras de nãos? Ah, pensamos, já não temos idade para essas coisas, não nos fica bem agora que somos mulheres-mãe.
Digo ‘sim’ com mais facilidade do que digo ‘não’, e muitos dos meus ‘sim’ são pura preguiça. Sei que as minhas crianças, pelo menos, vão repetir este ciclo. E só depois poderão reconstruir os ‘não’ puros.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Viva Nós!!!VIVA!mix...

Bom Dia Amorzinho!!!
De pé flecte as pernas agarrado às grades da cama e eu vou direita a ele como se não o visse há um mês quando na verdade estivemos juntos há duas horas na comunhão de um biberão. Hoje o dia parece mais brilhante depois de um fim-se-semana de sonho ou mais qualquer coisa que eu nunca imaginara!!!! De repente tudo começou a fazer sentido outra vez, valentes mmas!!!!
O pai salta da cama directo para o duche enquanto eu preparo o bébé para a escolinha. Mudo fralda, lavo a cara e penteio-o com colónia Johnson. Que biti mi à biti??? Calças de veludo cotelê e polo de riscas azuis com um casaquinho de lã. Beijo-o e vamos tomar o pequeno almoço!
Sento-me à mesa a olhar o Castelo de Palmela e o bé olha-me fixamente - sopra ! - faltam lá as velas mas diz-me que sabe que a vida mudou....passou apenas um ano mas não me lembro da vida antes de ti...Entre uma dentada na carcaça e um gole no leite com café, faço os meus pensamentos.
"Cada vez que olho para ti, reconcilio-me com o amor mas esta coisa de vasculhar dentro de mim sempre à procura não sei de quê, tem-me martelado os neurónios e eu sei que tu sentes isso.
Começo a encontrar pontas soltas - resquícios de mim - o que me leva a pensar na importância disto que tenho vindo a construir com as mmas...cá dentro"
Papá chega aqui....toma conta do filhote...agora vou eu tomar banho - duche e vestimenta. Sabem tão bem estes cinco minutos de água quentinha pelos ombros. Quase tão bem como a música tocada e cantada ao meu filho pelo seu aniversário - o primeiro - por três Santos mariolas, lindos e generosos como eu nunca tinha conhecido!!!
Começo mais um dia...mas decidimos depois de análise aturada de ranhoca constante a sair pelo nariz do filhote e dos seus olhos lacrimejantes que hoje eu e ele ficaríamos em casa; por isso consegui este feito de iniciar a minha carreira de blogger .
A soneca da tarde que agora termina deu-me 20 minutos para perceber como isto funciona - prometo voltar assim que tiver tempo. Beijos - Tenho de ir....

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Calada, eu?!

Fico sem argumentos. Ouço queixas sequenciais das faltas de estares descontraídos, e tudo o que se foi confidenciando como libertação, ao longo de anos. A solução, refiro eu, está aqui, agora à mão de semear. Eu até compreendo a doença das crianças ou os tão afamados afazeres domésticos, mas recuso-me a compreender a ignorância e o medo que dela provém. Não, não posso aceitar um “como explico uma ‘reunião’ só de mulheres, e que hei-de eu dizer se tiver de falar para todas?”. Fiquei incrédula. Como se explica que o simples facto de se estar entre quatro paredes, com elementos do mesmo sexo e experiências diferentes, não é sinónimo de orgia libidinosa? Esta inoperância mórbida é o reflexo do ser-se mulher portuguesa. Assustador. Prazer em sentir-me 'controlada'? Não obrigada.
Ainda bem que existem as excepções.

domingo, 11 de dezembro de 2005

eeeh

¡de rastos... acordei agora!

Home stinkst

"Só eu sei porque não fico em casa..."

sábado, 10 de dezembro de 2005



ver post: Festa-party

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Um problema de ph


Falta de paciência. É isso. Estou sem paciência nenhuma. Céus. Começo logo de manhã, sem pachorra para acreditar que tenho de saltar da cama. Não me apetece comer nada do que há no frigorífico. Se o telefone toca, aborrece-me, se não toca, queixo-me. Visto-me, mas estou farta do frio e só queria andar a suar em bica pelas vielas desta aldeia capital. A raposa abre o olho e a primeira coisa que diz é: Desenho! Como se pode acordar e ter uma vontade grotesca de começar logo a rabiscar? A seguir, ainda eu de pijama, quer brincar às lojas, vender-me fast food (salsicha, gelado, hambúrguer, e tudo o que me dá vontade de ficar em jejum até ao meio-dia). Corro para a banheira, no segundo em que todos cá em casa estão por segundos distraídos (exclui-se o peixe, que anda acabrunhado, já lhe mudámos a água como nos disseram os tipos da store de amigos pouco falantes, mas não era um problema de ph). Saio das minhas próprias águas um bocadinho mais paciente, mas por pouco tempo, confesso. Estou sempre a pensar que deveria fazer isto e aquilo, que aquilo e o outro também devia ser feito, lá enfio a chávena do leite a custo na máquina que mudou as mentalidades cá em casa, mas prossigo respirando fundo, como se as autoridades estivessem a caminho do bairro para me levar à esquadra e interrogar-me até contar o que sei e não sei.
Não há pachorra.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Festa-party: dia 11 às 16h00

Este Domingo as mmás estão em festa!
-Comemora-se o quinto e último encontro de 2005 – o próximo calha dia de Natal, estamos fechadas em casa a rechear o peru.
-Cantamos os parabéns a F. pelo primeiro aniversário – um sortudo com uma muito mmá mãe, que traz bolo e serpentinas.
-Aproveitam-se as cervejas de um bar muito recomendável que duas uruguaias abriram há pouco tempo lá na Casa, e com muito bons sabores, para brindar à fortuna que nos espera irremediavelmente em 2006.
-A Péssima traz massa para os miúdos fazerem bolo rei (com brinde) para cada participante levar para a sua própria e próxima reunião de condóminos.
-E queremos convidar pais, tios, avós, amigos, amigos dos amigos, e quem quiser para passar umas horas de caos a (des)comprimir na airosa sala das mmás na Casa dos Dias d’ Água.
-DJ por confirmar.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Inconsciente cleptomaníaco

Deixei as miúdas a falar sobre piercing, festas Erasmus, enfeites eróticos para as pontas de lápis, psicopatologia geral, a viagem de volta para Itália, e a Sagres que iriam beber no cafezinho da Graça, dali a minutos – são duas italianas, estudantes de Psicologia, uma completamente emotiva na forma de estar no mundo, outra completamente racional. Eu agarrei na pasta, troquei o nome de ambas à despedida, enfiei a borracha no bolso do casaco (o meu inconsciente cleptomaníaco terá pensado, pelo formato semelhante, que era um isqueiro, como todos os outros que trago diariamente sem nome nem morada), e pus-me a caminho de casa, a pé, a pensar que tinha saudades de decidir fazer qualquer coisa assim de repente, como apanhar o barco para o Barreiro e ir comer tremoços numa tasca a cheirar a petróleo.
Foram 25 minutos de caminho a pé. Há pouco tempo não me atreveria a desperdiçar tanto tempo, aliás, provavelmente nem teria essa hipótese. Hoje caminhei um décimo da força que tinha nos músculos, e quando cheguei a casa vinha com um fresco no cérebro. As italianas ainda devem estar a beber Sagres.

Rascunho de lista

A árvore está decorada com espaços em aberto para algo que há-de chegar. As luzes cintilam com as vontades da programação múltipla. A contagem decrescente faz-se lembrar constantemente com quero istos e aquilos:
– mano como se escleve sponge..
– S…P…O…
– Não, não, já não quelo o sponge, quelo umas botas, mano, mano, como se escleve botas?
– B…O…T…
– Não, tamém não, como se escle…
– Raio do puto que não se decide… ó mãeeeee o piolho está a chatear-me!
– N’stou nada.
– Estás.
– Não.
– Sim.
– Tu é que começaste!
– Ó dãhh!!! Tu é que precisas que te digam como se escrevem as palavras…
– Puke sou mai novo inda não sei scevê
– Então telefona, pode ser que o Pai Natal te perceba.
– Ó mama qual é o telefone do Pai Natal??
– Amanhã eu dou-to, agora ele está a dormir…
– ehhh tá semple a dulmirrr...
– Tá nada, não vez que é da diferença horária, entretém o bicho-das-castanhas.

: )

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Extraterrestre

O slogan de capa é: “O melhor filme dos marretas de sempre”. Se não for, é pelo menos uma obra imprescindível em qualquer ‘lar’. Gonzo descobre que afinal é apenas uma ‘coisa’ inclassificável, quando Noé lhe pergunta, à porta da barca e do dilúvio, “qual é a tua espécie?’. A saga desenvolve-se nessa busca de identidade. Os pormenores são deliciosos, e vemos os três cá em casa, curtindo montes, se querem saber.
Espero que Jim Henson reencarne em qualquer coisa com cabeça tronco e membros, na próxima vida, para continuar a fazer magia. À conta de “Os Marretas no Espaço”, tenho alcunha provisória para a raposa: "Oh extraterrestre, baza comprar o jornal!"

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Eu bruxa. Tu fada?

Estava eu aqui a tentar escrever qualquer coisa sobre o que poderia ter sido a “estória estroina” quando me apareceu um site sobre a desconstrução dos medos infantis na literatura infantil, nem de propósito.
Foi com base na crítica às narrativas de acontecimentos terríveis das historietas que a ideia surgiu, e foi com a falta de figuras realmente más que ela ficou. Mas não, não foi “tempo perdido”. Foi um ensaio. E só assim tudo faz sentido.
Bem, eu não tenho pretensão a que tudo se justifique com resultados palpáveis. Para mim este é o meu espaço infantil, e se me apetecer dizer disparates digo-os. Ponto.
Seja como for, aqui ficam partes roubadas a um site de alguém:

(...)
"O medo de bruxa pode ser relacionado a dois degraus da escada do desejo e do medo proposta pelo psicólogo Jean-Yves Leloup: medo da separação e medo de ser rejeitado pela sociedade."

“Desejo e medo são elementos fundamentais para a evolução dos seres humanos, uma vez que temos medo do que desejamos e desejamos o que nos faz medo”
...
"Instaura-se, assim, o dilema infantil: como sentir raiva de alguém tão amado sem ferir-lhe os sentimentos e perdê-la? Manifesta-se a necessidade de dividir a figura materna em duas partes que corresponderiam a fada, vertente positiva, e a bruxa, lado negativo."
...
"A bruxa, para vivificar esses desejos de vingança infantil, tem de corresponder a um ser detestável."
Cristiane Madanêlo de Oliveira

"Quando zanga, vira bruxa / Quando ama, vira fada."
Iêda de Oliveira

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Tragicamente decapitado...


Vendia gelados numa carrinha verde, e andava em círculos sem ficar tonto - o primeiro a perder a cabeça cá em casa (not my fault)!

domingo, 27 de novembro de 2005

Estória estroina

Mães/Mulheres de todo o mundo,...
Queríamos dizer-vos que as MMÁs se reuniram novamente (níveis de comparência muito acima da média – éramos cinco, uma delas com um filho que já não dorme sesta: tem 27 anos).
As crianças recusaram-se a trocar a mãe pela babysitter, a babysitter foi-se, e a sala acabou pejada de bolachas espezinhadas por dois pares de botas número 20 /22 que por lá andaram até ao final.
Começámos por gravar a estória, andámos ali a zumbir à volta de um monstro com um exército de mosquitos peritos em saber dos sonhos alheios graças às amostras recolhidas vampirescamente,... aquilo não tinha bem rumo e optámos por um sistema menos interessante, com menos discussão, mas mais categórico e eficaz.
Cada uma escreve a frase e passa. Aqui fica a manta pintada:

“O tempo conhecido por Picati dava início a um mundo maravilhoso por descobrir. Este naco de tempo não tinha horas nem dias nem meses. Por causa disso, deu-se o aparecimento de um par de relógios, dois instrumentos muito pontuais, que vieram trazer uma ordem que ninguém queria a Picati. Revoltas se deram, teorias se criaram sobre os segundos que queriam ser minutos, os minutos horas, estes dias, e até os anos lutavam pela eternidade. Picati, Picato, Picatú, Picatá, Picaté, PUM PUM! Eis que brota o nosso capuz, verde verdinho, capuchinho! O capuchinho vinha dar uma noção de tempo a este novo mundo: “Mas quanto demora um segundo?”, interrogou-se. Arrotou pois a questão era difícil e provocou-lhe um mal-estar digestivo. Ups. Ficou decidido. Três arrotos são tempo suficiente para se chegar a Picati, conquistar admiração de Picateiros e Picateiras. O capuchinho verde falou aos Picateiros da vantagem de se ter um tempo. Eles, boquiabertos, não percebiam, uns calculavam que devia ser imprudente, outros reclamavam um possível aumento de criminalidade Picatashu. No fundo perguntavam: o que fazemos nós com o tempo? Para que serve? O tempo divide a vida em idades e em cada idade, a seu tempo, devemos fazer alguma coisa. O tempo manda-nos fazer coisas porque se não fizermos perdemos tempo, respondeu o capuchinho. E é também a melhor forma de fazer amigos! Podes marcar um encontro no cinema, um lanche... sem tempo deixavas de conseguir combiná-los.
Os Picateiros e Picateiras fecharam os olhos, de repente, o capuchinho deixou de existir. Onde estááá o capuchiiinho? Riram-se que nem uns doidos e acabaram por concluir que não tinham tempo para conversas com estranhos”.

Análises psicanalíticas só com marcação!
Bem hajam MMÁs com tempo!

sábado, 26 de novembro de 2005

O Livro de Mórmon

Um grande amigo - chamo-lhe o Gato Preto - converteu-se aos Mórmon. É uma história de vida ‘schetrordinária’. Não interessa. O que interessa é que não o via tão tranquilo há muito tempo. Fui convidada para a celebração, evento, rito, sei lá, em que foi mandatado Hélder pelo culto em questão, e eu só não fui com a pequenita em punhos porque estava fora de Lisboa – se em causa estivessem 100 cordas vocais afro-africanas singing Gospel, acho que teria adiado a viagem. Anyway, conto aparecer um dia destes lá na igreja, já tenho um Livro de Mórmon para ler, e todos os meses Gato Preto aparece depois das 23h00, normalmente à sexta-feira, para me trazer a palavra do Senhor. Help. Já lhe expliquei que me pode vir falar do ‘Pai’ as vezes que quiser, oiço-o com a mesma atenção com que oiço um amigo prostituto - chamo-lhe o Beija-mim - falar das fantasias dos clientes, ou a minha vizinha de 80 anos a queixar-se das dores na coluna, mas agora conversão, ai isso não. Ontem, já eu de pijama, entre os lençóis, perguntou se podia trazer na seguinte visita dois colegas – dois HELDERES – e eu ofereci-lhe o calendário que os meus amigos evangelistas me deram há uma semana.
God help me.

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Entrei decidida pela porta dentro

Entrei decidida pela porta dentro, papel na mão, nariz para cima, peito erguido com se enfrentasse sem receio nem pudor dragão alado a cuspir fogo.
“- aqui está” - disse, com a voz um pouco mais elevada, porque tenho por hábito falar baixo e pensei que não me ouviria ou pelo menos não me levaria a sério se apenas suspirasse asmaticamente a melhor decisão que tomava desde os 27 anos.
Ele levantou a enorme cabeça e olhou-me lentamente. Ao contrário das outras vezes não me senti despida. O momento foi lento, ou pelo menos assim me pareceu. Mas não cedi nos meus intentos.
“- a minha demissão. Fico mais uma semana apenas para fechar alguns assuntos. Depois tiro férias. Não volto mais.”
Pareceu-me que piscou os olhos mas não me recordo bem. Perguntou atónito: “não pode ser, não pode sair assim!”
“- Claro que posso“– retorqui – “Vou sair de Lisboa e começar uma nova vida. Quero mexer na terra e sentir a minha filha a crescer!” - e sem mais despejei a minha carta de demissão em cima da confusa secretária do chefe e com a mesma certeza com que entrei saí, sem medo, porta fora.

Sonhei isto acordada na quarta feira.

Hoje é sexta, são 19h00 e ainda estou no escritório.

Volto na segunda.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Para fazer jus ao lugar de engate: o meu é melhor que o teu.



A lenda do tigre de ouro

Universidade de Oxford, 1990
– Dr. Geovani está atrasado… … … três horas! A reunião acabou! Diz o chefe da universidade.
– – Desculpe Maxie, estive com o meu irmão Archie a tentardesvendar uns hieróglifos Tamacas sobre um tigre de ouro – diz Geovani.
– – Grr…grrr… hahaha! Isso é de loucos! Hahaha! – “descontrolou-se” Maxie.
– É assim?! Eu vou mostrar-lhe! Vou provar que o tigre existe! – exclamou Geovani.
3 anos depois…
A mercadoria, os mantimentos e as roupas estão no avião, já temos a tripulação, OK está tudo – afirma Geovani.
9 horas depois… no Brasil, floresta da Amazónia…
– Finalmente chegámos! – exclama Geovani – Agora é só ir para o templo.
1 hora depois… templo do tigre Tamaca
– Cheguei finalmente! – exclama Geovani.
Uns minutos depois… dentro do templo…
– Ahh!!! Armadilhas! Ó não paredes que se movem! Vou morrer!
De repente uma luz muito forte surge, era o tigre de ouro, mais conhecido por Roikou. O tigre salvou Geovani da morte certa!
– Hãã?! Onde estou? É a minha casa! Mas não me lembro de nada!
Assim Raikou tinha savado Geovani da sua morte, bem parece que nem todos os animais selvagens são de mau coração.

Ora aqui está a prosa do meu bicho-das-castanhas (11 anos) sem tirar nem por, para um concurso literário da escola.
Sou mmá, pior sou péssima, mas babaaaaaaaaaada.

prendas

Recebi este mail e acredito que possa ser uma óptima prenda de Natal.




Olá,
Venho falar-vos de um livro de receitas para crianças, que acabou de ser editado através da editora Sopa de Letras, pela Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro. Vai estar à venda directamente na Acreditar (R. Prof.Lima Basto nº 73 em frente do IPO) ou nas livrarias já a partir da próxima semana (21 de Novembro). Não deixem de o comprar para oferecer aos vossos filhos, sobrinhos, afilhados, primos, e amigos....e ao mesmo tempo ajudarem uma boa causa.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Blumen


Flores para as duas novas MMÁs onblog.

Kussondulola

A minha filha – ‘raposinha’ - está viciada. Descobriu a música “Atrás do Arco-Íris” dos Kusson e agora há quinze dias que ouvimos o comboio apitar, pelo menos 15 vezes por noite:
Apesar da vida dura
Paz na consciência
Fomos convidados
Para a festa eterna
Peguem nas crianças
Não olhem para trás
Deixem-nas ouvir o que diz a profecia
Caminho d’abundância
Caminho paraíso
A hora é de mudança
É para todos o aviso

Aqui entre nós,... acho que a música foi bem escolhida. Acontecem fenómenos misteriosos nos meus dias. Espero a mudança.

A Sofia e os meninos da "Casa Mãe"

A profissão de jornalista não se compadece com horários rígidos de escolas e infantários. Foi por isso que o prior António Cardoso propôs que levasse a minha filha no dia marcado para a reportagem sobre a "Casa Mãe".
Naquela tarde quente de Julho estacionei à porta do centro de acolhimento temporário para crianças em risco, em Aveiras de Cima, no concelho de Azambuja.
Subi a íngreme escadaria branca que dá para o refúgio secreto dos meninos que ali preenchem os dias. Protegidos dos maus-tratos, da violência psicológica, da falta de condições dignas para viver.
De um lado levava o saco com a máquina fotográfica e bloco de apontamentos. Do outro lado a Sofia, 10 meses acabados de fazer. Esperava-me uma das reportagens mais difícieis da minha vida. Como iria separar o meu papel de mãe do que repórter?
Foram os meninos da "Casa Mãe" - órfãos de pais vivos - como lhes chamou o prior António Cardoso - que me indicaram o caminho. A Sofia foi imediatamente "adoptada". Instalei-a no carrinho e logo duas meninas se ofereceram para a passear pela casa. Tal como faziam habitualmente com a pequena Carol de cinco meses. A bebé nasceu numa madrugada gélida de Fevereiro, no mesmo dia em que a "Casa Mãe" abriu as portas. A ausência da progenitora era ali compensada com uma alargada família de irmãos.
A Sofia e a pequena Carol mantinham-se silenciosas percorrendo os corredores da casa. Mimadas com bonecos e brincadeiras. Eu ia recolhendo elementos para a reportagem.
O meu trabalho estava agora triplamente dificultado. Tinha acabado de quebrar todas as regras de objectividade e distanciamento e seria difícil deixar de lado as emoções.
Como iria explicar aos leitores que apesar da dureza das palavras "acolhimento temporário", as crianças que ali se refugiava emanavam doçura e tranquilidade? Apesar dos maus tratos, da violência psicológica, da falta de condições dignas para viver...
Percebi que naquele sítio mágico a infelicidade fica - nem que seja por uma temporada - do lado de fora do portão.

Eu assumo, tenho um fantasma.

A maior parte das vezes reagimos ao mundo infantil, repleto de fantasias, descobertas e originalidades, de forma preconceituosa. No caminho para adultos, esquecemo-nos dos nossos amigos invisíveis com os quais brincávamos entusiasmados. Que pena. Agora, se arranjamos um fantasma com quem mantemos conversas mentais, o sentimentos que afloram são imediatos, culpa e vergonha. Durante o crescer colocamo-nos regras, e reprogramamo-nos na falsa tranquilidade do saber, ou pensar que se sabe. Limitamos a nossa visão à própria vivência. E quando a criança brinca com as tampas dos tachos, em vez do último modelo de um qualquer brinquedo caríssimo cheio de efeitos fantásticos, não percebemos. Reclamamos imediatamente: que desperdício, que desarrumação, que mania de espalhar tudo pela casa, que trabalheira a lavar e arrumar as tampas, que barulheira, que desinteresse…
E se não podemos abrir a caixa dos cereais, entretanto vazia, porque lá dentro está preso o maior dragão que existiu à face deste planeta, temos vulgarmente a tendência de querermos ser esclarecedores, explicando de forma simples que já não existem dragões. Chegamos até a ser mais arrojados ao dizermos que nunca existiram. Está assim criada a desculpa de nos termos desfeito da caixa fantástica na qual tropeçámos no caminho para a cozinha. Que pena.
Pois eu assumo que ainda tenho fantasmas. Mais, assumo que acredito no Pai Natal. Mais ainda, cultivo vivamente o ritual de fazer aparecer, como que por magia, as prendas ao redor da árvore decorada pelos meus filhos. E este ano não me posso esquecer de embrulhar meia dúzia de tampas e uma dúzia de molas da roupa.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Cheguei!

foi um parto difícil.... e nada a dizer para já....

prometo melhores contributos

sábado, 19 de novembro de 2005

Eu sou eu, e tu és tu

Hoje recebi uma carta por correio. Céus, há quanto tempo não abria um envelope azul, com papel lá dentro, e uma caligrafia para decifrar. Vinha de uma amiga que mora a 300 quilómetros, perto do mar, e que ainda hoje me parece um bocadinho feita de qualquer material desconhecido, prestes a desmontar-se a qualquer momento, porque não a consigo bem enfiar nos conceitos que fui elaborando sobre o mundo, as pessoas, os bichos, as plantas. Logo no cabeçalho, li Vietname, mas depois rectifiquei. Bolas, Vietname? Tu de facto precisas de óculos. Sim, tu! Eu? Sim, eu.
Curiosamente acho que esta coisa dos pronomes pessoais é uma das questões gramático-metafísicas mais difíceis de explicar às crianças.
-"Oh miúda, tu não me sujes com essas mãos cheias de chocolate".
-“Tu mexes!”.
-"Não, tu és eu, não percebes? Eu sou eu, e tu és tu. Ou melhor, tu és eu. Tu dizes “Eu mexo”, eu é que digo que tu não mexes.
Ufa.
Querida amiga M., se tu não tivesses estado tão perto, alguns dias e noites teriam sido muito menos claros, muito mais escuros.

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

“O que a criança mais precisa e deseja é aprender, quanto mais, melhor...”
“Timidez é a perda da liberdade de tomar iniciativa, é a repressão da espontaneidade, como resultado de sucessivas críticas e reprovações ao comportamento espontâneo e natural manifestado pelo bebé e pela criança durante os primeiros anos de vida.”
Não seremos todos crianças tímidas?

terça-feira, 15 de novembro de 2005

1996, Fevereiro, Berlim

Estou perto do S-Bahn Kleistpark, linha azul quase turquesa, se bem me lembro. O Inverno continua eterno. E os dias escuros. Tenho a Teresinha, dos seus dois anos e alguns meses, no carrinho. Empurro-a com meus braços. Passeamos o passeio do bairro, às voltas de Erdmmanstrasse. O comboio passa na linha, de cinco em cinco minutos. Atrás, o cemitério onde repousam as memórias aos irmãos Grimm. As árvores são as de todos os dias, igualmente despidas, sem cor, sem cheiro, regeladas. Poucas pessoas caminham na rua e só nós vagueamos.
Um rapazito em cima de uma bicicleta que é o seu cavalo vem ter connosco e pergunta-me com ar sério, num alemão com sotaque e perro: “Que horas são? Sabes onde fica o S-Bahn Kleistpark?”. Eu respondo. Logo de seguida queria saber se eu era alemã, se a Teresa era minha filha, se eu tinha homem, como, onde e quando tinha feito amor com ele pela primeira vez, se me tinha doído, se achava que ele me podia dar um beijo, se podia dormir comigo, e se ...se o sexo era só para gente grande e porquê.
Chamava-se Dennis, tinha 11 anos e era Jugoslavo. A enxurrada de perguntas que me fez..., não podia imaginar que fosse possível tanto desejo e ‘atrevimento’. Não sabia o que responder-lhe. Estava perplexa e percebia que ele já tinha espreitado alguma coisa para cada coisa que perguntava. “Sei lá, não te beijo porque,... porque me pediste um beijo e eu não gosto que me peçam beijos, porque eu não estou habituada a beijar meninos de 10 anos que querem experimentar fazer sexo com a primeira mulher que encontrem na rua.” Chegou mesmo a perguntar se eu queria fazer amor com ele, se queria ou não, e se não queria por ele ser muito novo e porque é que ele tinha que esperar se ‘já a tinha grande e dura’.
Queria saber a que horas chegava o meu homem e se fazia amor com ele todas as noites. Contou também a sua história, a da rapariga que conheceu e em quem pensou enquanto se baloiçava com a mão na casa de banho. Descreveu...” e depois veio um branco de repente.” Perguntou-me se era aquilo que fazia as crianças, se comigo tinha sido assim e se eu queria ter mais alguma. Falou-me do que os homens diziam e não diziam sobre isso de ter uma vontade vulcânica de tocar numa mulher. Eu disse-lhe que os homens diziam muitas coisas e que um dia ele iria descobrir se eram verdade ou não, mas ele não queria esperar uma eternidade de anos para dormir com uma mulher, e eu bem podia dormir com ele. Porque não? E eu não sabia explicar-lhe.
Aquela conversa interminável, sob a forma de interrogatório, começava a impacientar-me. De qualquer modo, tinha já por ele uma cumplicidade e ternura, ou qualquer coisa desse tipo.
Já perto de casa, mais exactamente nas escadas envelhecidas de madeira, e sem os lábios lhe tremerem, disse-me: “Só um beijo!”, e eu, sem saber muito bem porque sim ou porque não, acenei-lhe com um sorriso, enquanto a Teresinha, despreocupadamente, me agarrava na mão e acenava com a outra.
-“Dennis, kommt wieder?”
-“Sim, claro! Dennis kommt wieder!”

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Apresentação

MMÁs muitíssimo mais do que assíduas, MMÁs por um dia, candidatas a MMÁs, membro-projecto-de-comparência-ainda-falhada por muitas MMÁs e boas razões, a todas gostaríamos de dizer que alargámos o nosso target: PHN (Pais: Homens Neutros) – Just joking! De qualquer modo, a propósito do assunto, não se negam comparências a ninguém na Casa dos Dias d’ Água, independentemente do sexo e orientação.

Esta conversa toda para dizer que nas três sessões da recente existência das MMÁs, à excepção da primeira em que conseguimos ser mais de uma dezena, notamos que afinal os motivos pelos quais as caríssimas gostariam de vir estão também em alguns casos na origem das suas ausências. Como ainda não conseguimos um encontro com todas, sem viroses, encontros familiares, trabalho de trazer por casa, passeatas ao campo, ou pura preguiça pelo meio, queríamos convidar-vos a concretizar no Blog a primeira expectativa que tivemos com o grupo todo: Apresentarmo-nos. Façam-no nas línguas maternas – como é óbvio -, sob a forma de comentários a este post.

Aproveitamos para lembrar que o próximo encontro é dia 27, e está programada uma sessão de brain storming para criar uma história (infantil, juvenil, de terror ou romance histórico para mais de 18).

Yours,

MMAS

Chapa’das

Hoje, durante a barafunda normal do jantar:
– Blá, blákdlh ogjupaelc … e, se tornas a falar nesse tom, as minhas mãos terão todo o prazer em ter uma conversa séria contigo – digo em tom de aviso ao meu filho de 11 anos.
– Humpft – exclama com tom de enfado – Reuniões intercalares.

domingo, 13 de novembro de 2005

Pensadora

Já a tinha colado de uma outra vez. Não ficou perfeita, pelo menos aos meus sentidos. Insistia nas opiniões de outros que se revelavam atentos aos meus caprichos.
– Está perfeita.
– Mas não vez aqui esta ranhura?
– Qual ranhura?
– Esta. Aqui a cola não ficou bem disfarçada.
– Não vejo nenhuma cola.
– Olha lá bem.
– Não, desculpa mas não vejo nada de mal aqui.
Sempre que lhe limpava o pó sentia cada pedaço que tinha colado. Até mesmo aquelas fissuras que tinha reparado com precisão cirúrgica. O tacto tem a crueldade de nos mostrar o que não os olhos não sentem.
Com o passar dos tempos, gastos por outros tantos tempos passados, deixei que o esquecimento dos outros me apoderasse. Para o agrado geral deixei até de lhe limpar o pó. Com a inactividade, a camada do ranço poeirento deu-lhe o ar místico da herança das gerações mortas.
Hoje alguma coisa me fez olha-la embasbacada. Não percebi se se tinha dado ao tempo ou se era o tempo que a tinha possuído contra vontade.
Decidida arrastei com o braço a confusão da mesa, preparei a cadeira para as vontades da demora, coloquei a pensadora em lugar destacado no espaço agora vazio. Agarrei num pano embebido na fúria do vento e lavei-a com o carinho das bolas de sabão na água morna de um banho de imersão.
Louca.
Devia ter resistido ao impulso lhe retirar as demências.
Agora, entre a surpresa e a tristeza do estilhaçar dos tempos já nem o cuspo lhe vale.

Castillium 10

São umas pílulas brancas, com um risco ao meio, para as poder partir assim com a ponta da unha, enfiar meia de manhã, outra de sobremesa ao almoço e uma inteirinha à noite. Ando com elas na mala há uns cinco meses, e antes de ir à farmácia comprá-las, esperei que tudo de repente se convertesse num conto de fadas, daqueles em que ninguém pergunta: mas como raio é que a princesa ficou anos no quarto mais alto da torre mais alta à espera que o príncipe encantado matasse o dragão para a salvar? Comeu o quê a rapariga? Como é que se aguentou tanto tempo fechada dentro de quatro paredes, sem telefone nem Internet? Em dias de período, onde é que ia aos tampões? Pronto. O conto de fadas é outra história e os meus dias andam há mais de um ano a atropelarem, bem a atropelarem-me a mim mesma. Um dragão que cospe fogo, um quarto fechado, um expectativa que os dias adiam para os meses e os meses continuam sem dar resposta. Perdi uma amiga, que morreu em Novembro passado. Perdi um trabalho e com ele o meu melhor amigo. Ganhei um equívoco. Estive quase dois anos a ver o Tejo negro, da janela aberta para a noite, trancada em casa, com a minha filha a dormir, sem poder pôr o pé fora de casa, pois o meu cavaleiro tinha a maldição de um work every night e at weekend também. Depois aconteceu isto e aquilo, isto e aquilo, e as minhas forças chegaram aos níveis das reservadas de água do país, à vitalidade dos hectares consumidos pelo fogo deste Verão.
O telefone começou a tocar cada vez menos. Eu comecei a falar cada vez mais alto, mas sozinha. Às vezes lá havia uma amiga que apanhava com os resumos de algumas fendas sem chave, ou com a verborreia de certas chaves de fenda que simplesmente não conseguia usar nem para abrir nem para fechar nada do que caía aos bocados no meu corpo, na minha cabeça. Outro dia tive de escrever uma autobiografia de 2 mil caracteres, ou seja, definir a minha vida em 10 frases. A primeira coisa que escrevi foi: “Idade da crucificação e ressurreição”. De facto, senti-me pregada a qualquer coisa imóvel, nos pés e nas mãos. Mas acredito, tenho a certeza, que é também o momento de nascer outra vez, e é isso que tento fazer quando não sou consumida pela derrota do quotidiano, e enquanto vou engolindo pílulas umas atrás das outras. Não sei já quem sou. Até parece mal, mas é um bocadinho assim. Não há muito tempo, agarrei num lençol velho e enfiei lá dentro 40 por cento do meu guarda-roupa. Fechei a coisa com um nó e entreguei-a a um tipo na feira da ladra, por nada, nem um cêntimo. Não é difícil concluir que passo uma crise de identidade, semelhante à que é normal por volta da adolescência.
Sei que afinal tudo gira à tua volta nas voltas que repito sobre mim, e nessa espiral estou sem nome, sem morada, a gemer em silêncio, na cama, em sonhos de tarântulas de botas altas e cabeleiras postiças. Gemo como o fazes às vezes, porque o imaginário na noite e no cérebro tem destes medos, e as palavras saem assim, autistas da nossa boca. Gemo como o fazes, como o fizeste ainda agora, e eu permaneci sentada, subi a calçada, ouvi a gaita do eléctrico, desliguei a sopa, deitei-me nos lençóis suados dos anos quentes, dos fogos extintos, do medo do futuro, e da vontade de agarrar em mim, na tua mão e levar-te para longe de tudo isto. Não sei, não sei se estás a ouvir-me, se me ouves melhor do que penso, se posso pedir-te conselhos, fi-lo hoje pela primeira vez, e não me disse-te mais nada, acho que não me disseste mais nada além de um ‘cozinha não, cozinha não’. Agora não queres os meus beijos porque ficas com lipstick, afastaste-me a cara explicando bem porquê e nesse instante perguntei-me se deveria deixar de me esborratar de vermelho, mas logo decidi que não. Não podemos fugir de tudo.

sábado, 12 de novembro de 2005

Onde

Casa dos Dias d’Água, em Lisboa,
aos domingos, pelas 16h00 (primeiro e terceiro fim-de-semana de cada mês)

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Conceito

Ser mãe é o melhor que pode acontecer a alguém e as crianças são o melhor do mundo - dois paradigmas que a sociedade promove, sem dar tempo, espaço e liberdade intelectual ou sentimental para a concretização de ambas as maravilhas.
Haverá mulheres em aldeias do interior que na vindima fazem terapia de grupo, outras em centros urbanos cosmopolitas que se organizam para verbalizar diários interiores, algumas em sociedades islâmicas que fazem dos banhos públicos lugares para lavagem da alma, e certos exemplos em comunidades indígenas com rituais de regeneração e emancipação feminina do corpo e da ‘alma’, depois da procriação.
Para muitas mulheres certos momentos da maternidade, sobretudo recente, são labirintos de angústia e felicidade, vazio e preenchimento, renúncia e apropriação, resignação e revolta, demissão e entrega, abandono e encontro, cedência e discordância.
Porque os parques infantis de Lisboa são muitas vezes lugares de ‘engate’ entre mulheres que escorregam e baloiçam ao lado das suas crianças, numa esperança de cinco minutos de partilha sobre a aridez de um quotidiano tantas vezes cheio de isolamento, esgotamento, medos e silêncios, surgiram as ‘mmás’.
1. Grupo de auto apoio para mulheres-mães;
2. Encontros/exercícios de reclamação pela identidade, individualidade, autonomia;
3. Ausência de supervisão técnica;
4. Gestão colectiva de finalidades e percursos do grupo;
5. Liberdade para definição de iniciativas (convite a pessoas de áreas diferentes, com propostas de informação, debate, formação ou experimentação
- médicos, pediatras, psicólogos, sexólogos, teólogos, sociólogos,
antropólogos, pintores, músicos, bailarinos, animadores, arrumadores - ou apenas exercícios que se possam praticar de forma endógena sem recurso a elementos exteriores às mmás).
6. Algumas pistas de experimentação:
- A dualidade/individualidade mãe-filho;
- Relações: sexuais, conjugais, afectivas, familiares, sociais, profissionais;
- O corpo, a libido, a imaginação;
- O risco, a irresponsabilidade, a infantilidade;
- A gestão do contraditório, do conflito;
- Relações interpessoais entre (des)conhecidos;
- Construção de um projecto;
7. Existência de um espaço contíguo preparado para receber crianças (com babysitter) e possibilidade de se desenvolverem actividades alternativas com os miúdos também;