quarta-feira, 14 de junho de 2006

Mulheres!


A Jessica engravidou aos 36 anos, na noite em que perdeu a virgindade com um condutor da Carris. O tipo é franzino, casado, pai de um filho com 3 ou 4 anos de idade. A Jessica ficou apaixonada pelo homem do volante, e decidiu ser mãe. Durante a gravidez engordou 25 quilos, de tanto bolo com creme que forçou garganta abaixo, para baixar os níveis de ansiedade. A menina nasceu bem, saudável, bonita. O pai não foi ao hospital. Tem uma família em casa, mulher e filho, e aquela criança veio destabilizar muito nervo muito nervo. O tipo assumiu a paternidade. Vem ver a menina quando pode. Ambas as mulheres passaram um período de guerra dura. Esperas, insultos, agressões e até um processo em tribunal para o qual servi de testemunha. A Jessica carregava uma culpa de amante, desamada, filha de uma grandessísima égua, prostituta, mãe solteira, e arranca corações conjugais. Mas sempre manteu a dignidade, apesar da depressão, e nem que fosse à força do salto afiado do sapato, que várias vezes tirou do pézinho de ciderela negra para se defender da mulher oficial do tipo do autocarro, uma dama de cabelo longo, oxigenado, muita produção e maquilagem, muita sedução e vantagem. "Tu já a viste? Parece mesmo a Shakira!" - repetiu-me a Jessica vezes sem fim, enquanto eu percebia que também ela desenvolvia uma personagem de femme fatal morena. Hoje, tem o cabelo pelo rabo, preto preto, usa decotes brutais, saltos ainda mais 'effeis', e baton sempre à medida.
Ontem à tarde, a caminho de casa, encontrei-as as duas no jardim, com os meninos a brincarem, enquanto sacudiam as suas crinas primorosas. Já tinha ouvido da boca de Jessica as histórias mal contadas de uma pacificação qualquer entre as duas. Uma sedução, na minha opinião. Ontem namoravam no jardim. O tipo da Carris devia estar ao volante a engatar outra, ruiva, provavelmente. E elas decidiram constituir família, apoiar-se uma à outra, deixar os meninos ser irmãos, passar a perna ao fulano sem graça, que além de lhes levantar a mão, parece afinal não ter é graça nenhuma.

Foto: Sophie Calle

4 comentários:

Mimi disse...

Há pessoas que escrevem romances, outras tentam escrever e tu vives dentro de um!

BlueAngel aka LN disse...

Adorei este texto e qtuanto à história: cada um tem as suas razões.

Isabel Freire disse...

Mininas,
Pois o romance de hoje é: cabeçada da minha filha, sem querer, nas minhas mandíbulas, e pronto, além de ver estrelas, parti a ponta de 3 dentes caninos, mais de outro, e tenho dois em estado moribundo, a abanar. Ela ficou óptima, apesar da leve dor de cabeça. Isto de se ser mãe é mesmo uma actividade de risco, porra!!!!
Quanto ao insólito, WW, às vezes não há mesmo é pachorra, não é?
Bjs e espero que as mocadas que vamos dando com a cabeça, os dentes, as canelas e por aí fora,... só nos tornem mais fortes e bonitas (pelo menos por dentro) .
;)
PS: Vou ali acender uma velinha ao santo/a para ver se não fico desdentada e já venho.

Isabel Freire disse...

WW, obrigada, a sorte é que eu tenho muita sorte, dentro do género, e sou uma gaja optimista. Acho que vou conseguir manter-me 'dentada'.
Bjs