quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Talvez.

Aprendem-no antes mesmo do tão esperado papá ou mamã.
Fatídico, o 'não' pré-consciente das crianças, e uma vez dito, nunca mais cessará de nos moldar, sempre à vontades delas.
Partimos para o caminho da educação do sim:
– Come a sopa
– Não
– Sim.
– Come a salada
– Não
– Sim, insistimos até ao desespero.
Quando crescem um palmo apercebemo-nos do uso da magia da pré-negação:
– Não faças isso – tentamos.
– Faço.
– Não comas isso – dizemos felizes, no tom da segurança de quem sabe o resultado.
– Como.
Uma conquista aparente, pois rapidamente se ultrapassam e aprendem a chantagem:
– Mãe quero aquilo.
– Não.
– Se não compras então eu…
Ou em forma requintada:
– Mãe gosto tanto de ti…
– …
E eles usam os momentos da nossa ‘cegueira babosa’ para pedir seja o que for, quando nos tornamos conscientes é tarde demais.

E assim vamos crescendo com elas, em ensaios de apalpações diversas.
É neste processo que acabamos por nos esquecer dos nossos ‘não’.
Quando damos por isso já não os sabemos usar, e aplicamo-lo nas situações erradas, como se fossem meras concordâncias.
Quantas de nós ainda fazem birras de nãos? Ah, pensamos, já não temos idade para essas coisas, não nos fica bem agora que somos mulheres-mãe.
Digo ‘sim’ com mais facilidade do que digo ‘não’, e muitos dos meus ‘sim’ são pura preguiça. Sei que as minhas crianças, pelo menos, vão repetir este ciclo. E só depois poderão reconstruir os ‘não’ puros.

2 comentários:

Marts disse...

preciso de me preocupar já com um não não verbalizado, ou seja em jeito de aceno de cabeça? :)

Marts disse...

O "Não me apetece" é que já não existe e faz-me tanta falta.....a preguiça era tão boa