quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Velocidade



Um amigo ligou-me há minutos. No meio da conversa, saiu um “tenho ido ao ‘teu’ blog, aquilo está a morrer”. Desliguei o telefone. Fui à cama da minha raposa, que chorava de choro entupido, por causa de um ouvido vermelho, inflamado. Sentei-me de novo ao computador. Aqui estou. Sem saber por onde começar. Há dois dias percebi que preciso de pensar. Só isso. Pensar sobre mim. Parar as máquinas (raios partam a da roupa e de secar, que todas as noites ou quase todas, ali ficam a lavar roupa suja como duas comadres carpideiras, blá blá blé, blé blá blá), desligar este PC, deitar-me no chão, fechar os livros, parar os relógios, fechar o barulho da rua dentro da embalagem de comida da tartaruga que parece hibernar, mais ou menos, assim assim, sem levar nada à boca desde que uma amiga a trouxe cá para casa e lhe comprámos uma ilha deserta para viver um amor e uma cabana no pior dos mundos: sozinha. Perdi-me para variar. É por isso que preciso parar, pensar. Estou sempre a perder-me em isto e em aquilo. Como se tivesse em minha cabeça os textos do Almada, aqueles que simulam o funcionamento de uma fábrica. É assim que me penso, como uma fábrica que trabalha por turnos, sem arrefecer jamais os motores, com as correntes e as válvulas a fumegar, gastas e roufenhas. Este texto é igual ao original, não lhe mudei uma vírgula, pois tenho uma fúria de chegar a algum lado, e vou deixando trapos à minha passagem, trapos de ariana, para voltar a casa, eu própria, sem regressar nua. Vou-me assim despindo de coisas que o corpo e o outro corpo - o tal que está dentro do primeiro e não se vê – reciclam numa cadeia alimentar sem alimentos que se faz de in put out put, put in, put out, mas put, put, put, put. Se este blog está a morrer é bom que morra em paz. Eu tenho pouca vontade de ficar sem ele, mas a verdade é que ando muda. Tenho poucos comentários a fazer, poucas mensagem a dizer. Porque estou em trânsito, em hora de ponta de mim própria, com o mundo a transitar à volta e a muito mais velocidade do que a permitida por lei. Estou a abrir, e quero só fechar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Aqui vai a receita para um blog de mães e para mães bem vivo:
a não alienação da maternidade, e com isso (re)começar a falar da cor dos cócós, do vomitado, dos graus de febre, das professoras da escola, da má educação que os (outros) pais dão aos (outros) filhos, da floribela, do parto hediondo/maravilhoso...
Quem quer apostar comigo a quantidade de comentarios que iam começar a surgir???
agora, por amor de deus, mães que falam de cultura que escrevem de si, para além dos belos olhos do filho, ou das suas grandes façanhas!!!
dar vida, por e para quê?

Minhas caras, dúvidas existenciais todas nós as temos.
"ponham-se quietas" que é como quem diz, mantenham-se como estão que estão muito bem, e nós, ou pelo menos eu, gostamos muito!

bx
ab

Mimi disse...

ab, quem fala assim não é gago, que é como quem diz o meu filho faz cocó em francês e toca piano em alemão...

Anónimo disse...

ps.
não tenho nada contra esse tipo de blogs, ou não tivesse eu própria também um (!), onde falo do quão giro e inteligente e giro e esperto e giro que o meu puto (giro) é.

a questão que aqui se coloca é da necessidade de ar fresco que venho aqui buscar...
e encontro!

apesar de, confesso, nem sempre perceber os vossos posts
;)


bx
ab

Anónimo disse...

O blog nao vai morrer, tenho a certeza! Quanto muito pode adormecer um bocadinho para depois voltar a acordar!
Beijinhos e boa continuação!
C

Anónimo disse...

C=celiaca