terça-feira, 14 de março de 2006

Elogio do prazer


Depois deste bocejo, e contrariando uma vontade de me enfiar na gruta dos 40 ladrões, fechadinha à chave em estado de hibernação por dois dias [segundo bocejo] mantenho a espinha sentada na cadeira e aproveito para dizer a alguém que me ligou hoje com muitas estrias (não é gralha, são mesmo estrias) no lombo, que a vitamina é boa e o slogan do ditador alemão também: Kraft durch Freude – KdF [Força a partir do prazer, do divertimento, do bem-estar]. Conheci melhor o moribundo projecto fascista há dois anos quando fomos para o Algarve germânico de férias: a ilha de Ruegen (antiga RDA), onde a gripe dos piu-pius já deu à costa. Na altura era Agosto, chovia só às vezes, e ficámos alojados na estância de Osteseebad Binz, vilarejo com um pontão gracioso em cima de um mar sem ondas, sem cor, e mais mosquitos por metro quadrado do que fios dentais em Copacabana. Foi uma experiência de veraneio genial, sobretudo porque a floresta entra pela praia adentro e com um pouco de sorte ainda se vê uma rena de óculos escuros e Pina colada à pata. Exactamente ali, bem,… a poucos quilómetros de distância [em comprimento, obviamente], Hitler ergueu um ‘quartel-general’ (*) para sopas e descanso das famílias que lhe estendiam o pulso em sentido e agradeciam a utopia de conseguir engolir o mundo de uma garfada, sem se engasgarem uma só vez – se observarmos a fúria lusitana em vencer campeonatos de futebol, quase me aventuro a dizer que aquilo de sermos todos 'papados' por uma nação se baseava no mesmo princípio de alienação. Voltando ao edifício, parecia uma colmeia, brutal, cinzento, com vista para aquelas águas mortas onde é preciso lutar com kilometer lang de algas a mordiscar os tornozelos até se conseguir molhar a cintura. In deed, Hitler tinha visão, não há força sem prazer. Percebo claramente que uma das mmás batalhas diárias tem de ser essa. Conseguir ‘inputar’ espanto, novidade, prazer e lazer aos dias rotineiros, ao desgaste de correr incessantemente atrás de um par de pernitas rechonchudas em plena actividade, correr incautamente ao lado de um trabalho que normalmente tira mais do couro do que dá ao louro, 'sprintar' à frente de um minuto para ‘egoistar’ de papo para o ar.
Ali Babá! Precisamos organizar uma festa!

(*) Conhecida por “KdF-Seebad der Zwanzigtausend” [Estância balnear do século vinte] foi construída entre 1936 e 1939, com capacidade para 20 mil pessoas se libertarem das rotinas e se refortalecerem. Parece-me desnecessário sublinhar que não tenho qualquer apreço pelo fascismo em geral ou particular, muito pelo contrário, e que aquela casa mete medo ao susto. Tenho muita pena, mas depois de centenas de páginas no Google, não encontrei um único postal de Binz com uma gaja boa e nua.

3 comentários:

Mimi disse...

Festa? Alguém chamou por MMim?

Isabel Freire disse...

b.,
a sujestão é sujestiva. eu teria levado um piriquito que me entrou pela casa adentro no Domingo, a quem dei bolacha Maria directamente da minha mão, e que me saltou para a boina que tinha em cima da cabeça, praparada que estava para sair. Tive de o tirar à 'força' da tola, mas era um óptimo pretexto para essa festa onde bem gostaria de ter estado. Conta mais pormenores desse teu sítio onde vives. Acho que só temos a ganhar!

MM, vamos lançando ideias para a coisa. Uma festa kids friendly, com tudo a que temos direito. Pode ser piquenique improvidado, desde que haja música, podemos alugar um espaço, fazer flyers, convidar todos os amigos por sms e esperar que os vistantes silenciosos deste Blog também lá apareçam.
Abril é um bom mês.

Mimi disse...

E que bela banda sonora estou eu a ouvir agora para a festa...