terça-feira, 11 de abril de 2006

Santa Apolónia

Santa, Santa Apolónia. Eu cá não sofro com a ventania da Gare do Oriente. Parece que quase 10 anos depois da Expo, vão finalmente construir uns abrigos para os que ali esperam, partem, chegam, deambulam. Porreiro. Mas eu prefiro a estação de Santa Apolónia. Era dali que, logo no primeiro dia de férias, a minha irmã e eu seguíamos para casa dos meus avós. Esperavam-nos os primos, mimos, tempo, atenção, prendas, pequeno-almoço na cama. Em troca, éramos obrigadas a ir à missa. A viagem de ida recordo-a mais ou menos interminável, mas a de regresso era muito pior. Só há pouco tempo electrificaram a linha a partir do Porto, graças a um acontecimento qualquer muito importante que meteu futebol. Depois começaram as viagens com os amigos, pela Europa. Partida de Santa Apolónia. Para não falar daquele memorável Sud-Express, tinha eu 9 anos e estava maravilhada por descobrir que o encosto na parede era afinal um Lego que se transformava em beliche.

Santa Apolónia sempre foi sinal de libertação de uma coisa qualquer. Da rotina (qual rotina?). Ontem fui deixar, mais uma vez, a minha mãe e as minhas filhas à estação do costume. Vão para casa dos bisavós e a MB já sabe que não fica bem adormecer na missa. Chegou sozinha à conclusão de que a bisavó vai à missa "porque gosta de estar muito sossegadinha durante muito tempo a ouvir padres". A história recomeça, agora com a linha electrificada até Braga. E os combóios já nem cheiram mal.

Santa Apolónia é a padroeira dos dentistas. Ou médicos dentistas, como a minha irmã insiste em chamar à sua profissão.

Fotografia de JOSHUA BENOLIEL

11 comentários:

Anónimo disse...

Once… recebi o seguinte telefonema: Partimos amanhã …!! A amizade era demasiada para contestações e respondi: Claro…! Para onde, já agora?!
Logo se vê foi a resposta q tranquilizou os meus 20 anos!!
Nessa altura ainda deixava o meu futuro em mãos masculinas… caf !caf! E Santa Apolónia era a porta de partida. Ou a gare mas na altura o meu universo era feito de portas (vejam-se as portas em “esposas e concubinas” filme q aliás continua a ser uma referencia).
Fui para Sta Apolónia com o mesmo espírito com que se vai a um restaurante: o que é que me apetece hoje ??
Assim se passou um mês, a viajar em tom de cardápio!! O entusiasmo ganhou o cansaço até ao ultimo round !! Inesquecível. Inesquecível a liberdade proporcionada pelo cardápio. Inesquecível a liberdade de Sta Apolónia !!!
Depois veio a gare do oriente, e sim o calatrava é muito bom mas esqueceu-se que isto de sermos um pais de sol é coisa só da publicidade externa. Não funcionou em muitos dos seus aspectos a não ser no facto de eu nunca sentir que estou em Portugal. No oriente (estação) tenho a verdadeira sensação de estar numa Europa da qual nunca gostei lá muito: impessoal e ventosa.
Das poucas vezes que lá fui apear pensei sempre no quão diferente deve ser O Oriente, o próprio. Penso sempre que quero lá voltar ainda que as minhas ultimas visitas tenham sido só mentais!!! 

Ainda assim, e não preterindo a Sta Apolónia gostaria de deixar um olá à ponte 25 de Abril. Que me deixa voltar. E isso … isso é bom !!!

Isabel Freire disse...

Às vezes vou passear a santa apolónia com a minha filha para ver os comboios. Gosto muito da ilusão da partida, quando não há partida nenhuma. Faz-me bem.
E as minhas memórias do grande filme que era a missa na aldeia dos meus avós são absolutamente importantes para compreender o sentido estético do sentido existencial da vida dos outros, por muito bizarra ou alienada que me pareça.
:)

putafina disse...

Da missa com os avós ficam para sempre dois momentos: O da hora da hóstia, pela curiosidade em relação ao seu sabor; e a hora de beijar a vizinha do lado, o vizinho de trás, e mais a da frente.
Sempre detestei, é que ainda por cima eram todos velhotes!!! Eu sei q tb vou sê-lo, mas prometo desde já não agarrar as criancinhas!!!
Ainda este fim de semana estivemos com a avó do 'my male' e na despedida vi o meu filhote contorcer-se com a repetição de beijos a que foi sujeito pela bisa...
A história repete-se, sim!

putafina disse...
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putafina disse...
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putafina disse...
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Caiê disse...

Excelente, a foto!

péssima disse...

Humm sim. Lembro-me bem dos beijos a vizinhos de banco. Deve ser por isso que agora não beijo com facilidade. E lembro-me das más acções que inventava para confessar qualquer coisa digna de castigo. E lembro-me de ir, com os meus onze primos, roubar hóstias ao armário do meu tio Abade, e bolos de areia à cozinha da Sra Teresinha, que ainda hoje toma ‘conta’ do meu tio Abade já reformado. Mas claro que esta não era uma acção que se levasse para o confessionário, ficava sempre guardada num dos meus cantinhos cerebrais.

Gosto da ideia do ir. Nunca gostei da palavra voltar apesar de a praticar mais do que devia, mas enfim. Quando vim para Lisboa, estudar, usava as camionetas, ou carreiras como era hábito chamarem-se. Estas demoravam cinco horas e meia contra as seis horas, ou mais, do comboio para além de ser mais barato. Eram viagens com conversas divertidas e eu gostava mesmo de viajar lá ao fundo, ao pé da janela traseira.

Em Santa Apolónia, uma vez, deliciei-me a ver a vida atarefada das ratazanas após as 10 da noite. São uns bichos engraçados. Quando eu era pequena agarrei uma, que estava doente, e levei-a para casa. A minha mãe não achou piada, hoje compreendo-a, mas na altura fiquei bastante triste.

Célia disse...

Trainspotting... choose life! e já agora enjoy the great outdoors! E diz não á dependência!! :)

Anónimo disse...

Lembro me de ter 15 anos e andar completamente apaixonada pelo padre, nessa altura vivia para ir a missa!! Bons tempos! Agora nem ponho la os pes, para nao ter que bater de frente com os sermoes dos padres.
A minha mae pensa que eu sou doida, por contestar muitos dos ideais catolicos, o meu pai nao diz nada afinal la no fundo ate concorda comigo!!!
Porque é que nos impoe uma religiao? Os meus filhos terao liberdade para escolher a religiao que querem seguir, nao quero que lhes aconteça como a mim

Mimi disse...

Péssima:
então foi em ti que se inspiraram os Pink Flçyd para aquela cena do The Wall?