domingo, 29 de outubro de 2006

Otto Griebel


Ontem gastei o dia enfiada nos lençóis. Passei o almoço – passei mesmo! Ouvi os talheres repenicar na sala, cheirou-me ao pernil no forno, ouvi o bip do microwaves avisar que a sopa sopa sopa. A pequenina repetia que era preciso lavar a cabeça à tartaruga, enquanto me vinha fazer festas na testa, de meia e meia hora, e perguntar se eu já estava melhor. Não ainda não estava nada melhor. Continuava morta de sono, embora no pêlo da flanela os cabelos e o resto do corpo se esquecessem do mundo há muitas horas.
Estou mergulhada num processo antropofágico. Num carrossel mágico, numa espécie de comboio fantasma ou roda gigante. Não tenho tempo, a não ser para a obssessão de terminar dois longos trabalhos. Os dias caem-me como guilhotina sobre o cachaço. Vou ficando mais pobre, mais magra. Ontem pelas 5 da madrugada, encontrei cá em casa a reprodução de uma pintura do alemão Otto Griebel, onde dezenas de homens alinhados, sujos de carvão, operários obviamente, se encostam e suportam uns aos outros pela força de vontade da clavícula. Colei-os na porta do meu quarto, o sítio onde passo manhãs, tardes e noites agarrada ao computador. Pensei que me inspirasse, que me desse vontade de contrariar o sono quando precisar de prosseguir sentada, teclando, pensando, escrevendo. Estou em processo de descida acelerada, com rodas por baixo dos pés. Estou em fase de confrontação, clavicular. Estou bem. A ver vamos onde estou e para onde vou.
Os próximos 3 meses serão duros.
Bjs
WV

1 comentário:

Anónimo disse...

Espero que estejas melhor!
Tem que ser, não é? A raposinha está sempre a precisar de ti!
Bjs
Celiaca