quarta-feira, 21 de junho de 2006

A pulga sem patas ainda salta?

A propósito de cãezinhos amestrados vou dizer mal, apenas pelo puro prazer de contrariar o que tenho dito, da escola do meu bicho-das-castanhas.
Festa de final de ano e todos os macaquinhos, cãezinhos, catatuas, focas, tigrinhos (soube hoje em primeiríssima voz, já que foi dito em palco com voz alta esganiçada mas sem feed-back, entenda-se, que a escola apadrinhou um tigre do jardim zoológico), gatinhas e pulgas amestradas estavam preparados para o espectáculo que se antevia longo. Hora de início prevista 18:30, muito bem, hora de encerramento 20 horas, nada mau.
Lá consegui lugar sentada depois de muitos empurrões, tropeções e acotoveladas.
Depois dos olá boa noite blá-blás gerais da ordem entra uma menina lindíssima com vestido fox trot a avisar a viagem pelas tendências musicais até aos tempos modernos. O meu piolho encardido riu e eu dei, como de costume em tudo, o benefício da dúvida. Não correu mal de todo já que se tratam de amadores e, para além de tudo o mais, quando se trata dos nossos meninos e meninas a fazerem de centro de atenção na arena circense achamos que até está tudo mesmo muito bem. A minha inquietação era que o meu bicho das castanhas faria parte do concerto final e, para além de todas as cabeças que via em pulgas para entrarem em palco, ainda havia a tão esperada entrega de prémios… Coragem, pensei enquanto tentava calar o mais novo que não se calava com chamamentos de mano. Mas continuando, o espectáculo que se seguia tinha como atracção as focas e catatuas que constituem a secretaria da respectiva escola. Todas vestidas a rigor, claro está. Foi um espectáculo lindo de se ver. Vianesas, afifes, areosas, saloias, campinas, algarvias e sei lá eu que mais. E assim foi correndo a festa, ora danças tu ora danço eu, roda e rodopia desde o corridinho ao bailinho lá corria o espectáculo intervalado com as danças das meninas que animavam a plateia com pedaços de Lisa Minelli em Cabaret (coisa estranha de ver em miúdas de 12 anos) Elvis, Grease, hip-pop e, claro, Kuduro.
Não sei a que horas o director anunciou um intervalo de dez minutos para prepararem a entregas dos prémios. Se já estava agoniada com tal mistura de sons e cores e coreografias em cada elemento tenta sobressair saltando mais, correndo mais, gritando mais, se já estava sem argumentos com tantos quando é que é a vez do mano, porque é que o mano não é agora e outras variações do mesmo que já não me lembro, fiquei estupefacta a ver tamanha desorganização das supostas orientadoras do meu filho. Calma, pensei enquanto explicava que os outros manos também estavam à espera e que já não deveria faltar muito para o piolho ouvir o bicho-das-castanhas a tocar a música do Titanic que nos tem atormentado em tanto ensaio cá por casa. Passada meia hora, em que o fundo do palco era uma gigantesca projecção do sistema operativo Windows com 250 pastas e ficheiros a ocuparem quase o ecrã inteiro, lá começaram a entrega dos prémios à ordem do… “pedia ao excelentíssimo colega que nos apresente o power-point” arghhhhhhh power-point não!!! Gritei mas ninguém ouviu. Valeu-me o olhar cúmplice do meu marido e até nos aguentámos bem até que as imagens do Fernando Pessoa, Ulisses e Dom Quixote saltitaram em forma de dança pelo ecrã ao som de uma música alusiva a uma tal valsa de palavras. Foi demasiado para nós, desatámos a rir. Pronto, pronto, está bem, ok, valeu a intenção. “Vamos então dar início à entrega dos prémios. Pedia aos meninos para deixar passar os colegas e para estarem todos atentos porque já estamos atrasados…” Ora bolas. “Prémio de escrita do primeiro período para o 5º ano (pausa) chamo a menina X(pausa) onde está a menina X? (pausa) peço à menina X que suba ao palco para lhe ser entregue o prémio e uma pequena lembrança entregues pela professora XX (pausa) (ainda pausa) Ah! Lá vem a menina X que vai receber o primeiro prémio de escrita do primeiro período sob o tema … tigre com bom coração (pausa) (a miúda tenta passar por cima de tudo para chegar ao palco) bem, vou já chamar o menino Y para o segundo lugar do mesmo prémio (pausa, e a menina X ainda não chegou ao palco) menino Y onde está o menino Y? (pausa e finalmente a menina X lá conseguiu trepar para o palco onde recebeu um diploma, um embrulho e dois beijinhos da professora).
Está bem, está bem, eu abrevio. As categorias eram (pelo menos as que me lembro) escrita, leitura, matemática simples, jogo do 24, inglês escrito, inglês lido, trabalho de biblioteca… e houve ainda um prémio especial para a menina que requisitou mais livros na biblioteca. Raios, esqueci-me de contar que antes disto esteve em palco uma escritora infanto-juvenil que contou lentamente que começou a escrever livros há quatro anos porque não havia nada para ler para aquelas idades e que depois … está bem, conto isto noutra altura. Onde ía eu? Ah nos prémios, claro. Ora deixem lá ver. Do 5º ao 9º ano são cinco anos, cada ano tem três períodos, isto dá 15 temas vezes três prémios dá 45 crianças que tiveram as mesmas dificuldades e demoraram o mesmo tempo a chegar ao palco, e atenção que isto apenas se refere à categoria da escrita… imaginem o resto que eu não tenho paciência para descrever o restante respeitante aos prémios.
Bem, vamos ao que me interessa que é a prestação do meu bicho-das-castanhas.
É agora, digo eu em jeito de cotovelada ‘pára, está quieto’ ao meu mais novo que desesperava. Eis que entram outra vez as senhoras do corridinho vestidas a preceito. Já vomitaram ao ler isto? Se ainda não preparem-se: as senhoras dançaram mais uma vez, depois entrou a equipa das sevilhanas que ‘dançaram’ quatro espanholadas, entenda-se que aqui o dançar é a extenuante tarefa de rolar as mãos por cima da cabeça e fazer rodar a saia. Finalmente o grupo musical… alguém grita ao microfone uma apresentação rápida do grupo musical do quinto ano. Estou quase a choramingar em coro com o meu piolho com uma vontade enorme de ir à casa de banho, fome e irritação pura. Pois eles não tocaram uma música, não senhor. Primeiro cantaram o hino da escola, depois tocaram uns acordes simples depois os mesmos acordes mas mais elaborados e ainda uma terceira versão da mesma música mais composta. É agora???? Ainda não. Entraram mais alunos do 5º ano para tocarem mais uma música e não tocaram mais porque eram 9:30 e o auditório tinha de cumprir o próximo contrato (é um teatro, e o espectáculo deveria começar às 9:30 e as pessoas que compraram bilhetes, assim como os artistas, não deveriam estar mais satisfeitos do que os muitos pais que ainda se aguentavam para ver os seus macaquinhos, cãezinhos, catatuas, focas, tigrinhos, gatinhas e pulgas amestradas a actuar em palco). Conclusão abreviada: depois de três horas à espera o meu bicho-das-castanhas (e os colegas do 6º ano, para não mencionar o 7º, 8º e 9º ano) não tocou a música do Titanic e o mais pequeno, sábio, exclama um ‘mas ca ganda pucaria’ ao ouvir a explicação envergonhadíssima e cheia de pedidos de desculpa do director da escola. O bicho-das-castanhas com o sobrolho carregado avisou-nos um ‘não quero falar sobre isto’ o que nós respeitámos, claro.

Bolas, estou mesmo cansada e não tenho pachorra para rever as palavras. Se encontrarem muitos erros ignorem se faz favor.

6 comentários:

Mimi disse...

eheheheheheheheheheheheheh!!!!!

ó pá, desculpa lá, eu sei que a tua dor é grande, enorme, sufocante... mas ri-me tanto a ler isto!!!!

mas porque é que as escolas insistem nestas festas ridículas? e porque é que lhes dá para tentar fazer umas coisas tipo gala? será influência da televisão? ou será mais tipo freud explica (a minha festa é maior do que a tua)?

eu soube ONTEM que a festa das minhas é dia 29, às 16h30, sendo que nesse dia sou suposta de estar a trabalhar até às 20h00... Lá tenho eu que encontrar uma alminha que troque de horário comigo...

Mmas - acho mesmo que a nossa primeira manifestação (comé, manifestamo-nos ou não?) em frente à AR devia mesmo ser contra as festas de fim d'ano! Mas há alguém que goste desta merda destas festas?

Anónimo disse...

Pois ...é po ressas e mais outras que a Je NÃO motiva meninos a festas. Os prémios entregam-se no local próprio ( aula de Português, Biblioteca...)e evita-se massacrar pais com tal sofrimento. Mas isto acontece porque o ME quer muito que as escolas "se abram ao meio", "dinamizem ", "promovam", e essas tretas que só cansam e não promovem verdadeira educação.
Claro que eu sou muito reaccionária...ainda acho que o professor deve ENSINAR antes de se armar em animador cultural...
Se te consola, o castigo deve ter sido democrático...

Isabel Freire disse...

PSSM,
Isto é um cómico filme de tortura! A festa da raposa é daqui a nada, ainda bem que me lembráste, até porque hoje entrei num café, pedi o dito cujo, fiz um telefonema, paguei a bica, e saí sem molhar sequer a boca. Cá fora andei uns metros e pensei: "Scheiss!". Quando voltei estavam os empregados com a 'Xávina' na mão a rir à minha custa - como me ri à vossa, depois de ler a descrição.
;)
Será possível? Mas como é possível? Se se tratasse de uma empresa de ferragens, ainda compreendia. Ok, os tipos não têm sensibilidade para analisar os efeitos de um programa cansativo desses, não conhecem o perfil inquieto do Homem, não estão sensibilizados para a frágil capacidade de concentração das crianças, enfim.
O bom gosto, a síntese e o sentido prático são duas coisas muito importantes que faltam em muito bons lugares e cabeças.
A vantagem é que nós - que não fomos submetidos à tortura - nos divertimos à brava.
vamos lá ver como corre a minha!

putafina disse...

A do meu pimpolho será no dia 3 de Julho (já em período de férias...). Também vai ser num teatro, o que já me faz temer, pela multidão.
Início previsto: 21H!
Vão juntar-se alunos de 4 ou 5 escolas, todas do mesmo agrupamento escolar.
Espero conseguir ouvi-lo cantar a música do Paião, que até a irmã, de 2 anos, já sabe!
E ponho também muitos ??? nestas festas. Porque é que têm que ser tão penosas para nós e para eles? Sim, porque ficar à espera da vez de brilhar também deve maçar.

Célia disse...

Alguem perguntou aos miúdos se queriam realmente participar destas festarolas?
Podiam ao menos cantar canções da sua própria autoria, ou dizer poemas, ou qualquer coisa que não fosse planeadao exclusivamente pelos professores.
Que mania de normalizar os putos.
Bem isto sou eu a falar do que não sei (o meu só tem um ano).

Eva Lima disse...

E eu que há um ano me queixei http://filhosecadilhos.blogspot.com/2005/06/festas-de-fim-de-ano-lectivo.html#links e tenciono continuar a assistir a queixar-me e o inverso!