terça-feira, 13 de junho de 2006

É o delírio!

João Céu e Silva entrevista Margarida Rebelo Pinto, hoje, no DN.

São tantas as pérolas, de ambas as partes, que nem sei que excerto escolher... Pronto, decido-me por este, que surge no final, com a pergunta da praxe sobre literatura light:

"O problema é que a seguir a mim todos começaram a escrever - há 15 anos as mulheres queriam ser decoradoras e há 30 hospedeiras - e isso subverteu o mercado. Assistimos a esse fenómeno de multiplicação de margaridos e margaridinhas mas o que vai ficar é completamente diferente. (...) As pessoas acham que escrever livros é uma coisa muito fácil, mas há jeito, talento e génio."

Pois. As limitações de MRP não têm... limites. Um dos aspectos que João Pedro George destaca no Couves e Alforrecas, é precisamente o facto da criatura não conseguir descolar por um minuto que seja do seu próprio quotidiano. Caramba! Como é que eu nunca me tinha apercebido de que as mulheres sempre quiseram ser hospedeiras e decoradoras? Isto há coisas que só a malta com talento, jeito e génio é que descobre.

Depois também há a parte da modéstia. Já sabíamos que MRP era um génio da literatura, mas esta da invasão do mercado livreiro pela fast-reading ter surgido depois e por causa de MRP também me tinha escapado. E já que a conversa foi dar ao umbigo da autora, recuemos a uma pergunta anterior, em que MRP aproveita para nos dar a conhecer uma revolucionária reinterpretação da História de Portugal:

DN - Acha que perdeu com a polémica [em torno de Couves e Alforrecas]?
MRP - Perdi um bocado de paciência para os arrivistas. Não foi agradável nem fácil, mas estes fait-divers fazem parte da vida em Portugal, porque as pessoas têm comportamentos muito umbiguistas. Foram 50 anos...

Aqui está outra grande novidade para mim. Partindo do pressuposto de que a criatura se está a referir ao Estado Novo, manifesto desde já a minha total ignorância: é que eu achava que nessa época é que não havia crítica livre. Nem debate. A crítica ser um fait-divers também não deixa de ser um conceito interessante, bem como a enigmática relação disto tudo com o tal umbiguismo. Isto começa a ser informação a mais para a minha pobre cabeça.

Infelizmente o jornalista não nos ajuda a perceber seja o que for sobre todas estas inovadoras teorias. Felizmente é honesto e avisa-nos logo no início do texto que o facto de vender muitos livros "irrita os seus críticos" e que "por isso, entrevistá-la é um risco". Um risco, João Céu e Silva, é tentar fazer equilibrismo quando se sofre de vertigens. Uma entrevista é uma entrevista. Alguém pergunta e outro responde (ou não). Quanto muito quem corre riscos é o entrevistado. Se bem que o entrevistador também possa correr o risco de encher uma página de jornal com um monte de nada.

5 comentários:

Isabel Freire disse...

As couves são uma delícia. Li a 'coisa' do princípio ao fim, e só tenho pena que o crítico não possa fazer o mesmo exercício de desmascarar mais fenómenos light que entram pela porta e janela adentro dos 'portugueses e portuguesas', nomeadamente os discursos políticos, os discursos maritais, os discursos profissionais, os currículos de candidatos e candidatas a empregos de muita espécie, e os nossos próprios sobre a coerência entre pensar e fazer.
A MRP é de facto um caso extraordinário de como se pode fazer muita coisa a martelo, além do vinho.
Obrigada MM, por me emprestares o livro.
VW

Cristina disse...

Por isso é que o desemprego em Pt é aquilo que se vê!!! Não há vagas para tantas hospedeiras e decoradoras!

Mimi disse...

ehehehehe!
é isso mesmo, C!

Célia disse...

"além de que considero que escrevo pop", diz ela
O que eu gostava de saber é como é que a convidam para escrever um artigo numa revista de viagens e ainda por cima sobre o Código d' Avintes (ah! pois talvez não seja assim tão estranho). Eu é que talvez passe a comprar outra revista (pode ser o inicio de uma crónica crónica)

Mimi disse...

pois... e quando alguém resolver definir o que é escrita pop, leva com um processo em cima...