quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

"Ser o Quinto"

É o título de um livro que a minha filha ganhou de presente há um ano. Trouxe-o um amigo alemão que veio passar em nossa casa o delirirum tremens de uma relação que acabou em fiasco, e ele em fanico. Esteve cá uma semana a destilar. Levávamos os dois a raposa à creche e pelo caminho ele falava alto, recapitulava, reinterpretava as nódoas negras, as saudades, o desejo, tudo isto numa cadeia de explosões realistas, como tremoços.
Funfter sein é o retrato de três coisas: a extraordinária inteligência e sensibilidade deste amigo, a importância de haver histórias sem grande acção, mas sobre um mundo com espírito, que não seja apenas a natureza morta que 70 por cento dos livros infantis nos impingem aos meninos e, finalmente, a relação incestuosa entre a espera e o medo. Voltando à segunda - mais pacífica - aos dicionários e enciclopédias que publicam para leitores a partir dos 3 meses (antes são meio ceguetas), voltando ao ovo, à tartaruga, ao comboio, à batedeira, ao sapato, à minhoca, ao computador, à saia, ao anel, ao que é isto, e isto, e aquilo... também os tenho cá em casa, também os comprei, mas estou farta de os ver.
Funfter Sein – em português, Ser o Quinto – é uma coisa simples (mas cada vez que o leio, encontro um sentido diferente). A história de um compasso de espera. Cinco bichos-brinquedos, daqueles a que se dá corda com uma chavinha metálica, esperam numa sala. A porta abre-se e entra um no consultório. A porta fecha-se e os restantes esperam. A porta abre-se, o primeiro sai e lá vai outro. A porta fecha-se e restam três. Assim, repetidamente, até ao último, que finalmente vê a cara do médico, um clínico de brinquedos, com ar simpático.
Acho que uma das palavras que mais digo à minha filha é “espera”. Curiosamente, um dos verbos que mais me custa conjugar actualmente. “Espera miúda”, que já está quase. “Espera, tens que aprender a esperar um bocadinho”.
Fuck it, quem espera desespera. Over.

2 comentários:

Marts disse...

bem...é a 2ª vez q tento comentar...afinal é preciso + de 20 mints p se perceber disto :)
como ía dizendo....se calhar seria uma boa ideia um livro de filosofia para e sobre crianças - assim uma espécie de dicionário de conceitos-base - poderiam ser neologismos - que definissem situações, repetições, estados comuns,etc. de maneira a que com 4 ou 5 palavras pudéssemos definir estados de alma e gritar revolta!!!
Isto poderia resultar de ensaios aqui no blog - como o que fizeste com a "espera"...
se calhar tbm é do sono - já dei o biberão - espero q ñ haja nenhum à meia-noite
beijos para todos por aí

Isabel Freire disse...

Espera: Nunca mais é sábado! Ora aqui está uma primeira tentativa de síntese :) Boa viagem para o Sul. Bjs