terça-feira, 4 de julho de 2006

Swing


Parece-me um auto-retrato.
A câmara está em cima da cómoda (acho este substantivo genial) - que mania a minha de fazer sempre um comentário linguístico quando começo um texto, espero que não seja sintoma de uma psicose grave.
Ela está aborrecida. Na verdade, o que gostaria mesmo era de estar na praia, numa esplanada, com os pés enterrados até ao pescoço, de cerveja fresca entre as coxas, cigarro no canto da boca, cabelo apanhado, suado, e nada na agenda. Está aborrecida e em casa, o marido joga ténis de mesa com uns amigos (não, se calhar é mais equitação). É domingo, e o baby - maravilhoso - cheio de inveja do pingue trote, pongue galope, braceja como se estivesse dentro de água.
Eu tenho um auto-retrato em vídeo - provavelmente é o meu preferido - que fiz quando a menina tinha muita banha e ruguinha na perna, lá para os seis meses. Dançamos as duas uma música de Mano Chao, eu com um sombreiro de palha gigante, ela de fralda seca ou molhada. Foi um momento de encantamento, aquele swing. A imagem ficou felizmente desfocada (é nestas alturas que desconfio da existência de um diabo com muito bom gosto). Parece uma pintura. Além disso gosto do facto de a nossa intimidade se manter inviolada. É preciso duas para dançar o tango, nós acertámos o passo e dobrámos a perna.
Daqui a nada, dois anos depois, vou buscá-la à lente de uma rotina tantas vezes desanimada, hoje apaixonada.
beijinho beijinho

3 comentários:

Mimi disse...

Andei a ver o álbum de bebé da MB -começa na minha gravidez magra, passa pela futura mãe gorda que nem um texugo, mostra as mudanças na casa para receber a criança e mostra também a barriga do pai, que se mantém inalterada ao longo dos meses. Depois há o nascimento dela (não, não tenho fotografias do parto em si, mas tenho à entrada e à saída), a chegada a casa, os pais com olheiras e mau aspecto de dormir tão pouco e ela sempre com um ar tão porreiraço que ainda hoje mantém. Há também uma que adoro especialmente, com a MB completamente vesga, a aprender a focar o que a rodeava. Muitas fotografais minhas a dar de mamar, outras dos gatos a espreitar a nova habitante. Nunca se atreveram a saltar para o berço dela. Rever aquelas fotografias, como fiz há uns dois dias, faz-me recuar até a um tempo que me parece agora tão distante e que foi tão feliz e despreocupado.
A mais nova, coitada, já não tem um documentário fotográfico como este, mas fiz um esforço para que também tivesse um álbum só dela, o que foi difícil, porque a MB aparece quase em todas...
Entretanto, temos tirado algumas boas fotografias, mas que acabam por ficar esuqcidas dentro do computador. Mil vezes as fotografias de rolo que tínhamos que revelar para as ver!

putafina disse...

Assino em baixo em relação ao digital.
Ando há cerca de 6 meses para imprimir algumas que sacámos da máquina da minha irmã. Estou à espera delas para poder colocar as mais recentes que tirámos com a nossa máquina, de rolo.
Neste último rolo os miúdos aparecem gigantes, quando comparados com as últimas fotografias que lhes tirámos.
Andamos um pouco distraídos...

péssima disse...

Por vezes ficamos surpreendidas com a diferença de personalidade nossos filhos. Caramba, mesmo pai, mesma mãe, mesmas condições, mesmos princípios e mesmo assim tão diferentes. O tanas! Por mais neutra que tente ser admito que houve diferenças substanciais na educação do primeiro para o segundo filho. E uma delas é ter um álbum de fotos do primeiro e não ter do segundo. Um dia mais tarde isto vai-me ser cobrado, tenho a certeza. E hoje não me apetece pensar muito nisso (e nas outras coisas também) mas a questão pode ser levantada para quem tenha mais que um filho e pensa que a educação foi igual.