quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Escolas, crianças e bichos.


Vão perdoar a minha intrusão, porque eu, como alguns leitores sabem, sou um mero felino, percebo bastante de sonecas, miados e, de momento, preocupo-me, sobretudo, com a parca ração da minha dieta que já me está a dar água pelos bigodes.
Dizia eu que , apesar de macho e felino, sou conhecedor de coisas de crias, já que a minha dona passa a vida a desbobinar-me os seus mais recônditos pensamentos como seu fosse invisível.
Ouvi entender debater esse assunto das escolas públicas/privadas, superpovoadas ou familiares...e , nestas coisas, a minha dona que é mulher de opiniões muito definitivas , garante que o melhor mesmo é deixar os piolhos desenvencilharem-se, de preferência, na escola pública, pois, quaisquer que sejam as dificuldades, sairão delas à sua maneira que é aquela que os ajudará na vida futura, onde os pais nem sempre estarão disponíveis. Depois, ela acha que os pequenos desde cedo aprendem a manipular os progenitores por forma a terem as soluções mais conveneientes e, qualquer cedência precipitada é logo agarrada como regra e, podem ter a certeziha que daí em diante, só escolas queques, transportes especiais, faculdades privadas, nada menos do que isso, pois se sempre foi assim...!
Eu acho que ela sabe do que fala, pois diz sempre que tem acompanhado a educação de uns quantos milhares de rebentos e quase consegue prever ( sim, pois, eu sou preto e ela também é bruxa...)a peste egocêntrica ou a cria normal que de cada caso vai sair.
Diz também, que o discurso dos pequenos é reconhecível e o dos pais, idem, pois pais embasbacados e hesitantes em frente dos petizes dá frutos menos sãos e com excesso de poder .
Isto foi o que os meus ouvidinhos atentos e curiosos captam, mas connosco, gatos, não há cá meias tintas, como sabem.
Ahhh...tens fomeca e não queres as sobras de ração?? Então amanha-te e vê lá se aprendes que amanhã a fome é a duplicar.
Por isso se pode dizer que a minha dona que diz saber de gentes, não sabe de gatos e me educou mal, pois nunca precisei de me esforçar para conquistar o que precisava para amminha sobrevivência e , eis o resultado: 90grs de raçãozinha deslavada por dieta para um macho robusto como eu!!
ronrons carinhosos,
Romeu

8 comentários:

Anónimo disse...

Romeu!!!!!
Hum, delicioso!

Olha! a tua dona sabe o que diz e di-lo bem.

Muito bem-vinda a ela por ti.

Mimi disse...

oh Romeu, a ver se nos entendemos:

1. a questão não está sequer na dicotomia pública/privada: essa questão tenho-a arrumada, pelo simples facto de que não posso pagar escolas privadas, ponto final.

2. esta escola pública em particular (onde estão as minhas filhas) está a revelar-se manifestamente má. E para que tenhas uma ideia, a suposta "associação de pais" não é mais do que um grupo de pessoas que lá arranjou um tacho para ganhar uns trocos no pós-laboral: inventaram umas pouco inventivas actividades para a componente de apoio à família (17h30-19h00), que executem e pela qual recebem dinheiro...
Apesar de no início do ano lectivo nos termos mostrado disponíveis para integrar a AP, nunca nos contactaram - e apesar disso continuámos a insistir. Percemos agora porque é que não nos querem na AP. A escola, entretanto, compactua com isto, ignorando o interesse das crianças e pondo à frente as necessidades monetárias dos amigos. Isto é só um de muitos (maus)exemplos. O que fez a associação de pais, ou a direcção da escola, em relação às casas-de-banho nojentas que os miúdos têm que frequentar? Nada.

3. também não me consegues convencer de que as públicas são equivalentes às privadas. não são. são piores. haverá algumas públicas que funcionam bem, tal como haverá algumas privadas que funcionam mal. mas, no geral, as privadas são indiscutivelmente melhores do que as públicas. o importante é o poder de escolha. se concordo com um método de ensino, então inscrevo os meus filhos nessa escola. se não posso escolher, tenho que me aguentar à bronca. o professor da minha filha, por exemplo, não respeita os tempos de cada aluno. tem-nos todos na mesma bitolo. de modo que a minha filha chegou a casa arrasada a achra que era "lenta"...

4. também acho absurda - para não dizer ridícula - a ideia de que os meninos ficam queques e mal habituados só por frequentarem uma escola privada. serei eu uma dessas queques mal habituadas?

5. finalmente, acho que estás a passar um atestado de menoridade mental a quem se questiona sobre estas questões.
Eu não tenho dúvidas nenhumas: se pudesse, as minhas filhas estavam numa privada. Como não posso, tenho que, das duas uma: tentar melhorar a merda de escola pública onde elas estão, ou encontrar uma escola pública boa e ONDE HAJA VAGA...

Patch... tudo isto é muito simples e fácil de perceber: quem tem dinheiro no bolso tem poder de escolha para decidir, em consciência, que escola quer para os seus filhos.
Para mim, é de facto difícil engolir o facto de não ter esse poder escolha, até porque sou a primeira, em várias gerações, a não poder fazê-lo. Coisas da vida e da classe média cada vez mais pobre.
Para que tenhas ideia da importância atávica deste assunto (a importância da Educação), digo-te que todas as mulheres da minha família, de ambos os lados, e recuando pelo menos às bisavós, terminaram - pelo menos - o liceu. Esta é uma questão fulcral na minha família, que não se apaga assim sem mais nem menos.

Pretenderes menorizar, ou achar que é quequice, ou coisas que tais, uma questão que para mim é realmente importante e me causa grande ansiedade, é, no mínimo, muito arrogante.

Eu sei que só estás a tentar ajudar e agradeço. Mas tu tens as tuas verdades e eu tenho as minhas. Ajuda-me mais a partilha de experiências do que a declaração das verdades absolutas do género os queques e os outros.

Mimi disse...

só mais uma coisa:
tenho N amigos que sempre estudaram nas públicas e não é por aí que são menos cultos ou menos bem formados.

também me chegam vários ecos de amigos que têm filhos nas públicas e em que corre tudo bem, tal como tenho alguns relatos de más experiências (por exemplo, 3 professores num só ano lectivo).

a questão aqui foi esta: a minha filha reagiu mal à escola e eu tentei perceber porquê. já percebi entretanto que ela tem razão (embora não lho tenha dito). neste momento ela já está adaptada (como qualquer ser humano normal, adaptou-se), o que não quer dizer que eu tenha ficado de repente muito satisfeita com a escola. Fico feliz por ela se ter adaptado, fico infeliz porque sei (e ela não) que a escola é má e que ela só está numa má escola porque não tive hipótese de escolha...
foi a roleta russa e não tive sorte com a bala.

Anónimo disse...

Não sei se tanto ao mar ou tanto à terra. Acredito que a educação dos miúdos é feita em duas frentes, a da escola e a da casa. E o problema das escolas sejam públicas ou privadas é a má educação dos pais. Sim, são os pais os principais problemas e entraves das escolas. Eu devo dizer, redizer, que gosto das escolas públicas. Acredito que tenha tido muita sorte com os professores. O meu ‘problema’ da não-adaptação do meu piolho à escola no primeiro ano deveu-se, acho, à arquitectura da escola e não aos professores ou colegas.
Nunca trocaria as actuais escolas dos meus filhos, uma primária e uma secundária, por nenhum colégio, mesmo que tivesse dinheiro para pagar. E não é por questões de educação melhor, pedantismo, ‘quequice’ ou o que lhe quiserem chamar. É porque acho que têm ambas condições e bom ambiente para os meus filhos estarem. Ao contrário do que tu relatas, Mimi, na escola do meu mais novo é sempre um castigo arranjar quem queira ser representante da associação de pais, e não me parece que sejam remunerados. Os dinheiros têm estado a ser usados em apoios reais aos mais necessitados, há o caso de 4 ou 5 crianças que não podem pagar o CTL, a AP paga, há ainda um caso de uma criança com deficiências físicas e necessidades especiais, a AP paga a um professor especializado. Os garotos têm inglês (vêem-se resultados), ginástica (em excesso no meu entender, mas vai ser revisto) e música (que parece estar agora estabilizada, havia falta de professores musicais no agrupamento). No caso desta escola há uma preocupação real dos professores em relação há aprendizagem e educação das crianças. Claro que há atritos e desavenças de vez em quando, mas não é nada de relevo.
Quando digo que são os pais os piores entraves é porque não acompanham os filhos. Muitos acham que a escola tem a obrigação de os ensinar em tudo, mas a boa educação, o saber calar, respeitar, ouvir e admitir, o saber lavar as mãos, os dentes e o dizer obrigado e desculpe aprende-se em casa. Talvez por esta razão tu sintas tanta diferença entre uma escola pública e uma privada. Honestamente não sei, mas digo-te: no dia em que eu sentir que a escola por algum motivo não funciona em termos lectivos ou comportamentais não hesitarei em trocar os meus filhos de escola nem que tenha de fazer todos os dias 100 km.

Há tanta coisa para falar das escolas… tanta coisa. A ver se consigo contar a minha experiência com o mais velho, as minhas preocupações iniciais na mudança para uma escola secundária com má fama e a minha agradável surpresa e admiração por esta escola pública.

Anónimo disse...

..bem, Mimi..não fiques assim tão ....tão..acontece que temos tendência a dar uma importância enorme a tudo o que acontece quando eles são pequeninos porque os vemos indefesos e frágeis, mas, acredita, parece exagero, mas arrependi-me sempre que meti o nariz nas coisas dos meus filhos e vim a descobrir que o importante é estarmos ao lado deles, em casa, como pais e ao lado dos professores, na escola.
Também entendo que te sintas revoltada pela impossibilidade de escolha, mas garanto-te que sempre vi melhores resultados ( refiro-me a escolares finais de acesso ao superior, porque, para as metas da vida é mesmo irrelevante!) finais dos que andaram na pública do que dos que puderam escolher a privada.Em casa tenho bons exemplos: nos filhos e nos enteados. Os filho sfrequentaram o ensino público , andaram em bolandas de vida e de país, pontualmente sem mãe nem pai presentes e escolheram a Fac. pública que quiseram ( houve média de 18 e tudo, não proporcional à do juízo, mas isso é outra história...); os enteados, sempre em colégios privados de elite, ficaram-se pelas privadas com notas mínimas, embora sejam excelentes criaruras..
Assim, relaxa...respira...dá todos os beijinhos à garota e diz-lhe, como me dizia o meu pai quando eu me queixava de ser uma aluna injustiçada, em tempos bem mais duros: o que faz sofrer, faz crescer!
Então não é que ele tinha razão??

Mimi disse...

Patch... apanhaste-me num dia mau, só isso. Mas mesmo num dia bom irritam-me as verdades absolutas e essa mania de que as escolas privadas só servem queques e meninos ricos.
Quem me dera conseguir relaxar, quem me dera mesmo. Mas a verdade é que estou muito tensa e não o consigo fazer, nem a dormir: insónias, pesadelos, dores de costas e sei lá que mais.

Pssm - esse foi o primeiro problema que detectei na escola, que acaba por não ser bem um problema da escola: a maioria dos miúdos pura e simplesmente não tem e nunca teve qualquer tipo de educação em casa. Agora, deverá a escola tolerar esses comportamentos na escola? Eu acho que não. Não cabe à escola educar as criancinhas dos outros, mas cabe à escola explicar-lhes (a eles e aos pais) quais são as regras da escola. E naquela parece não haver regras. Que se comportem como selvagens em casa, problema deles. Mas têm que perceber que há sítios onde há regras e a escola tem que ser um desses sítios.

Ontem a MB disse-me assim: "mamã, vais ficar muito contente comigo! hoje fui a primeira a acabar a ficha de matemática!" E eu lá fingi que tinha ficado muito contente, mas voltei a explicar-lhe que importante, mesmo importante, é que aprenda e que goste de aprender e não que seja a mais rápida...

Eu, se pudesse, tinha-as numa daquelas escolas que respeitam o ritmo e a personalidade dos miúdos. Isto não é possível numa pública sobrelotada e onde as crianças nem sequer sabem estar sentadas.

Mais: agora as duas manas resolveram testar em casa os comportamentos malcriados que observam na escola. É todo um maravilhoso mundo novo...

Anónimo disse...

: )
sim!
os comportamentos são um problema ‘bi-escola-lar’.

No dia em que o meu mais pequeno me falou no mesmo tom com que fala aos colegas apanhou uma palmada…

Acho que o importante é estares presente e dizeres que a apoias, nunca deixares de ir à escola falar com a professora e principalmente conversar muito com as auxiliares, são elas o melhor reflexo dos garotos.

CORAGEM que a partir de agora é cada vez pior!

Grilo Falante disse...

Acho que vou imigrar...