sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

ET PHONE HOME

Ando a reunir provas de que a minha filha de três anos é alienígena. Ontem fomos ao Centro de Saúde por causa de um dedo indicador completamente infectado. À volta da bolsa de pus, pele esticada de uma vermelhidão que me doeu só de olhar.
Dói muito - garantiu-me a educadora. Mas é estranho... ela não se queixou. Só reparei porque ao lavar as mãos fez um esgar - explicou, onomatopeicamente.
Esperámos uma hora e meia entre putos fiteiros, doentes, dementes. Adultos gemiam moribundos e queixavam-se do SNS. Ela pulava entre as cadeiras. Lançava olhares lancinantes às velhinhas que lhe perguntavam se tinha dói-dói, como quem diz VAI TU. Retirou da letargia dos colos maternos dois putos que antes ali estavam quase às portas da morte. Correu de um lado para o outro. Carregou nos botões das máquinas. Espreitou debaixo das mesas. Deu-me mimimimiminhos. A mana mais velha também queria ter uma ferida. E chegou a nossa vez.
O médico avançou a medo. Sabe que os putos ficam embirrentos quando esperam muito tempo. Lá fora estava a população mundial a padecer de vários males. Ela mostrou-lhe o dedo, valente. Ele explicou-me com dó que a miúda teria que fazer tratamento. Dói - disse-me baixinho.
Nova espera na enfermagem. Novos pulos e jogos inventados. "Nós estamos primeiro" - a quem tentava passar à frente. Chega a nossa vez.
A enfermeira queixa-se de que já passou da hora de saída. Queixa-se da vida. Queixa-se. Ela observa as mutações faciais da criatura, serena. Sorri, minúscula. Desarma a enfermeira. "Não vais chorar, pois não?" - perguntam-lhe. VAI TU, pensa ela. A mana mais velha quer ver o tratamento e tenta agora impingir a quem a ouve vários ferimentos graves.
Desinfectam-lhe o dedo uma, duas, três vezes. Água oxigenada, betadine, betadine. E agora vais ficar quietinha. Tremo. A gaja vai picar o meu bebé com uma agulha enorme. A mais velha quer ver tudo. A gaja está nervosa, não tem a mão certa, vai magoar o meu bebé com a agulha. O meu ET não está assustado, está curioso. A gaja finalmente tira o pus com a ajuda da agulha. Nova sessão de desinfecção. E a miúda nem ai nem ui. Dói? A mim doeu-me.
Finalmente o prémio: o meu ET tem agora o dedo completamente ligado. A enfermeira já não se queixa e combina nova sessão. Pode ser amanhã às 17h?
Dói dóis assim tão vistosos não há todos os dias. A mais velha também quer um penso. Prometo pôr-lhe um, em casa.

16 comentários:

Isabel Freire disse...

Essa miúda não foi feita para sofrer! Parabéns. Tens um exemplar de valor!
:)

péssima disse...

No ano passado tive de levar os meus filhos desencontrados à rotina das vacinas, por questões escolares. Assim, o mais velho foi o primeiro, não fez grande fita mas quando chegou a casa parecia que tinham enfiado o mundo, o mundo não, o universo inteiro, no braço. Arrastava-se pela casa em ar de sofrimento, e andou assim até ao dia de calhar o ‘Dia da Vacina’ ao mais novo. No caminho, para aliviar a tensão, eu brincava com o facto do irmão ser um exagerado, que aquilo não custava nada, etc. etc.
A primeira vacina foi daquelas de colocar umas gotas debaixo da língua. Com ar de coragem comparativa o meu piolho acena um ‘não custa nada’. Depois veio uma de injecção, ele cerrou os punhos e os dentes mas não disse nada. À terceira, também de agulha, corria-lhe uma lágrima pela face vermelha e com a voz muito, mas mesmo muito tremida disse: Isto não custa mesmo nada pois não mãe!

péssima disse...

Ai, estes meus últimos comentários parecem saidinhos de uma qualquer secção da “Selecções Reader´s Digest”!

Isabel Freire disse...

vacina vacina... bem a minha preferida é aquela contra a cólera.
eheheheh
Acho que é ineficaz. Já a levei mas de vez em quando ainda tenho uns ataques!
:)

putafina disse...

O importante é que não surtes de vez, enquanto tiveres só os ataques até não é mau, pelo menos deitas cá para fora os maus fluídos e as toxinas da vida!!!

Mimi disse...

!!!!!!!!!????????????????
Confirma-se o pequeno ET. Íamos MUDAR o penso. o ET saiu SEM PENSO. Inexplicavelmente o dedo está curado. Não tem ferida sequer. Nada. Nem um vestígio.(banda sonora: twighlight zone)
!!!!!!!!!!!!!????????????

Isabel Freire disse...

MM, terás tu tb algo de extra-terrestre? Ou a filha não é tua, afinal!?
:)

Mimi disse...

ok... apanhaste-me.

péssima disse...

Convém preparar as coisas.
Era bom ter uma ideia de quantas mmas vão à próxima reunião para eu poder fazer os oculanónimus.

Já pensaram nos chavões dos cartazes?
Toca lá a ‘jornalar’ frases.

Ó mmádona por ondas tu catraia?
Olha que tu és a mulher dos paus arquitectados!

Lembrei-me dum nick mmas porreiro: mmamilus
(não tem nada a ver mas apeteceu-me).

Isabel Freire disse...

PSSM... mandei uma gargalhada de uns bons 30 segundos sozinha com os mmamilus!
:)
Obrigada.
E que tal apenas uma boa meia de vidro na cabeça?

Anónimo disse...

Estou no Brasil, descobri vocês por meio de uma mãe que visitou o delicioso MOTHERN, um LV frequentadíssimo por mães moderníssimas e muito divertidas, cheias de histórias para compartilhar.
Adorei a história da "menina ET", esses pequenos sabem se divertir como ninguém!
Há muito não vou ao meu próprio blog, mas quem sabe eu volto.
beijos

Anónimo disse...

Ai que orgulho que tenho desse etezinho, ou não fosse minha sobrinha!

Mimi disse...

caras visitantes do Brasil e de Macau: BEM-VINDAS!

Mimi disse...

Domingo dia 26 trabalho e só saio às 17h. Mas vou!

Isabel Freire disse...

MM, ainda a pensar no enigna do dedo étêóico/estóico da tua miúda, e a ver um site infantil recomendado pela Péssima, descobri que aquela coisa das lagartixas perderem a cauda, sem dor, e voltarem a reconstitui-la rapidamente tem um nome: AUTOTOMIA!
...hummmm pareceu-me relevante deixar-te nota da coisa...
:)
Um olá para todas as mmás de outros cantos do mundo!

Mimi disse...

A de Macau ainda é só tia!