quinta-feira, 1 de junho de 2006

Paz, pão, habitação

Mais um artigo sobre a baixa da natalidade, muito centrado nas recentes medidas de incentivo anunciadas pelo Governo. Não há nada a fazer, é o sinal dos tempos - parece ser a conclusão geral dos especialistas ouvidos.

Sobre este cansativo assunto, digo que:

1. se não tivessse que pagar já 600 euros para ter as miúdas num infantário até às 17h00, talvez considerasse a hipótese de ter mais um filho - pelo menos as minhas hormonas assim o pedem. Será normal que a escola pública da minha zona abra às 9h00 e feche às 15h00, sem ter ATL ou prolongamento? Que tal criar uma verdadeira rede social para acabar com a autêntica roubalheira especulativa que se gerou nesta área? E mesmo pagando não há vagas!

2. serão normais os preços das casas, seja para arrendamento ou para venda? Uma família não cabe num T0 e somando a conta do infantário à conta da renda, já lá vai pelo menos um dos ordenados. Que tal regular de uma vez por todas o mercado imobiliário? Como é que o baixíssimo preço de construção é inflaccionado sei lá eu quantas vezes, ao ponto de um metro quadrado valer mais que uma barra de ouro?

3. é preciso não esquecer que uma família paga muito mais impostos indirectos. Porque quando eu encho o carrinho de supermercado de leite e de iogurtes e etc. e tal, quando tenho que renovar constantemente o guarda-roupa das crianças que insistem em crescer, quando lhes compro livros e brinquedos, sobre tudo isso pago IVA. Somos 4 e não um a tomar banho, somos 4 e não um a ir ao teatro, ao cinema. Ando de carro, consumindo a estupidamente cara gasolina, - será que conseguiria estar no infantário às 17hoo se apanhasse transportes públicos? Não - já fiz a experiência...

4. o IRS é mal calculado. Façam o favor de experimentar ver quanto pagavam de impostos se não tivessem filhos. Um casa onde entrem dois ordenados sem filhos é uma coisa. O mesmo dinheiro para sustentar quatro pode não chegar. Mas o Governo não concorda. Eu PAGO IRS apesar da brutalidade dos descontos mensais, apesar de não me sobrar nenhum ao fim do mês. Eu NÃO recebo abono de família. O Governo acha obviamente que eu sou rica.

TER FILHOS É MUITO CARO.

Chateia-me que esses doutos que escrevem nos jornais digam que não há nada a fazer e que é uma chatice e tal e coiso, porque as mulheres agora também têm carreiras e tal e coiso e que coitadinhas até são prejudicadas nos empregos e tal e coiso e que é um sinal dos tempos modernos e tal e coiso.

Se porventura me fosse dada a hipótese de gerir o meu próprio horário, trabalhando por objectivos e somando as mesmas horas ao fim do mês, teria a vida muito mais facilitada. E esta é só uma das muitas medidas que o Governo poderia tomar. Não sei se ajudaria a fazer crescer a taxa de natalidade. Mas ajudaria de certeza quem já tem filhos.

4 comentários:

mãe disse...

assino por baixo.

péssima disse...

Um dia conto a história de uns amigos meus que foram viver para inglaterra. Já vão no terceiro filho. E eu confesso que muitas vezes me sinto tentada a ir para lá também.

Mimi disse...

bora! para algum lado daqui para fora, mas bora!

ando tão cansada disto tudo e já nem me apetece refilar...

às vezes dá-me ideia que o governo considera os contribuintes um bando de criminosos.

e aquelas cartas de antologia que os serviços das finanças nos mandam?

como leio tudo com imaginação, ou seja, criando imagens, da última vez que recebi uma carta das finanças vi-me de costas para uma parede suja, de olhos vendados e mãos atadas, com uns senhores muito maus atrás de mim, a gritar qualquer coisa como "apontar, disparar!"

Anónimo disse...

este país não merece que se tenha filhos. nem unzinho.
lá em casa tb somos 4, "ricos" e fartos de pagar impostos.tb tenho para lá uma carta das finanças para responder... pq não vão chatear quem tem filhos em óptimos colégios/infantários com comparticipação máxima e excelentes carros à porta. não acredito que se ganhassem o que declaram conseguissem os ter lá mesmo com a comparticipação máxima. nós nunca tivemos comparticipação para nada. com o nosso rico vencimento mensal vai dando para "aguentar o barco". viagens e cultura vão ficando para dias melhores. acho muito bem que se comparticipem as despesas com os filhos, mas que não seja essa palhaçada que se vê. quem trabalha por conta de outrém, não só paga o seu como o de quem não precisa.