segunda-feira, 15 de maio de 2006

Heroínas

Temos de pensar na mulher grávida como uma heroína e num nascimento como uma dádiva para o país.

A sociedade ainda não compreende que a mulher grávida é uma heroína.

Espera-se [para ter filhos] por uma idade em que a sociedade permita que a mulher engravide sem se prejudicar na sua carreira. Biologicamente a mulher deveria ter os filhos entre os 18 e os 25 anos, vá lá, 30 anos.

Não podemos em 2006 aceitar que o sofrimento no parto seja espiritualmente útil à mulher.

Agora sinto que há algo que começa a falhar no nosso mundo civilizado, que é o diálogo entre médico e a mulher. Acho que precisamos de regressar a Kos, a ilha de Aristóteles, o homem que criou a concepção da Medicina, e recordar que ele defendia que os médicos deviam conversar, deviam ouvir e deviam informar os seus clientes.

O que considero essencial é que nenhuma mulher possa ser prejudicada na sua carreira por ter um filho: tem é de ser premiada. Alguma coisa tem que ser feita.

Temos que mudar completamente a nossa mentalidade relativamente às mães solteiras e às mães jovens.

Fico doente quando vejo, no infantário que fica ao pé de minha casa, que aí uns 80 por cento dos que levam e vão buscar os filhos são as mães. Caramba, os homens têm melhor físico, podem transportar melhor as criancinhas.

Portugal enriqueceu muito nos últimos anos, mas a evolução das mentalidades não se fez com a mesma rapidez. Se eu pensar que em 1954 estive no Norte da Europa e já aí as mulheres não eram condenadas por interromperem a gravidez...

Nós não somos moralmente melhores que os suecos ou os finlandeses. Contudo, nós criminalizamos o acto, eles não.

Na Alemanha, qualquer rapariga que queira interromper uma gravidez é ouvida por uma comissão (...). Se a mulher quiser interromper a gravidez, interrompe, não é impedida, é apenas aconselhada. Muitas destas comissões estão ligadas à Igreja, o que levou até a que o Papa João Paulo II condenasse esse comportamento da Igreja alemã. Estas comissões ajudam muito, até nas situações em que as motivações são de natureza económica, pois podem colocar-lhe meios à disposição. Mas não criticam as mulheres, pois então não seguiriam o exemplo de Cristo, que perdoava toda a gente.

Excertos da entrevista* a Albino Aroso (o pai do planeamento familiar em Portugal) dada a José Manuel Fernandes (Público) e Joana Bénard da Costa (Rádio Renascença), ontem emitida pela 2: e publicada hoje no Público.

*sobre o encerramento das maternidades

12 comentários:

Isabel Freire disse...

Ando em fase de reflexão e muito trabalho. A minha resposta a este post está em cima. Atenção que falo POR e PARA mim, sobretudo. Todos os dias aquelas palavras fazem ainda muito sentido, infelizmente, ou melhor, fazem falta! São muitas coisas. É muito cansaço e bastante desencanto com várias entidades colectivas e individuais.
A minha sogra fez 3 mil quilómteros para fazer a visita protocolar anual à neta. Num dos episódios habituais caricatos, percebi que continua a fazer o que sempre fez ao filho: tratá-lo como uma criança, fazê-lo crer que não tem responsabilidade. Desta vez fiquei mais esclarecida, pois vi o filme em rewind. E acho que isto acontece a muito homens. Preocupo-me em não fazer o mesmo à minha filha.
A minha sogra continua a queixar-se do país em que vive, mas devia experimentar a 'sorte' do nosso.
Eu tenho liberdade para passar uma noite fora, não preciso dar satisfações a ninguém - ufa, essencial, meu caro watson - mas a verdade é que a liberdade mais decapitada nesta casa sempre foi a minha!!!

Célia disse...

Hoje liguei ao meu "marido" e disse-lhe que tinha marcado uma massagem para amanhã á tarde.
- está bem, pois eu disse-te que podias fazer isso! (o que ele queria dizer era que me disse para fazer isso, mas fugiu-lhe a boca para a verdade).
Eu respondi que tinha marcado cedo e que podia ser eu a ir buscar o M como habitualmente.
Acho que não percebeu ou então fui eu que não percebi!
E depois ainda me disse que no domingo combinou um almoço com um colega de trabalho, mais uma vez "Mmás live from Lisbon" adiado! Estou a pensar seriamente em fazer umas rifas...

Mimi disse...

likewise - a minha liberdade decapitada por oposição à do outro anda a enervar-me terrivelmente!

eu da sogra não me queixo - está longe. e, apesar de ser dona de casa, e de ter expulsado várias vezes o M da cozinha por ser "local impróprio para homens", acho sinceramente que a culpa não é dela. quando conheci o M, ele contou-me que em miúdo se revoltava contra esta divisão das tarefas e tal e tal e coiso. Acredito que tivesse sido verdade. Mas a verdade HOJE é que se não é solidário (é esta a palavra), se não é mais COMPANHEIRO a culpa é dele e só dele. já é crescidinho e sabe pensar pela própria cabeça. Já morou sozinho e este é o segundo "casamento" dele. não aprendeu nada?

Dá-me ideia que estou assim numa terceira fase. Primeiro irritava-me quando me diziam que tinha muita sorte porque o M me ajudava (e eu a ele, fosga-se!), depois comecei a chegar à conclusão que de facto tinha mesmo sorte (comparando com outras situações piores) e que o melhor era mesmo não me chatear com merdas, agora volto a achar que isto está tudo muito mal distribuído.

A questão é: se há compensação, se há compreensão, se há reconhecimento, se há boa disposição, a coisa passa. Havendo coisas boas, as coisas más passam-me ao lado. Agora, se há acusações infundadas, idiotas e mesquinhas, se o outro não olha para os seus próprios defeitos e se apressa a apontar o dedo para justificar as suas próprias falhas, a coisa muda de figura e passa a correr mal. Resumindo: havendo injustiça, passo-me da cabeça e ponho tudo em causa.

E depois são muitos anos, já. De que adianta aturar os momentos maus se não há evolução, se não há mudança? Às tantas, e depois de experimentar todas as estratégias, se eu MELHORO a minha atitude e o outro se recusa a pôr a sua em causa, devo eu continuar à espera de dias melhores?

A questão é: tudo está bem se eu não levantar ondas. A partir do momento em que eu estou descontente, a coisa fica preta - lá me vem colado o estatuto de maluca. Os doidos são sempre os outros, pois claro... E o equilíbrio familiar depende do MEU equilíbrio. O outro pode avariar à vontade, que cá está a mater familias para aguentar o barco.

e... taitai... foi a parte do que se ouve ou não, do que se percebe ou não, do que se pode ou não fazer por causa do outro, que me despoletou a irritação profunda...

Célia disse...

Ainda bem que pude ajudar MM, afinal despoletar a irritação profunda só pode ser bom, revejo-me completamente nesta "despoletação", nesta altura estou na fase "omelhorénãomequeixarparanãocriarumacrisefamiliar". Não é normal, não é aceitavél, mas é assim! Cada vez que abordo (tento abordar...) alguns assuntos que envolvam um maior compromisso em termos de tempo e assumir de responsabilidade sou imediatamente apelidada da "mulherdesiquilibradaemdepressãopóspartocomnecessidadeurgentedeaconselhamentopsicologico". Não é facíl, nem justo, nem nada...
Sou optimista por natureza, mas não está facil! O que me vale é uma certa dose de loucura...

Cristina disse...

Eu sinto-me uma sortuda!
Ainda no outro dia havia uma mãe que dizia que o marido nem no filho pegava! Até o filho nascer ele não fazia nada lá em casa... Agora faz só para se escapar a ter que tomar conta do bebé! :S (Não me espanto de haver homens assim! Espanto-me de haver mulheres que casam com homens assim!)
O meu gajo faz tudo cá em casa, faz tudo ao filho (menos dar de mamar!), não tem qq tipo de ideias que possam limitar a minha real gana, é lindo, inteligente e tem sentido de humor!
Sou ou não sou uma sortuda?

Mimi disse...

como te percebo, taitai...
o que já não se percebe é que os gajos em casa não percebam! ou que se recusem a perceber!

E se tentas que percebam... és maluca e há logo crise!

e depois já tento dizer as coisas cheias de paninhos quentes, com cuidado e tal, mas nem assim!

bem vistas as coisas, mais me vale avariar de vez e berrar que nem uma doida - se não adianta à mesma, sempre me sai do sistema.

AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Célia disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! Soube bem este blogrito!
E cláudia não tens um cunhado solteiro, divorciado, viúvo ou mesmo, e em ultimo recurso, casado?:))))

Mimi disse...

Sim, és Cláudia! Porque tens paz de espírito - só por isso e por mais nada. Porque na verdade o teu gajo faz o que lhe compete. Só isso! Mas eu já achei isso do meu -até ele começar aos poucos e poucos a fazer cada vez menos.

O meu (ainda) fica com as crianças (era o que faltava não ficar!), mas não acho que isso seja uma grande sorte - são ou não são pais das crianças, que diabo?!

Claro que basta ser ele a vestir as crianças para que saiam de casa com sapatos que já não lhes servem ou com roupa de inverno no verão. fosga-se, ele não consegue vestir-se a si próprio com roupa da época? porque é que não consegue vestir as crianças decentemente?

Quanto ao casar com tipos assim... acho que há muita coisa que só se descobre com alguns anos de convivência em cima. No meu caso, por exemplo, o desequilíbrio nas tarefas só começou depois de eu ter ficado em casa nas duas licenças de parto (já que estás em casa, tratas de tudo, percebes? ficam mal habituados. e depois tens duas opções - andar sempre chateada e a pedir-lhe para fazer as coisas, ou fazeres tu e não pensares muito no assunto). Na primeira o gajo foi óptimo. Na segunda (quando fiquei com duas para tratar) já não.

Mimi disse...

Ainda em relação ao vestir as crianças: a partir de dada altura recusei-me a atender o pedido de deixar a roupa pronta para as miúdas. o gajo que aprenda, caramba! cada uma tem um armário, já para prevenir que a mais velha saia com roupa que não lhe serve e a mais nova a puxar as calças para cima com as mãos (o que por incrível que pareça ainda acontece, apesar dos armários separados!). se me acontecesse alguma coisa como é que era? mandava-lhe um sms do inferno a dizer o que é que havia de lhes vestir?

querem ouvir uma das desculpas? que como sou mulher e como sou eu que compro a roupa, percebo mais do assunto!!!!!

Cristina disse...

Essa parte da roupa eu percebo! Uma vez ficou ele a vestir o filho entretanto meteu-o no ovinho e lá saímos para uma festa de anos... Quando tirei o filho do ovinho é que vi que não trazia sapatos e a camisola estava vestida ao contrário! :)

Cristina disse...

Agora a falar mais sério: tenho pena da mulher que casar com o meu irmão (que tem agora 16 anos). Ou ele muda radicalmente ou ela vai ter muito trabalhinho pela frente!
E a minha mãe é em muito culpada nisso. A mim desde que eu era pequena que me ensinou a arrumar as minhas coisas e progressivamente a ajudar nas tarefas de casa.
Já o meu irmão fica ofendido quando ela o manda fazer qq coisa e não faz o que lhe mandaram! É a minha mãe que lhe faz tudo.
É dificil exigirmos igualdade quando educamos filhas e filhos com responsabilidades diferente...

péssima disse...

Up side down...