sábado, 18 de fevereiro de 2006

Nota de rodapé...


"Never ever fuck with the person who prepares your meal..."
Quererá isto dizer que matrimónio, nos termos em que ainda se pratica, é mesmo, e por princípio, o fim do prazer? Ou apenas que o respeitinho é bem bonito, quando não há um cu de acção culinária?
Considerando ainda o pensamento Shut the Fuck Up... queria dizer que Não, Eu Não Compro Skip. A marca anda para aí com uma campanha muito pouco educativa, com o slogan "Em 1966 aprendemos a usar a máquina" e lá atrás a senhora dona de casa. Burros. Fidelizariam consumidores se tivessem dito: "Em 2005 ainda não nos mentalizámos que sujamos roupa e que a máquina cá de casa não trabalha sozinha". Obviamente seria necessário mudar o figurino!

VAI TU E O RESTO DA ROUPA BRANCA!

5 comentários:

péssima disse...

Never ever fuck with the person who prepares your meal????
Ó pá! Se sou eu que preparo as minhas refeições implica que não posso foder comigo mesma?????

Pois eu, enquanto senhora dona de casa, à boca da máquina não sei usar a a máquina. Será que é por não usar Skip? Haverá alguma conspiração?

Quanto à fidelização… ora, já me basta o casamento!
Mas se dissessem “Na compra de duas embalagens oferecemos serviço de engomadeira para um ano” o caso mudava de figura, mudava mudava!

Mimi disse...

não usas a máquina, péssima? mas que raio de marido é esse? aspira, lava roupa... de que marca é? quero um!

quando apareceram as máquinas de lavar roupa, a minha avó materna quis comprar uma, mas a criada ameaçou ir-se embora. Considerou que aquilo era uma ofensa e que não havia máquina nenhuma que lavasse tão bem quanto ela. E era verdade. Muitos anos depois começou a ficar cega e já muito velhinha deixou de trabalhar. Reconhecia-me na rua pelo cheiro e perguntava-me sempre se já comia melhor "ai, menina, não comia nada, a menina, exactamente como a sua mãezinha, que desconsolo". Era a Maria da Conceição, competentíssima.

Entrou uma empregada doméstica, e já não uma criada, precediada por uma máquina de lavar roupa e uma embalagem de SKIP. Esteve uns dez anos em casa da minha avó, até que ela descobriu que a Glória - assim se chamava - tinha metido baixa durante um mês para trabalhar noutra casa, exactamente na altura em que nós, as netas, lá estávamos, obrigando-nos a todos a almoçar fora todos os dias. À noite comemos sempre, mas sempre, bife com puré de pacote. Foi despedida sem apelo nem agravo, apesar dos choradinhos e dos dois filhos que a minha avó andava a ajudar a criar (a Glória já estava criada). Eu gostava da comida da Glória e de brincar com os filhos dela. Fazia as melhores torradas do mundo que nos levava à cama.

A partir daí foi um entra e sai de empregadas, todas muito reivindicativas e que já não gostavam da profissão. Até que chegou a Conceição, que tem carta de condução. Foi preciso muita lábia para convencer a Conceição a atirar-se às panelas. Agora já cozinha e até tem boa mão para o refogado. E agora que o meu avô não pode conduzir, é ela quem os transporta para todo o lado. A Conceição é empregada-motorista-amiga. Só me chateia a ladaínha constante de que tenho que baptizar as crianças porque senão vão para o limbo, "as pobres almas inocentes"! Já lhe expliquei que o Vaticano acabou com o limbo, por não ser justo as crianças pagarem a inconsciência dos pais, mas ela não parece convencida.

A Conceição não me leva torradas boas à cama, mas acha que eu como muito pouco e que não tenho boas cores "na aldeia não arranjava marido, menina".

Ainda se usa SKIP em casa da minha avó, que agora tem uma máquina de lavar e secar roupa, bem posicionada ao lado da máquina de levar pratos, mesmo à frente da bancada onde repousa o microondas. A Conceição só lá vai de manhã. A Maria da Conceição é que sabia - as máquinas, tornariam-na obsoleta, tão obsoleta como a palavra criada.

Mas o mais importante de toda esta história é que nunca a minha avó arruinou o verniz das unhas a lavar roupa, com ou sem SKIP. Não cozinhava. Não passava a ferro. E conta tudo isto com orgulho. Deu-me banho, contou-me histórias, penteou-me o cabelo, vestiu-me, fez-me sumo de laranja e torradas, deu-me a sopa à boca "come filha, come". Sempre apregoou aos sete ventos o seu ódio mortal a qualquer tipo de tarefa doméstica. E não era nenhuma intelectual nem nenhuma feminista emancipada - pelo menos assumidamente. Muito pelo contrário: sempre foi conservadora e muito religiosa. E esperta, muito esperta.

Há um retrocesso qualquer na minha história de vida. Eu não nasci do pó, pois não? Como é que isto me foi acontecer? Não tenho Conceição nenhuma que me ajude a manter o verniz intacto. Espero o final feliz apregoado pelas histórias da minha avó. Se não chegar a tempo, que toque às minhas filhas. Será castigo por não as baptizar?

péssima disse...

Eu, pelo facto de ter nascido por engano (distânciada das irmãs que me antecederam), livrei-me das aulas de bordado em máquinas SINGER. eheheheh

Mas tenho uma correcção de consciência a fazer: apesar de não saber lidar na totalidade com a máquina de lavar roupa, sou eu que a ponho a trabalhar, já não acontece o mesmo com a máquina de lavar louça onde, por decreto de harmonia familiar, fiquei proibida de mexer. Assim a louça fica matematicamente arrumada, e a roupa sistematicamente tingida.

péssima disse...

E que tal uma conferência:
“Espaço 2010 – Odisseia com máquinas”
seguida de workshops:
– Conheça as potencialidades da máquina
– Máquina ou mão?
– O gel vs granulado
– Como resolver a paragem da pré-programação
– E se um dia a máquina pifar? (debate público seguido de cocktail)

Isabel Freire disse...

...ainda bem que este fim-de-semana terminou!
Que cinzentaria! Só faltava mesmo as máquinas avariarem...
largarto, lagarto.
...lagarto