sexta-feira, 30 de junho de 2006

E depois?...


De manhã, depois de ir por a L a casa da avó e de chamar os nomes mais ofensivos que conheço a meia dúzia de gajos que conduzem e enviam mensagens do telemóvel ao mesmo tempo, de chegar ao mesmo emprego e ver os mesmos assuntos, de ficar irritada com as mesmas pessoas, recebo um mail de uma amiga que perdeu há meses um sobrinho adolescente. As partes do texto que aqui vos deixo foram escritas pela mãe do rapaz, que também conheço, a quem fizeram a pergunta o que sentes:

“Perguntas o quê….
O que se pode sentir??
Não sei...!!

Vazio
Dor
Tristeza
Solidão
Saudades
Muitas saudades
Medo
Raiva

vazio
Um buraco muito grande [....]
dor
Não deixa fazer nada
Dói só de pensar [...]
Tristeza
Um nó na garganta [...]

Porque é que eu continuo neste caminho??

Está vazio de ti
Faz doer de tristeza
De saudades
Tenho medo

[...]

Não sei o que se sente!!
Acho que não se sente nada"

Fico reduzida a este nada de terror por perder assim um filho...
E depois?
Depois nada.
Há que seguir, não?

4 comentários:

Anónimo disse...

Não sei o que se sente... Rezo (sem sequer ser crente) para nunca vir a sentir.
Mas fico com um nó enorme na garganta e um aperto avassalador no coração só de pensar...
Não sei o que se possa dizer a uma mãe assim... Não creio que existam palavras ou sequer actos que façam diferença...

Mimi disse...

Venho eu aqui dar uma espreitadela rápida (é o vício) e aparece este post... Não dá para sair sem comentar.

Este é o meu ponto fraco. Tenho realmente PAVOR que lhes aconteça alguma coisa. Disfarço bem, mas é um medo estúpido, que aparece sempre que elas estão num carro e demoram a chegar, ou sempre que se penduram num brinquedo alto no paque infantil. Também tenho medo quando se aproximam de uma janela.

Passei a ter medo depois de ser mãe. Também tenho medo de morrer, porque tenho esta ideia fixa de que sou a única que sabe tomar as melhores decisões para que a vida lhes corra bem.

Só posso falar do que me custou a morte do meu pai, há 6 anos atrás. A irreversibilidade da coisa dói que se farta. Rever os locais onde se passaram bons tempos, passar por outros onde a presença dele seria obrigatória, tudo isso dói. Não poder pegar no telefone e falar com quem morreu. A ausência, permanente, prolongada, custa a aceitar. Nunca se aceita. Quanto muito, com o passar do tempo, habituo-me (mal) à nova realidade.

Mas se nenhuma de nós pode dizer seja o que for para ajudar, talvez na associação A nossa Âncora possam. É uma associação de pais em luto e deixo aqui o link:

http://www.anossaancora.pt/

Isabel Freire disse...

Fogo, é demasiado verdade para ser impossível, mas é impossível que aconteça a alguém. Nem me atrevo a pensar no assunto e nem imagino o que possa ser.

péssima disse...

Quando o meu bicho-das-castanhas nasceu um amigo meu veio visitar-me com a sua filha de um mês. Discutimos que nem ciganos como quem arranja namoro à distância.
Aos sete anos de idade a menina morreu com cancro. Não há abraço, palavras, actos, olhares, cumplicidades que consigam apagar a dor de quem perde um ente querido.
Mas há o tempo. O tempo passa e a dor que depois é raiva vai ficando pequenina até que se transforma num orgulho enorme de se ter partilhado pedaços da vida com as pessoas que morreram.