sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Entrei decidida pela porta dentro

Entrei decidida pela porta dentro, papel na mão, nariz para cima, peito erguido com se enfrentasse sem receio nem pudor dragão alado a cuspir fogo.
“- aqui está” - disse, com a voz um pouco mais elevada, porque tenho por hábito falar baixo e pensei que não me ouviria ou pelo menos não me levaria a sério se apenas suspirasse asmaticamente a melhor decisão que tomava desde os 27 anos.
Ele levantou a enorme cabeça e olhou-me lentamente. Ao contrário das outras vezes não me senti despida. O momento foi lento, ou pelo menos assim me pareceu. Mas não cedi nos meus intentos.
“- a minha demissão. Fico mais uma semana apenas para fechar alguns assuntos. Depois tiro férias. Não volto mais.”
Pareceu-me que piscou os olhos mas não me recordo bem. Perguntou atónito: “não pode ser, não pode sair assim!”
“- Claro que posso“– retorqui – “Vou sair de Lisboa e começar uma nova vida. Quero mexer na terra e sentir a minha filha a crescer!” - e sem mais despejei a minha carta de demissão em cima da confusa secretária do chefe e com a mesma certeza com que entrei saí, sem medo, porta fora.

Sonhei isto acordada na quarta feira.

Hoje é sexta, são 19h00 e ainda estou no escritório.

Volto na segunda.

2 comentários:

péssima disse...

:)

Isabel Freire disse...

mais fácil mesmo é fazer tudo para ser despedida... colocar questões ao chefe sobre o sentido da existência. Pergunta-lhe o que é 'forma', 'conceito', 'ideia', 'acção'...deixa de lavar o cabelo, arranja vários tiques em simultâneo...
good luck and don't quite