quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Em terra de cegos...

Mais uma vez os rankings, mais uma vez as privadas a liderar, mais uma vez a conversa de que as privadas lideram porque têm lá dentro meninos e meninas com um ambiente familiar privilegiado.

Na sua escola pública, a minha filha já foi rankizada pelo professor: melhor aluna. Coisa que a deixa muito feliz. E eu penso, sempre para dentro: não podia ser de outra forma. A turma está cheia de excluídos da vida. É evidente que ela se destaca. Não podia ser de outra forma.

O termo de comparação que ela tem (não desmerecendo o seu mérito) é baixo. Falava-se aqui do facto da pública preparar as criancinhas para a vida. Mas para que vida? Para a vida que nunca terá? Poderá a minha filha ter como bitola criancinhas que invariavelmente acabarão nas caixas dos hipermercados?

Duvido que ela queira ou vá ser caixa de supermercado.

Não faço parte daquele grupo de pais que anda a sobrecarregar crianças-quase-bebés com actividades extra-curriculares que lhes afastam o papão da impiedosa competição no mundo do trabalho.

Agora, que a minha filha se ache a maior porque é melhor aluna do que os putos que nunca viram um livro à frente... anham... Não é esse o mundo dela. Não vai ser nesse mundo que se vai mover. Numa privada seria capaz de se auto-avaliar melhor. Estaria entre os seus.

É duro, é impiedoso, mas é mesmo assim.

Mimi

14 comentários:

Anónimo disse...

Há uns tempos a passar numa aldeia claramente pobre com uma moradia gigantesca dei comigo a pensar:
será que eu preferia morar num sítio assim e ter uma das melhores casas e os meus filhos serem dos mais ricos da comunidade, ou pelo contrário, morar num condominio privado xpto com vizinhos para lá de ricos e sermos dos mais pobrezinhos.
A conclusão a que cheguei foi a que já me tinha dado conta antes: ai o que eu gosto do sítio onde moro!

Mimi, imagino que já soubesses disto, mas cá vai: Os resultados destas escolas não são reais.
A segregação começa quando só entram os que têm MUITO boas notas. E se houve algum engano nesta selecção, os miúdos médios/maus são marginalizados, postos de parte pelos professores e, na melhor das hipóteses, directamente convidados a sair.

Mesmo que eu tivesse dinheiro para isso, JAMAIS os meus filhos iriam para escolas destas... digo eu...

ab

Mimi disse...

Certo. Desde que a escola pública não se revele uma desgraça.

Não consigo evitar: a maternidade transformou-me numa leoa. Quero protegê-las a todo o custo.

O correu-me ontem que só agora a mais velha me está a sair do útero. E não gosto da sensação. Estarei a ser demasiado controleira? Eu que na teoria as estou a educar para a independência?

Anónimo disse...

Pois... não digo que a escola da tua menina não seja uma desgraça, aliás em retrspectiva, eu que cresci numa pública do interior do interior, vejo agora o quão má ela é/era.
Não em termos sociais, mas de ensino.

Eu não vejo as privadas/públicas a duas cores.

Acho apenas estes rankings uma treta, em que não é a qualidade da escola que está em causa, como se nos faz chegar.

Claro que nos transformamos em leoas! Como a péssima disse, a partir de agora é sempre a piorar.

ab

Anónimo disse...

Os rankings têm agora uma grande vantagem:
já levam uns anos (três, salvo erro) e começa a ser impossível não ler os resultados, que são sempre iguais:
- as privadas no topo
- as escolas do interior sempre no fundo da tabela

Deveremos continuar a ignorar estes resultados?

Nâo me parece...

Anónimo disse...

eu vejo sempre!
a curiosidade leva-me sempre a isso! procuro ver onde andam as escolas que conheço e onde anda aquela onde pretendo inscrever as minhas crianças.

Mas a verdade é que isto das privadas estarem a ganhar terreno é perigoso no sentido que falei antes.
O desgraçado do aluno que estiver a passar uma fase má e tiver o azar de ter uma ronda de notas menos favorável à escola começará irremediavelmente a ser excluído e a ser mal tratado de tal modo até que ele decida sair.

estas elites não me agradam.

não quero ser cínica, porque a escola onde gostaria que os meus filhos crescecem é, de facto, privada. nem sei ainda em que lugar ficou, e tenho muita curiosidade. No top ten não está de certeza absoluta!

São as elites/elitistas que me preocupam.
.. não, não me preocupam, apenas desagradam...

esta corrida por um lugar melhor no ano que é vem leva os colégios a tomar medidas que a meu ver não são nem pedagógicas, nem educativas, e acima de tudo não é o interesse dos alunos que está em causa.
e assim vão conseguindo ultrapassar as públicas, não por mérito dos métodos de ensino da escola, mas do nível de alunos que lá estuda.

bj
ab

Anónimo disse...

Já fui cuscar o dito ranking.

nem no top ten nem no top 600, a escola onde eu gostava de inscrever os putos não vai até ao 12º ano :)

aquela em que cresci de 600 escolas ficou nos 400...

A que ficou em primeiro lugar, foi do resultado das alunas que fizeram o exame: 15 alunas!!!

ab

Unknown disse...

A minha experiencia pessoal também me diz o contrário deste post e dos rankings. Talvez esta dicotomia publico-privado seja coisa de Lisboa, Porto, grandes centros onde de facto há privado.

Eu sempre fui boa aluna em escolas públicas. Se não a melhor, a segunda melhor da turma. Até ao 7º ano pela grande Lisboa e no 8º os meus pais mudaram-se para o interior, Trás-os-Montes. Lá não havia escolas privadas, era a mesma pública para todos. Ptto mesmo os alunos em situaçao pivilegiada familiarmente e economicamente era lá q iam parar. E foi ali, numa escola de interior, onde senti maior "competição", maior desafio em manter o padrão a q estava habituada.

Agora em adultos, dos meus colegas de liceu (8º-12º) há de tudo: os que se ficaram pelos cafés, pelas caixas de supermercado, os licenciados, os doutorados. No geral, o sucesso académico da escola pública teve correlação com o sucesso académico profissional.

Agora tenho 2 filhos pequenos, vivo em Lisboa. O meu marido é produto de colégios, eu de escola pública. E já acertámos (embora por maior pressão da minha parte) q não haverá colegios para os filhos. Haverá é acompanhamento familiar, claro.

Anónimo disse...

Não vale a pena essa angústia toda , mãe galinha! Entendo a tua preocupação, são a nossa carne e a nossa alma que também sofrem em sintonia com as crias...mas, como já tive ocasião de dizer,o serviço da pública prima sempre pela qualidade de ensino perante a vida e não é a treta do ranking de notas que interessa. A verdade é que , quando as criancinhas do top saem das fornadas entram nos seus mundos restritos de elite e essa não é a vida real, pois não??? Acredita que a tua filha ( não te incomode que já esteja rotulada de "melhor" ...ainda bem , ela é-o, não é??)terá bastante mais bagagem perante a vida, principalmente porque, crescendo ao lado dos desvalidos,aprendeu mais essa de viver no mundo normal e não no mundo dos protegidos. Além do que sabes dos meus filhos, acrescento que ambos fizeram os primeiros anos de escola na pública e, no interior do país. Hoje, não escolheria outra coisa.
Vá...relaxa, mãe!

Anónimo disse...

...resta-me dizer que , para se ser bom aluno, tanto faz a escola escolhida, pois o que manda é a massa de que a criança é feita e o espírito que os pais lhe incutem.
Eu costumo dizer aos meus alunos que não lhes ensino nada e acredito sinceramente nisso.
O professor, seja de que ensino for, apenas ensina a aprender e um bom aluno é aquele que, minimamnente motivado, procura o que tem de saber. Nem que seja à unha e com suor, mas esse é o que chega ao topo!

Anónimo disse...

Alguém leu a crónica de ontem da helena Matos no Público? Assino-a por baixo.

Os meninos vão à escola pública aprender que não precisam de fazer esforço nenhum na vida.

Anónimo disse...

Allô, once again,

Não li e não tenho mais informação que a frase:

"Os meninos vão à escola pública aprender que não precisam de fazer esforço nenhum na vida."

Ó Mimi, não te conheço pessoalmente e do que conheço gosto bastante, mas esta frase é muito má.
Aceitar esta frase, fora de contexto, é no mínimo ofensivo!!!!

Continuando no separatismo e radicalizando, se há gente com predisposição para o "não-esforço" nesta vida é a que frequenta escolas privadas! por todas as razões e mais alguma!

Será que o filho do Jardim Gonçalves frequentou uma pública ou uma privada? Em que lugar terá ficado? É que pelo menos em Economia deve ser bem boa!

bj

ab, ex-aluna de uma escola pública do interior do interior, classificada para lá dos 400 em 600

;)

Anónimo disse...

ofensivo?
ofensivo é obrigarem-nos a ter os filhos numa escola que não escolhemos e da qual nada podemos saber antes de começar o ano lectivo. Nenhuma escola pública vos dá informação sobre o método de ensino antes de começar o ano. nenhuma.
by the way, pela segunda vez desde o início do ano lectivo, o professor resolveu fazer ponte, mais uma vez sem sequer avisar os pais. a "notícia" chegou-nos pela criança de 6 anos, que logo avisou que não queria ser "distribuída" noutra turma. isto sim, é ofensivo.

Anónimo disse...

Estudei num país onde o ensino público havia sido destruído em poucos anos e onde praticamente só no ensino privado havia exigência.
Tive a sorte de entrar para um colégio que viria a ser o 1.º colocado no ranking precisamente no ano em que entrei na universidade e um grande amigo ficou em 1.º lugar em todo o estado, tendo sido entrevistado na televisão e tudo!
Não era de freiras, era de militares. Ou dávamos da perna ou eramos convidados a ir estudar para outro lugar. Éramos todos de classe média e os nossos pais bem que tinham de fazer um grande esforço para aguentar as propinas.
Nunca soube o que é violência na escola. Mas naturalmente tive sempre a noção clara das diferenças sociais do país onde vivíamos. Tive professores excepcionais, a maior parte deles engajados social e politicamente.

Quando viemos para Portugal, apesar das grandes diferenças curriculares, não houve dificuldades para nos adaptarmos a outro sistema de ensino.
Na universidade verifiquei com agrado que a esmagadora maioria dos meus colegas vinham do ensino público. Sim, isto sim é democracia, todos poderiam vencer se se esforçassem!

Hoje tenho uma filha no público e vai para o 3.º ano. Irá ter a 4.ª professora. Estou apreensiva, uma sobrinha, perdeu pura e simplesmente o 4.º ano com um desastre de um professor.
Por norma, deixo os meus filhos às 8h nas escolas e chegamos à casa às 20h. Não porque goste de trabalhar mais do que os outros. Adoro o meu trabalho, que fique aqui registado. Mas porque assim é nas nossas profissões.
Não posso estudar com a minha filha ou ajudá-la na escola porque o pouco tempo que estamos juntos ao fim do dia não dá. Ao fim de semana há as actividades extra-curriculares, as compras e tudo o mais que é preciso preparar para a semana.

É a melhor da escola, mas o meu receio é que a bitola seja baixa demais. Identifico-me imenso com o que a mimi escreveu.
E mais, o agrupamento de escolas ao qual nós pertencemos é um desastre, sendo a escola onde a minha filha anda uma boa excepção. Por isso eles terão de ir para um colégio, mais cedo ou mais tarde, ou então terei de usar de artimanhas para inscrevê-los em escolas melhores do Porto.

Não penso que se os meus filhos forem para o privado serão pessoas piores, mais protegidas ou insensíveis à dura realidade dos outros. Penso que a nossa atitude para com os outros tem mais a ver com a nossa educação em casa e em sociedade do que apenas pelo facto de andarem em colégios.

Vejo perfeitas "dondocas" na turma da minha filha e prevejo grupos dos bons, dos "queques", dos "excluídos"... Não serão todos bons, integrados e tolerantes apenas porque andaram na escola pública. Enfim, na escola como na vida.
Apenas quero para os meus filhos que andem num ensino exigente, que eles aprendam a dar duro para cada vez alcançarem mais. Que não se recusem a trabalhar mais porque já tiveram o "5" com um esforço mínimo. Se continuarem no agrupamento onde estão assim será, e às tantas são aliciados para irem para escolas profissionais. É assim a realidade. Assusta-me saber que os objectivos curriculares são diferentes para escolas como esta.



Quanto aos meus tempos de colégio, éramos rotulados no bairro como meninos que não namoravam e que não tinham vida social dada a exigência do ensino. Tretas, naturalmente.

Quanto à escola onde a minha irmã mais nova andou, a Alexandre Herculano, é conhecida pelas celebridades que por lá passaram. Ela mesmo foi muitíssimo bem preparada. Contudo, ao que me tem sido dito, o ensino já não tem nada a ver com o que foi naquela altura e o enquadramento social é hoje outro muito diferente.

Mimi disse...

E claro que as minhas primeiras impressões sobre a escola se confirmaram. Entre ratazanas a cair dos telhados, gamanços de material e outras coisas interessantes, fui obviamente obrigada a mudá-las de escola. Estão neste estado, (algum)as escolas públicas... Um dia destes venho cá escrever, beijos e abraços a todos