quarta-feira, 10 de maio de 2006

1 X 2

A minha amiga C é filha única. Há quase três anos teve a M. Ontem pariu MR: "igual à M, mas com mais cabelo". C vive à rasca, como quase todos nós, mas não precisou de fazer muitas contas para decidir que não queria ter um só filho. Foi infeliz porque parece que os amigos imaginários nem sequer se dão ao trabalho de responder quando se fala com eles. C prefere abdicar dos pequenos luxos com que hoje os pais mimam os filhos únicos, para dar à M o que dinheiro nenhum pode comprar - UMA IRMÃ a sério.

Hoje o Público dá-nos conta de mais um relatório que indica que Portugal é um dos países da União Europeia que menos ajudam as famílias. Nada de novo, claro.

As estatísticas valem o que valem, mas são indicadores importantes. Neste caso, o estudo apresenta a média do que o país gasta e não o que os cidadãos recebem. Ora, eu não recebo um tostão de abono de família (devo ser rica, pois claro) e Portugal gasta 248 euros POR ANO, por pessoa, em prestações familiares. No topo está o Luxemburgo, com 1899 euros, mas o texto refere um exemplo concreto e muito elucidativo: um casal com dois filhos recebe no Luxemburgo 611 euros POR MÊS.

Contrariando todas as estatísticas que apontam para uma drástica redução da natalidade e envelhecimento da população, C tem agora duas filhas muito desejadas. Ah valente! Desejo-te, cara amiga e compincha, muita sorte para a complexa ginástica contabilística que te espera.

Foto: "sisters holding hands", de Carolyn Sandstrom

16 comentários:

Célia disse...

Apetece-me gritar e a seguir ir viver, não para o Luxemburgo que é muito perto, para a Austrália, Que raio de pais é o nosso!??

Célia disse...

uffff agora já me passou a fúria!
Também sou filha única e pari á menos de um ano o M e já estou cheia de vontade de conhcer o F ou a A, ou os dois (ainda no inicio da semana sonhei que tinha gemeos!!).
Parabéns grandes de uma C para outra!
e parabéns também para a MM pelos posts que tanto tenho gostado de ler!

putafina disse...

Imbuída do mesmo espírito gostava muito de avançar para a 3ª volta.
É preciso gajo para isso, coragem para aquilo e um pouco de "agora é arregaçar as mangas" para tudo!

Acho eu... mas quem sou eu?! :)

Já tenho saudades, muitas, de ter um bebé!...

Isabel Freire disse...

Tiro o meu chapéu a C!
Tiro o meu chapéu a muitas mulheres por aí fora.
Tiro o meu chapéu ao Luxemburgo e a tantos países com gestores de políticas coerentes.
Enquanto viver assim na corda bamba, sem emprego, patrão, ordenado fixo, já me dou por contente fazer o milagre de conseguir alimentar uma única filha. Se calhar quando a situação se resolver já será tarde. Não consigo arregaçar mais as mangas (apesar dos 25 euros mensais que recebo da segurança social pela minha descendência).

péssima disse...

Eu confesso que não teria coragem para ter outro filho.

putafina disse...

A sensação de estrangulamento, de estar sempre no fim do funil, de não ver luz ao fundo do túnel só pode ser contrariada pela sensação empírica de que os dias nunca são iguais! E que isso pode trazer algo de novo. Convém é não ficar a olhar para o céu, porque senão corremos o risco de ficar com um torcicolo.

Claro que isto está longe de ser suficiente, principalmente quando as contas se acumulam e os meninos não podem andar de botas no Verão (why not?).

A nossa missão é de longe a mais importante de todas - assegurar a renovação do mundo.
Só é pena termos por companheira a revolta, por sermos a última preocupação de quem está lá em cima a ditar as nossas vidas (estou a falar de São Bento... o diabólico Santo!), através de políticas inimigas da família.
Políticas que se curvam à passagem dos patrões que dizem às funcionárias: "Eu acho que as mulheres engravidarem é a coisa mais bonita do mundo, mas não resolvam engravidar todas ao mesmo tempo, combinem entre vocês"...

Eu já ouvi isto. Naquela empresa já combinava as minhas férias com um colega, em vez de conjugá-las com as do meu marido, mas decidir sobre a data de nascimento de um filho, acho que só mesmo de quem brinca ao "agora sou eu a fazer de deus".

É certo que estamos atrasados 30 anos em relação aos países mais desenvolvidas nestas matérias. Mas havemos de lá chegar.
Não vamos cá estar, mas as nossas filhas, ou netas, vão.

Cristina disse...

Ainda na semana passada "ganhei" uma despesa extra e inesperada que não vai desaparecer tão depressa...
Apesar de andar a invejar as barriguinhas grandes com quem me cruzo já disse ao meu respectivo: "Toca a usar preservativo porque sou uma desleixada com a pilula!"
Eu até estou disposta a combater a tendencia do envelhecimento da população... Mas é dificil!

Anónimo disse...

Embora ainda não seja mãe, (estou a tentar engravidar), tenho seguido o vosso blog, porque sinto-me uma mulher anónima: de cada vez que as minhas capacidades são ignoradas, de cada vez que penso que se engravidar as hipóteses de seguir uma carreira são menores! Não deixo de querer ter filhos, mas também não deixo de considerar injusto que em Portugal a mulher ainda tenha de fazer a escolha família/carreira, principalmente se tivermos a noção que uma carreira bem sucedida, traz beneficios financeiros, o que possibilitaria, em teoria, que o casal tivesse mais filhos!
Quando é que deixamos de ser super-mulheres e passamos a ser simplesmente MULHERES?? Cresci a acreditar que o mundo seria diferente daquilo que foi para a minha mãe. É diferente, mas não tanto quanto eu desejaria... Será que para a minha filha/o que há-de vir também será assim?
E como é que eu vou conseguir desenrascar-me com filhos se ontem, o coração parou-me quando o meu marido (sem papel passado:) ) disse-me que temos de pagar 600 e tal euros para obras no prédio?
As minhas perguntas: como, quando, porquê?... pensei que acabassem mais cedo, mas parece-me que vão continuar para todo o sempre!
Desculpem a extensão do comentário.. principalmente para a 1ª vez! Acho o vosso blog muito interessante! Continuem!

Violet

Mimi disse...

ena, obrigada, Taitai!

VW: teres outro agora, só se fosse por acidente, como me aconteceu a mim. quando engravidei da ML também tinha uma situação laboral altamente instável. Acabei por ser despedida por causa desta gravidez, lembras-te? se pensarmos muito no assunto, se fizermos muitas contas, achamos que não dá. Mas, a partir do momento em que se engravida do segundo, e se o quiseres mesmo ter, olha, há que dar a volta à situação!

pf: já não me espantam essas histórias. o imbecil que me despediu grávida também começou por dizer que a gravidez era uma coisa maravilhosa (fora da empresa dele, pelos vistos)

Péssima: tu já tens dois!

Anónima: aqui só há uma regra - é proibido pedir desculpa! escreve os testamentos que quiseres que faz bem à alma e nós gostamos de ler.

Longa vida a R e a MR! Que as duas desejadas bebés que nasceram com um dia de intervalo não venham a ter as mesmas dificuldades que nós para criar os seus próprios filhos.

Anónimo disse...

Olá,fiquei a saber de vós pela "Pais &Filhos",fiquei logo muito curiosa e vim espreitar.Sou mãe solteira e acreditem...sei o que é essa ginástica.
Hei-de voltar cá para conversar convosco (se isso for a "política"aqui).

Mãe Ana

Mimi disse...

olá mãe ana! bem-vinda! estamos aqui de ouvidos bem abertos! fala a sério, a brincar, ri-te, esperneia, grita, partilha, guarda só para ti...

mãe disse...

pois, pois, ginástica orçamental é favor, é mais contorcionismo e saber abdicar alegremente de muita, mas mesmo muita coisa, e ainda port cima não ver a nossa família reconhecida pela sociedade em geral e pelo poder politico em particular, em tudo, não só nos subsidios mas também nos horários de trabalho, nos preços proibitivos da habitação e dos carros...
por exemplo eu provavelmente não terei mais um ou dois filhos como gostaria e uma das razões que tem pesado muito nessa impossibilidade é o facto de não conseguir comprar um carro com mais de 5 lugares sem me enterrar em dividas que não consigo pagar - isto é ridiculo e perfeitamente inadmissivel, acho que seria uma proposta de lei muito viável, por exemplo, a isenção do imposto automóvel na compra de um daqueles carros de 6 ou sete lugares para familias com mais de tres filhos, mas sim, eu sou uma utopia com graves problemas em lidar com a realidade nacional...
:/

Mimi disse...

E só consegues enfiar 3 num carro normal se não precisarem de usar cadeirinhas... Porque se forem todos pequeninos, já não dá!

Caiê disse...

A questão económica é crucial, claro. E há outras, não menos cruciais.
Pessoalmente, como já expliquei (em comentários anteriores, vide "R-nasceu"), a minha experiência de maternidade é afectiva e não "de parto".
Não pretendo ter filhos MEUS porque não tenho condições. É criticável? Deve ser, porque não há um dia em que não me perguntem "Para quando um parto teu?". Para mais agora que o governo se lembrou que casal sem filhos é um atentado à nação...

Mimi disse...

Pois... presos por ter cão e por não ter.

Eu cá não critico opções (era só o que me faltava!), mas desmonto argumentos. O que é isso de não ter condições para ter filhos? Eu acho que ninguém tem condições para ter filhos. Quanto muito temos condições para ser avós...

Mas ainda em relação ao não ter filhos, segundo o que vejo, a opção não pesa agora - enquanto és nova - mas quando fores mais velha. As minhas amigas quarentonas que deidiram não ter filhos dizem-me que sentem o peso, principalmente nos empregos onde todas falam da vida familiar. É pior para as que fizeram abortos e que depois se sentem sozinhas e acham que deviam ter tido os filhos - como se ter filhos fosse solução para problemas de solidão... Enfim, é bem capaz de ser muito mais fácil para uma mulher ter filhos do que não ter. Aparentemente, uma mulher sem filhos é olhada pelas outras como alguém que falhou.

Mas este até era um tema que a VW já tinha sugerido para um dos nossos encontros: mulheres com e sem filhos. Temos que o pôr em prática.

Anónimo disse...

Olá Mães.
Bem,este tema das mães com e sem filho faz-nos andar em círculos.Tenho amigas sem filhos que apresentam as suas razões (muito válidas) para não os ter;tenho-me a mim...mãe com uma filha.As minhas razões?não tenho condições (disse qundo fiquei grávida e solteira)mas o que são condições?(perguntei-me,também nessa altura)Tenho um coração onde vai caber esta filha (é válida também,não é?).

Mãe Ana