
Um amigo ligou-me há minutos. No meio da conversa, saiu um “tenho ido ao ‘teu’ blog, aquilo está a morrer”. Desliguei o telefone. Fui à cama da minha raposa, que chorava de choro entupido, por causa de um ouvido vermelho, inflamado. Sentei-me de novo ao computador. Aqui estou. Sem saber por onde começar. Há dois dias percebi que preciso de pensar. Só isso. Pensar sobre mim. Parar as máquinas (raios partam a da roupa e de secar, que todas as noites ou quase todas, ali ficam a lavar roupa suja como duas comadres carpideiras, blá blá blé, blé blá blá), desligar este PC, deitar-me no chão, fechar os livros, parar os relógios, fechar o barulho da rua dentro da embalagem de comida da tartaruga que parece hibernar, mais ou menos, assim assim, sem levar nada à boca desde que uma amiga a trouxe cá para casa e lhe comprámos uma ilha deserta para viver um amor e uma cabana no pior dos mundos: sozinha. Perdi-me para variar. É por isso que preciso parar, pensar. Estou sempre a perder-me em isto e em aquilo. Como se tivesse em minha cabeça os textos do Almada, aqueles que simulam o funcionamento de uma fábrica. É assim que me penso, como uma fábrica que trabalha por turnos, sem arrefecer jamais os motores, com as correntes e as válvulas a fumegar, gastas e roufenhas. Este texto é igual ao original, não lhe mudei uma vírgula, pois tenho uma fúria de chegar a algum lado, e vou deixando trapos à minha passagem, trapos de ariana, para voltar a casa, eu própria, sem regressar nua. Vou-me assim despindo de coisas que o corpo e o outro corpo - o tal que está dentro do primeiro e não se vê – reciclam numa cadeia alimentar sem alimentos que se faz de in put out put, put in, put out, mas put, put, put, put. Se este blog está a morrer é bom que morra em paz. Eu tenho pouca vontade de ficar sem ele, mas a verdade é que ando muda. Tenho poucos comentários a fazer, poucas mensagem a dizer. Porque estou em trânsito, em hora de ponta de mim própria, com o mundo a transitar à volta e a muito mais velocidade do que a permitida por lei. Estou a abrir, e quero só fechar.