terça-feira, 4 de abril de 2006

“Fica Tolinha”

Antes de ser mãe, passei algumas horas, dias, séculos, a ouvir histórias da boca de outras mulheres acerca dos seus meninos e meninas, que cantavam tão bem, que diziam assim o otorrinolaringo, que corriam mais depressa que a maratona, que eram espertos e vivaços, e já isto e aquilo, e ainda mais, e daqui a uma hora idem, e o assunto virava o disco mas tocava o mesmo. Fazia-me confusão que a maternidade deixasse alguém sem capacidade de discernimento. Ora estas gajas até eram tão sãs, e agora não se enxergam? Encontram um indivíduo, ligam o motor, e ali ficam a falar sozinhas, a masturbarem-se numa ideia de prazer que transcende em completo o ouvinte. O mundo morreu-lhes. Estão defuntas de interesses para além dos seus meninos. Dos outros nada querem saber. Uma espécie de autismo.
Sempre que apanhei com este tipo de cassetes e estes leitores de fitas, disse para mim baixinho: Se alguma vez tiver um filho, porra, juro que não contarei estes episódios que não acabam nunca, sem cenas de suspense para o day after, até porque as crianças são todas diferentes, mas fazem todas cocó da mesma maneira – sentadas ou em pé, mais cedo ou mais tarde – importa para mim que sou mãe, mas não faz a mínima diferença para a minha amiga Rita, por exemplo. A palermice das mamãs – deve haver pais iguais, mas nunca me espetaram com uma seca – é que é basicamente igual.
Ora isto quer dizer duas coisas:
1. Que tenho amigas que foram mães mais cedo do que eu e sempre tiveram conta, peso e medida. Todas as pequenas grandes maravilhas dos seus filhos pertencem-lhes, curtiram-nas e partilharam-nas sem cegueira nem monocromia.
2. Que a minha filha anda a surpreender-me gigantemente, e isso pouco vos interessa. Mas aproveito uma daquelas dislexias que nós pais tanto adoramos, para resumir este post: “Fica tolinha”. “Fica tolinha” é o diminutivo de “Fica Tola”, expressão que no dicionário da raposa significa “Fita Cola”, e que no meu entendimento é muito bem esgalhada.
A maternidade é tantas vezes sinónimo de vazio, unilateralidade, obsessão, desinvestimento pessoal, que nos tornamos fitas colas, ou melhor, fica tolinhas!!!

11 comentários:

Isabel Freire disse...

Oh God, make me fool, but not yet! - Diria a Cidália...

péssima disse...

: )
eu sou tipo super cola 3, a fita tolinha já não me agarra.

Caiê disse...

Eu tenho um pimpolho com 40 graus de febre há mais de uma semana, há mais de uma semana que não come, e delira e tudo e tudo... e pronto, só vim aqui dizer isto.
AIIIIIIIIIIIIIIIIIII. Que será que ele tem???? Quero que se lixem os desgraçados todos com problemas que vejo na TV, quero mesmo é que o meu pimpolho fique normal outra vez.

Isabel Freire disse...

Caiê,
Eu lembro-me de ter febrões, delirar e até chegar às convulsões em miúda. Para baixar a febre de urgência os alemães enchem uma banheira de água morna, com quase um quilo de sal lá dentro. Uma vez fizeram-me e resultou. Além disso, o melhor são as toalhas embebibas em água fria - obviamente espremidas -, a embrulhar as pernas. O teu pimpolho está aqui está óptimo da vida! Até lá, boas melhoras!

putafina disse...

Caiê,
Os miúdos têm uma capacidade brutal de recuperação.
Em relação ao não comer podes ficar descansada que quando recomeçar é num instante que repõe o peso que perdeu. O meu, à conta de uma gastroentrite, até as bochechas foram para parte incerta. Depois, recuperou-as num par de dias.
Coragem MMãe, para lutar contra os MMaus febrões!

Célia disse...

nunca tinha pensado em min como uma fita cola, até porque sempre gostei de dar e ter espaço. Agora que tanta coisa mudou, fiquei tola e cola (nada mais apropriado).
Para a febre: muita agua, muito banho, muito colo, paracetamol e pediatra (não necessáriamente por esta ordem)

Mimi disse...

E agora algo completamente diferente:

Hoje trabalhei até tarde, com muito prazer! É Primavera e quando cheguei a casa ainda era dia. Gosto quando gosto do meu trabalho e não tenho que ir comprar leite e pão.

Marts disse...

É...estou tolinha até à medula...mas não consigo evitá-lo.

Caiê disse...

Afinal, é bronquite. Obrigada pelos conselhos.

Anónimo disse...

gosto de gostar

desde que me lembro de me lembrar
que me lembro em interesse
por todas as hipoteses de se ser sim

péssima disse...

Sim, ser-se sim é bom, mesmo que hipoteticamente.

Já eu nem sempre gosto de gostar, mas gosto de concretizar lembrares futuristas com interesses actuais.

: )