quinta-feira, 20 de julho de 2006

40 graus à chuva

Era uma vez um dia de Verão.
Daqueles que às duas da tarde não se ouvem os passarinhos, refugiados nos ramos mais folhados das árvores, a dormir, de penas bem abertas para deixar entrar qualquer brisa que se atreva. Por mais pequenina que seja.
Um daqueles dias de Verão em que, sem poder sair de casa, os ufs e os ais suspiram de 15 em 15 minutos.
Os salpicos salgados saturam-nos a memória dos dias de praia. O barulho das ondas, os gritos dos putos enchem-nos os ouvidos de cheiros de mar.
Era uma vez um dia de Verão que recebeu a visita do Inverno que bateu o pé e disse: “Este dia é meu!”
O Sol martelou-o com uma onda de calor de impedir qualquer estação do ano de meter pés ao caminho de Julho.
Mas o Inverno não se deu por derretido e respondeu à altura dos céus, com umas rajadas de vento que queimavam o rosto dos incautos que não se refugiaram nas suas casas.
Nunca se tinha assistido a uma coisa assim, até este dia de Verão.
Quem se aventurou a andar pelas ruas, em direcção às praias, agarrado aos chapéus, bolas e barcos cheios do ar do dia anterior - cumprindo o calendário de Julho - apanhou um valente duche enquanto cavalgava pelas ondas do Atlântico.
O Inverno chorava de rir, das manhas do Verão: “Pensas que evaporas as minhas gotinhas trabalhadoras! Nem penses, seu amarelo enfadonho! Olha para eles a divertirem-se à grande.”
“Pensas tu... Experimenta ficar cá mais do que um par de horas e vais ver o divertimento deles transformar-se em tristeza” – respondeu o Verão, enquanto espremia o Sol para aumentar a onda de calor. Estava prestes a rebentar quando reparou que as pessoas começavam a abandonar as praias.
Naquele dia, em que as estações do ano se misturaram e lutaram pelo mesmo tempo e pelo mesmo espaço, as pessoas a Sul, perderam o Norte. Amontoaram-se nos centros comerciais, acotovelando-se como formigas gigantes num carreiro de formiguinhas minúsculas.
O dia já não era amarelo, nem laranja, não era nem cinzento, nem castanho. Ficou com a cor da confusão, entre o “vou e o não me apetece”, entre o “quero e afinal já não”. Ficou com uma cor desconcertante e desagradável.
Até as gotinhas ficaram desgovernadas. Enquanto caíam trocavam salpicos umas com as outras: “Que gostavam de aventura mas que aquilo também já não tinha piada. Que já se tinham sentido melhor noutros dias e que estavam fartas de transpirar, que queriam um pouco mais de higiene!”.
O Inverno, que já estava a ficar amarelo com tanta súplica e enjoado com o movimento das baratas tontas em que se tinham tranformado as pessoas, começou a ficar da mesma cor que o dia. “Gostava mais de as ver como as conhecia – pensou - animadas a escorregar na neve, ou apaziguadas nos sofás das suas casas a ouvir as doces gotinhas cantar na rua.”
O Sol sentia que estava a ganhar o dia e resolveu esticar uns raios de paz.
O Inverno sentiu-os a pintar o seu cinzento, que já pouco tinha de escuro e enviou-lhe um sorriso. Subiu bem alto, sacudiu as últimas gotas, mensageiras do final daquela tarde de Julho:
“O dia 11 somou duas estações, mas há espaço para todos ao longo do Ano. Volto daqui a uns meses. Para varrer algumas folhas, as mesmas que abrigaram hoje os passarinhos. Não vou interromper mais o calor que estendes pelos teus raios. A cor do dia vai voltar a ser amarela. Mas tens que admitir que a que pintámos hoje não era má de todo!”
O Verão deixou que essa cor inundasse o dia uma só vez mais para responder ao Inverno.
Era um daqueles dias de Verão em que as toalhas voltam a estender-se nas praias. As gaivotas continuam o seu canto, desnorteadas, como sempre. Os outros passarinhos largaram em voos de fim de tarde à procura de comida.
E em casa, terminaram os ufs e os ais.
A cor amarela da areia estava logo ali. O cheiro do mar também.
Era uma vez um dia de Verão.


FIM!

PINTA UM DESENHO COMO A HISTÓRIA

NOME : MM DATA : 12 - 07 - 06
Nota: O enunciado, feito muito "direitinho" a computador, foi elaborado pelo meu filhote, de 6 anos (bom, quase 7 diria ele...). Deixou-o feito no ambiente de trabalho do computador num destes dias de férias, para eu completar "quando tivesse tempo", recomendou-me. A estória já está, falta o desenho.
Depois de lhe dar tantas tarefas para passar o tempo, alguma havia de sobrar para mim! É bom quando eles nos desafiam. Agora só me falta o desenho!

5 comentários:

péssima disse...

:)
Uindo (lindo)

Célia disse...

Hummm... que delicia! Venha o desenho s.f.f. e depois logo vemos se uma imagem vale mais que mil palavras!;))
Muito bom.

Isabel Freire disse...

ÓOOOOOO!!!!!!!! Mister F!!!!!!
Vamos aí a baixo pintar convosco, ai vamos vamos!
Falta pouco!

putafina disse...

Cá vos esperamos, na casa nova? Estamos em contagem decrescente. Uma semananinha e estamos lá, e ainda com os trolhas!

putafina disse...

Semananinha é giro, porque não naninha?! Bolas para a s gr a lh is!?#$/"