segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Apresentação

MMÁs muitíssimo mais do que assíduas, MMÁs por um dia, candidatas a MMÁs, membro-projecto-de-comparência-ainda-falhada por muitas MMÁs e boas razões, a todas gostaríamos de dizer que alargámos o nosso target: PHN (Pais: Homens Neutros) – Just joking! De qualquer modo, a propósito do assunto, não se negam comparências a ninguém na Casa dos Dias d’ Água, independentemente do sexo e orientação.

Esta conversa toda para dizer que nas três sessões da recente existência das MMÁs, à excepção da primeira em que conseguimos ser mais de uma dezena, notamos que afinal os motivos pelos quais as caríssimas gostariam de vir estão também em alguns casos na origem das suas ausências. Como ainda não conseguimos um encontro com todas, sem viroses, encontros familiares, trabalho de trazer por casa, passeatas ao campo, ou pura preguiça pelo meio, queríamos convidar-vos a concretizar no Blog a primeira expectativa que tivemos com o grupo todo: Apresentarmo-nos. Façam-no nas línguas maternas – como é óbvio -, sob a forma de comentários a este post.

Aproveitamos para lembrar que o próximo encontro é dia 27, e está programada uma sessão de brain storming para criar uma história (infantil, juvenil, de terror ou romance histórico para mais de 18).

Yours,

MMAS

6 comentários:

Anónimo disse...

Exmo.(a) Senhor(a) Director(a) dos Recursos Humanos,

[...]
Há no entanto algo mais a acrescentar. Talvez um currículo com actividades muito diversas pareça disperso ao olhar de um ‘avaliador’ com pouca capacidade de entender a fertilidade que nasce da mudança, a energia que rebenta do risco, a flexibilidade que surge de relacionamentos entre pares e impares. Mais do que enviar um simples retrato tipo passe, deixo algumas imagens de coisas que fiz nos últimos tempos e, claro está, daquilo que sou (números que não estão no currículo):
-12 meses a viver em Berlim, 50 anos depois da guerra II, no pior Inverno das últimas décadas, porque me pareceu essencial passar a fronteira, aprender a viver sem dinheiro, sem língua, sem entendimento e sem as saias da mãe.
-40 alunos do secundário em 270 dias foram suficientes para perceber que ‘o menos bom’ da escola, na minha opinião, é o sedentarismo rotineiro e desencantado da maioria dos professores bem como a hipocrisia enfadonha dos currículos.
-42 horas de entrevistas a jovens negros na Cova da Moura, 6 de Maio, Estrela d’ África, Armador, Moinho das Rolas e Talaíde, traduziram-se em 140 horas ao computador para transcrevê-las, 200 páginas de conversas de rua e uma peça de teatro que nunca imaginei escrever.
-9 meses de gravidez, 16 horas de parto e uma filha deliciosa com 3 mãos cheias de meses são o princípio de uma nova experiência em plena metamorfose. O título que lhe dei é Salomé.
Confesso que apesar de ter uma caligrafia muito homogénea e elegante – assim à distância bem atestaria em favor do meu perfil psicológico – perdi ao longo dos últimos anos alguma disponibilidade para ‘manuscrever’.
No que respeita às condições pretendidas, não consigo dizer desde já quanto me parece justo receber. Seria um pouco como comprar uma casa em leilão, com proposta em carta fechada, sem a ver nem por dentro nem por fora. Difícil, portanto, cumprir também com este requisito do V/ anúncio. De resto, sabia-me bem uma equipa com espírito empenhado, crítico e humorado, facilitava-me muito a vida um horário flexível e engrandecia-me objectivos ‘desafiantes’.
Os meus melhores cumprimentos,
Atentamente,
(Março de 2005, extracto de uma carta de apresentação que nunca teve resposta)

Anónimo disse...

6:45 – Mãae, tenho fome!!
– Hum! dorme ainda é cedo.
6:48 – Mãae, mãaaeee, já não é cedo?
– Ainda, ainda, só mais um pedacinho.
6:56 – Ó mãae, mãae, já temos fome!
– Pede ao mano um copo de leite que eu já vou fazer o pequeno almoço.
7:05 Ligar a máquina do café, preparar as torradas, estender a toalha, baixar o volume dos desenhos demasiado animados para a hora, beber o café duplo e dar início ao processo de raciocínio.
7:35 – Ó mãe! O mano riscou-me os trabalhos!
– Ó mãe, ele começou primeiro.
– Não comecei.
– Começaste sim.
– NÃO.
– SIM.
– Não quero saber, nem ouvir, nem cheirar, resolvam.
Zástráspáztrás. Catapum ploingploft Ui Ai ummmeh (resolvido)
8:15 Preparar roupas, mochilas, dar um ar habitável ao quarto empurrando a pista de carros com o pé, endireitar o bombeiro que caiu, empinar as almofadas, conciliar as folhas com desenhos.
– Meninos, lavar dentes e vestir.
– Já vamos.
– Agora mesmo.
– Mais 2 minutos.
– Não.
– Vá lá.
– Já passaram os dois minutos.
– Óoo.
9:00 – Mãe, não, nem penses que levo esta camisola.
– Hoje está frio, tens de levar uma manga comprida.
– Ai não, não tenho.
– Bem, ou levas essa ou vais com o pijama, a opção é tua.
– … (suspiro)
– Mãe ‘tou lindo?!
– Hum, sim, as meias-calça rosa com as meias verde alface, a T-shirt beije e o casaco vermelho ficam-te bem, mas é melhor despires essa roupa e vestires a que a mãe te preparou.
– Mas a AnaCarrrrolina gosta destas cores!!
– Sim, está bem, mas levas essa roupa vestida quando for outra vez primavera
(surge a esperança dele crescer mais que o tamanho da roupa)
9:30 Primeira ida à escola, um já está.
10:45 Segunda ida à escola, o descanso.
11:00 Café decente, finalmente começa o dia.
11:30 Telefone, trabalho, mais telefone, mais trabalho.
14:00 Café com a vizinha, actualização do maldizer que mantém vivo o espírito de condomínio.
14:30 Telefone, trabalho, mais telefone, mais trabalho.
17:15 Trim-pirulim
– Sim filho!
– Olha mãe, vou ficar mais um pouco na escola e depois vou ter contigo à escola do mano.
– Telefona assim que saíres.
– Está bem, adeus.
(está a crescer depressa, sorrio)
18:05 Recolha das crianças.
18:30 – Mãe quero lanchar!
– Pede ao pai que arranje o lanche.
– Mas ele já fez o primeiro lanche, agora queremos o teu.
(como é possível as crianças lancharem 4 vezes, pergunto-me eu diariamente)
19:00 Trabalhos de casa, trabalhos de não casa, folhas e papéis, lápis, canetas, tesouras, papelinhos, plasticinas, brinquedos, uma promiscuidade.
20:00 Preparar o banho, os pijamas e jantar.
20:35 – qué’oje o jantar ‘mã?
– Chicha com arroz.
– Hummm que bom.
– Mãe quando jantamos?
– Daqui a nada.
– Mamã, mamã, tenho fome.
– Já está quase pronto.
21:10 Para a mesa, berro.
– Hum, está mesmo bom.
– Quero mais.
– Mais não.
– Então quero um pão.
– Nem penses.
– E um garoto? Fazes-nos um garoto? Vá lá, vá lá.
– Já faço daqui a nada.
– Podemos sair da mesa?
– Sim, eu já vos chamo para o garoto.
21:30 Café, garotos, arrumações.
22:00 – Meninos, lavar dentes e caminha.
– Ohhh! Ó mãe só mais um bocadinho.
– Não, já são dez horas.
– Mas amanhã é Sábado.
– Não.
– Só ver o SpongeBob SquarePants.
– Acaba o episódio e cama.
22:10 – Podemos deitar-nos na tua cama contigo?
– Só um bocadinho?
– Siimmm????
E ali me vejo eu no meio das duas criaturas mais chatas e reconfortantes que “me” podem existir. Sempre neste misto de desejo de os ter longe e ansiedade por não os ver.
Encontro-me e digo à boca cheia que os amo sem medo do significado que tem.
Que bom, já dormem. Uhmm, agora é tempo para outros ‘amares’.

Anónimo disse...

A minha primeira gravidez foi desejada e planeada. Assim que pari tudo se impôs com significado diferente. Nada, desde então tornou a ser-me igual. Obcequei-me no verdadeiro sentimento egoísta da mais pura propriedade. Não havia nosso, mas sim o Meu filho. Lembro-me de repetir em som mental bem alto que era o meu filho. Livros, médicos, opiniões alheias, tornavam-se mais importantes do que a experiência de quem eu um dia fui plenamente. A minha própria mãe. O meu isolamento estava consumado. Algum tempo passou. Isto de sermos mães torna-nos diferentes aos olhos das nossas próprias mães, e o curioso é que no momento em que me prendi ela soltou-se de mim. Agora, dou por mim a ouvi-la em confissões sexuais (apesar de achar que ainda não tenho idade para ouvir determinadas coisas). Mas que raio, afinal ela não passa de uma mulher, igual a todas as mulheres, igual a mim. Hoje, já com o segundo filho na primária, começo a ver-me outra vez como 'mulher', estou mais calma, e permito-me acompanhar a existência dos seres saídos de mim, e ver o ‘homem’ que foi pai no mesmo dia em que eu fui mãe.

charlote disse...

Eu sou aquela que vos anda a chatear todos os dias e que não vai faltar no dia 27. Um dia ainda hão-de trazer as MMás ao Porto

Isabel Freire disse...

Procura-se:
Governanta capaz de tomar conta da casa.
Agente capaz de tomar conta da carreira.
Tamagoshi em segunda mão para fazer companhia ao peixe.
E uma semana de férias, longe bem longe, a beber Vodkas c/ Orange.

Anónimo disse...

Há pouco mais de um ano nascia em Santarém, numa tarde norma de Setembro, uma menina linda. Foi um parto sereno e doce, tal como o sorriso da Sofia.
O nascimento da nova mãe foi bem mais doloroso, repleto de inquietações, dúvidas e medos. A casca do ovo da progenitora custou muito mais a quebrar.
Durante os nove longos meses que antecederam o momento tão aguardado foi o corpo o motivo de conversa entre as mulheres já experimentadas. Confessavam-me as emoções de um parto acontecido há muitos anos e desejavam-me felicidades – porque este é o “melhor tempo que se tem”.
Não ouvi falar das dores que se seguem ao parto, das angústias sentidas entre quatro paredes.
Isso, só aprendi nas noites de inverno passadas em claro, nas madrugadas interrompidas, nas crises desgarradas de choro que aprendi a controlar entre lágrimas.
Hoje reconheço que é esse pequenino ser que amo sobre todas as coisas – saído das entranhas como que por artes de feitiçaria - que mais me ajuda a crescer como mãe.
Sempre que me chama para brincar, sempre que salta para o colo à procura de mimos ou me enche os dias com um sorriso cheio de vida.