sexta-feira, 7 de julho de 2006

Suor frio

Esta imagem escolheu-me hoje de manhã. Vá lá saber-se porquê! Não tenho nenhuma vontade de desatar à pistolada. Não tenho motivos para puxar nenhum gatilho. Não tenho nenhuma arma em casa. Mas pensando bem, já brinquei horas sem fim aos polícias e ladrões. O meu pai sempre teve uma arma em casa, desde que me lembro (acho que já vos contei!). Vi-o uma vez guardá-la em cima do guarda-fatos (neste caso, guarda-pistolas também). Ele não me viu a vê-lo. E quando ficávamos em casa sozinhos, eu e o meu melhor amigo, saltávamos lá para cima, tirávamos o objecto com as mãozinhas finas e curtíamos mil. Há alguns anos, revelei-lhe a confidência e fiquei a saber que a coisa sempre esteve carregada, depois de lhe subir uma gota de suor frio do queixo à testa.
Esta semana, num sinal de trânsito, parei ao lado de uma carrinha com cinco tipos lá dentro, todos de uniforme da Câmara Municipal de Lisboa. Discutiam em voz alta, e às tantas, o motorista saca de uma 'bicha' igualzinha e aponta-a a um dos colegas. Eu lembrei-me daquela sensação do 'agora estás morto, agora morro eu'. E hoje, um amigo levou com um tiro de raspão de uma pressão de ar, enquanto comprava umas palmilhas no sapateiro. A coisa veio do nada, de um carro que passara na estrada e se escapulira no mesmo instante em direcção Norte, forte. Afinal, afinal, sempre fui eu que escolhi esta imagem. Se calhar ainda me apetecia o faz de conta dos agentes e foliões. Acho que a teria usado em pelo menos duas ou três circunstâncias semanais. Quando levei com o eléctrico 28 em cima da tromba do carro, à saída da creche, e sem culpa absolutamente nenhuma, apesar de um 'minha amiga, a culpa não é minha. O eléctrico não pára, a senhora é que não podia estacionar em cima do passeio'. Quando a máquina de pagamento do parque de estacionamento me engoliu o cartão, e tive de falar com 10 profissionais, até lhe desentupirem a garganta. Quando tive de acartar com uma cozinha às costas, sozinha, nos armazéns de uma grande superfície self service, e depois de horas, a porra do lava loiças estava amolgado. Enfim, nada de especial, mas a verdade é que este mundo anda armado, e eu às vezes bem me apetecia desatar aos tirinhos.

Imagem: Angels Last Dance

2 comentários:

Isabel Freire disse...

E já agora, lembrei-me de outra história. Um ex-namorado, alemão também (LOL), há cerca de 10 anos, viveu em casa de uma senhora muito particular, com uma via extra-ordinária. Além de ter sido miss portugal em mil novecentos e qualquer dezena, ter sido mulher de um homem muito rico e de um poeta muito pobre, perdeu dois filhos (um deles a jogar à roleta (fogo nem sei como isto se escreve) russa, num apartamento em Lisboa, com gente ilustre e endinheirada. Sei que é pouco plausível, mas é verdade.

Célia disse...

Era uma vez um menino com uns 9 ou 10 anos, agora já é um homem feito, mas só porque apontou uma pistola, que o pai guardava em casa, á mão e não á cabeça.
Cheio de sorte.