sábado, 1 de julho de 2006

Luto e entreajuda

A associação A Nossa Âncora pode ajudar pais em luto. Deixo alguns excertos da página na internet.

Sobre o Luto
A palavra luto quer dizer “dor” causada pela morte de alguém. “Fazer o seu luto” quer dizer literalmente: “passar através da sua dor”.
(...)
O luto é assim um acontecimento normal da vida e não uma espécie de doença. Infelizmente, a negação do sofrimento e da morte na nossa sociedade impedem o desenrolar normal da resolução do luto. A dissimulação e o recalcamento aos quais são obrigadas as pessoas em luto são factores muito importantes de “stress” e até mesmo de doença.
(...)
O luto apesar de ser um trabalho individual, é também um acontecimento colectivo. Toda a comunidade sofre a perda de um ser que tinha tecido à sua volta toda uma teia de ligações. É por isso que a pessoa em luto deve, no seu caminho, tornar-se solidária para não ficar solitária. A perda de um membro de uma família, de uma comunidade, toca todos e faz reviver em cada um as suas próprias perdas. É toda a comunidade que fica privada de um dos seus.

Sobre os Grupos de Entreajuda
Um grupo de entreajuda é um conjunto de pessoas com os mesmos problemas que se reúnem pondo a nu e partilhando emoções e sentimentos, com o objectivo de tentar superar as suas dificuldades. Num grupo de entreajuda cada um dos elementos serve como modelo de identificação perante os outros e os testemunhos prestados vão ajudando à caminhada do grupo no seu conjunto e cada um em particular.
Normalmente os pais chegam a estes grupos num estado de fragilidade emocional e física muito grande, completamente perdidos, sem saber que rumo dar à vida, sem interesses, nem mesmo pelos outros filhos.

A Nossa Âncora escuta com muito amor todos os pais que a procuram e precisam desesperadamente de falar dos seus filhos. Eles sentem que têm ali um espaço onde podem chorar, ser escutados ou simplesmente ouvir os outros.Vários pais (homens) confessam que vão aos grupos porque é o único sítio onde podem mostrar-se, chorar a sua dor sem vergonha.Os pais, jovens ou menos jovens, começam por descarregar a sua angústia contando os detalhes, por vezes horríveis, das últimas recordações que têm do seu filho. Entre estas lembranças há os postos de polícia, as noites sem dormir, o desejo de gritar o seu sofrimento.
Quando eles descrevem os seus dramas, ninguém fica chocado. Todos permanecem firmes e solidários. Não existem críticas, só compreensão.Nestes grupos onde se partilha o sofrimento partilha-se também a esperança. Os pais têm necessidade de ter um lugar onde em segurança e com confiança possam abrir o seu coração e dizer o “indizível” gritar se tiverem necessidade de o fazer, sem que de imediato lhes seja administrado um calmante. À medida que se vão integrando nos grupos, vão criando laços de amizade e alguns pais verbalizam interrogando-se: “Eu preciso de voltar a ser feliz por mim próprio, pelos meus filhos, pela minha família e amigos, mas é tão difícil. Será que vou consegui-lo algum dia?E começam a interessar-se mais pelos tempos da caminhada dos outros.
Quanto tempo depois do seu filho ter morrido é que deixou de ir todos os dias ao cemitério? Quando é que desmanchou o quarto da sua filha? Quando é que conseguiu ver televisão outra vez? É capaz de olhar para as fotografias dele ou dela sem chorar? Um sem fim de questões que os abafam e querem começar a destrinçar. É a esperança a dar os primeiros passos.
A morte desencadeia reacções muito fortes que nós não dominamos. O grupo de pais pode trazer-nos principalmente a descoberta de que os outros também vivem as mesmas tempestades de violência, de agressividade, de ciúmes, de angústia, de medo. É libertador. É preciso reconstruirmo-nos, procurar de novo as nossas raízes e encontrar os nossos alicerces.

5 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada mimi.
já tinha saudades vossas

Mimi disse...

:)

Anónimo disse...

Eu perdi o meu mano, no dia em que fazia 33 semanas de gravidez.
Daí até às quarenta arranjei esquemas de escape e habituei-me a não pensar nele.
Não fiz luto.
Quando o meu filho nasceu dei-me ao luxo de começar a pensar nele… após uma má recuperação de uma cesariana, as coisas não ficaram melhores para estes lados.
Reabituei-me a não pensar nele.
Também não falo sobre ele.
Quando a minha cunhada ou a minha mãe falam comigo sobre ele, eu respondo “sim”/”não” e mudo de assunto.
Para mim ele não foi embora…

Durante o tumor dele fui a única que não o tratei como doente terminal, porque realmente não acreditava que ele ia partir: Ele era uma pessoa boa e extremamente lutadora, como é que se podia ir embora???
Hoje arrependo-me por isso.

Mimi disse...

eu acho que nós temos o direito de sentir o que bem nos apetecer quando morre alguém que nos era muito necessário: arrependimentos incluídos. Provavelmente não temos motivo nenhum para nos arrependermos seja do que for (e no teu caso não vejo porque é que hás de ter sentir arrependida), mas o melhor é não disfarçar sentimentos.

Temos então experiências parecidas: o meu pai morreu um mês antes de eu engravidar. O que temos é reacções diferentes.

A minha gravidez foi óptima - serviu-me para perceber que a vida é um ciclo: nasce-se, vive-se, morre-se. That´s all. E foi o fim de um ciclo e o início de outro: passei de protegida a protectora. Nunca me armei em forte, mas a verdade é que as minha hormonas de grávida me deram um força qualquer sobrenatural e que me ajudou a começar uma vida completamente nova. Chorei à mesma, esperneei à mesma. Mas fiquei muito melhor depois de saber que estava grávida. A vida voltou a ganhar sentido, percebes? É claro que é injusto que morram pessoas novas, pessoas boas (com tanto sacana que há por aí!). E é claro que é injusto que o meu pai não tenha conhecido as netas e vice-versa. Mas também sei que o meu avô paterno nunca me fez falta, porque nunca o conheci. Pelo contrário, o meu pai, e no teu caso o teu irmão, vão fazer-nos falta a vida toda.

A única "cura" para o mal é mesmo desabafar. Estás à vontade para desabafar aqui!

Anónimo disse...

há um blog novo

http://projectoancora.blogs.sapo.pt/

podem divulgar, sff?