quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Desabafo

Aqui está um post que acabei de censurar há dois minutos. Como se fizesse sentido!!!

Acho que o verbo foi muito bem inventado. Desabafar. Tirar a tampa, deixar entrar o ar. É isso que me apetece. Abrir as janelas. Sair à rua. Escarranchar a boca. Soltar o nó.
Por que raio é que criaram as casas inteligentes? Os relógios que se regulam por satélite (temos um cá em casa, que não é português, e acordo todos os dias - ilusoriamente - uma hora mais tarde)! As terceiras gerações de tudo e mais qualquer coisita! Até as latas de conserva fáceis de abrir, e ninguém pensou em condomínios abertos, mother/father friendly – não estou a falar de casas com elevador, mas de verdadeiras comunas, com um sistema de organização a funcionar e facilitar? Why? Ninguém pensou em cinemas onde se pudesse levar os meninos, os carrinhos de bebé, lambuzar as cadeiras de iogurte, atirar bolas ao ecrã gigante! A que propósito todos (tirando um caso ou dois) se esqueceram de pôr um espaço infanto-recreativo nos restaurantes? Como é que só fazem concertos a que me apetece ir depois das 23h00? Aquela coisa de adoptar um bicho do zoo... eu acho que se podia fazer o mesmo com os casais ou singulares que estão sozinhos, aqui ao nosso lado, no nosso bairro! Ter um avô e uma avó mais pertinho, dava-me uma grande ajuda. Por que é que o dia só tem 24 horas? Como diminuir o défice das finanças domésticas? Por que é que não tenho um trabalho certo, fixo, rotineiro? Hoje, definitivamente, não me apetecia estar em casa. Why, why, do you work everyday night?
Às vezes, apesar de pensar que a minha vida é um mar de rosas, sinto-me abafada.

14 comentários:

Anónimo disse...

Há que séculos que penso nas comunas: era fácil e barato. Se um grupo de amigos comprasse um prédio, em vez de andar cada um a isolar-se a a pagar o couro e o cabelo para ter um tecto, a coisa fazia-se. E uma das propostas da candidatura do Sá Fernandes passava precisamente pelo tipo de solução de que falas, VW.
Propunha o bicho que o interior dos quarteirões, muitas vezes ocupados por marquises clandestinas e construções caóticas, fosse transformado em espaços comunitários com lavandarias, rede de baby-sitters, etc. um pouco à semelhança da Holanda.
Agora é só escrever-lhe uma carta a cobrar a ideia, que lhe pode ter rendido alguns votos mesmo de quem não vota BE...

Há uns tempos estava um bruto prédio à venda no centro de LX: apartamentos com 8 assoalhadas, 3 WC, salas e quartos grandes. Só tinha dois inquilinos, com renda baixa. Fiz as contas e cada apartamento livre já com obras (orçamento de arquitectos) ficaria por 30 mil contos... Uma pechincha. Ainda tentei propor o negócio a amigos, que gostaram da ideia, mas não foi nada para a frente: o pessoal com filhos não pode esperar por obras - precisa de casa JÁ. O prédio foi vendido, claro.

Talvez as MMAS possam formar um grupo de trabalho, pensar nisto e propor a coisa à CML. Então eles não queriam todos trazer os lisboetas de volta à cidade? E que tal manter em Lisboa lisboetas que geram outros lisboetas? E que tal manter a sanidade mental e qualidade de vida desses lisboetas?

Fica a proposta. Já é altura dos que governam a cidade pensarem mais nos que cá moram e menos na especulação imobiliária...

Anónimo disse...

Não sei se vocês conhecem um espaço muito porreiro para conviver com adultos e crianças ao mesmo tempo. É óptimo para tomar qualquer coisa ao fim da tarde, depois de ir buscar as crianças à escola (para quem tiver tempo para estes luxos, claro).
Não me lembro como se chama, mas fica ali na bica, no Adamastor. Estando no miradouro, de frente para o rio, há umas escadinhas estreitas à direita. É aí. Lá em baixo há duas esplanadas e um espaço interior. Na segunda esplanada há um espaço para crianças com brinquedos: uma maravilha.
Tem boas tostas e comida vegetariana.

Isabel Freire disse...

A ideia era mesmo essa!!!!!
A lavandaria em comum, uma sala de convívio para os miúdos estarem, uma baby-sitter de serviço que não custasse rios de dinheiro a cada, actividades partilhadas, um toma lá a raposa hoje que eu preciso ir ver os Pop ao Lux, um tomo conta da tua que estão ambos de virose, um Chilli que sobrou e não há vontade de repetir a dose amanhã, um posso ir aí contar-te a putada que me aconteceu hoje, um comprei um filme magnífico e traz as miüdas cá a casa, enfio as 3 na banheira e a seguir enquanto se diliciam com a película nós bebericamos um tinto calmamente na cozinha... uma festa ao fim-de-semana, com amigos e filhos dos amigos a curtir...
E como dizes, isto nåo é utopia, na Holanda, na Alemanha, na selva tropical do Brasil, na aldeia japonesa,... o espírito é posto em prática. Nós é que estamos num país onde se acredita que living in community is just living alone!
Mesmo a trabalhar o espírito é este!!!
Ainda bem que nåo falo sempre sozinha, obrigada mmás!

Isabel Freire disse...

Inês, quando falei de uma ou duas excepções estava a pensar exactamente nesse bar, o Nobai - acho que se escreve assim.

Anónimo disse...

Nobai, é isso mesmo!

No dia em que transformarmos Lisboa numa comuna, todos os bares terão zona para crianças, excepto os criança-free - que os que não procriam escusam de aturar as crianças dos outros!

Isabel Freire disse...

Obviamente, e nós seremos frequentadoras assíduas, sempre que pudermos... e com muito prazer
: }

Isabel Freire disse...

ehehehe...
Antes ansiosa do que pirosa!!!
: }
don t give a shit...

Miduxe disse...

Belo Blog!
Bjs

péssima disse...

Os chineses que vivem em Portugal têm uma visão porreira. A princípio choquei-me ao saber que uma colega do meu filho mais velho, a Yung, vivia, mesmo ao lado da escola, com uma viúva de 70 anos, a 10 bairros de distância dos pais. Mais tarde percebi. Eles não têm ‘tempo’ para dedicar toda a atenção necessária à filha, nem têm os pais ao pé deles, os avós biológicos. Acreditam que a família é sagrada. Acreditam ainda que o tempo tem qualidade quando dedicado em pleno. Desta forma, a senhora está acompanhada e cheia de afazeres, minimizando assim o tempo que com a idade demora mais a passar (sem esquecer a eterna paciência que os avós têm e que nós não temos). A criança não passa horas enfiada num qualquer transporte a caminho seja de onde for, esse tempo é aplicado em brincadeiras de jardim; vai almoçar a casa e não convive com as normais irritações do chegar a casa já sem tempo para fazer o jantar, arrumar a casa, dar banho, ler história, ou só ouvir o que elas têm para nos contar, etc, etc. Ao mesmo tempo, os pais dedicam-se ao trabalho e preocupações semanais, reservando os fins-de-semana para a filha, de forma concreta.
Achei-os sábios.

Isabel Freire disse...

: )
Onde é que mora a senhora, exactamente?

péssima disse...

Plena Lisboa, precisamente.

rosinha_dos_limoes disse...

Desculpem a intromissão, mas ...
Belo post! Belos comentários!
Identifiquei-me com o post e adorei as ideias da inês!

Isabel Freire disse...

Não há intromissão, só transmissão, Rosinha!
Show up.
Bjs

Marts disse...

POdemos pensar a sério e fazer uma cooperativa. Não seria nada que ão tivesse já acontecido em outro moldes. É sim precisa alguma burocracia...:)Depois podemos virar a coisa para a habitação...falta o terreno que para os meus lados ainda se arranja...